A VOZ DO EVANGELHO
Teólogo Valdeci Fidelis é um líder cristão, teólogo, escritor e conferencista brasileiro, conhecido por seu ministério focado na formação espiritual e teológica, com 21 obras em e-books disponibilizados no Google.Play/livros Valdeci Fidelis. Matricula 0826/2013 CFTPB.
O texto fornecido consiste em excertos de uma obra intitulada "BIBLIOLOGIA", possivelmente uma dissertação ou tese ("TCC"), que explora diversos tópicos teológicos e históricos. Aborda a Teologia Paulina e a possibilidade de ordenação de mulheres ao ministério pastoral, analisando passagens-chave como Gálatas 3.26-29, I Coríntios 11-14 e I Timóteo 2.8-15, e contextualizando-as com práticas culturais da época, como a poligamia e a escravidão, que Paulo tencionava transformar.
A obra também oferece comentários detalhados sobre diversos livros bíblicos, incluindo as suas chaves interpretativas e autoria, abrangendo tanto o Antigo Testamento, Gênesis, Crónicas, Ezequiel) quanto o Novo Testamento, e Romanos, Gálatas, Evangelhos). Além disso, são apresentadas profissões de fé de igrejas evangélicas, discute-se a história das igrejas cristãs e o surgimento de movimentos pentecostais, e explora-se a relação entre a fé cristã e o Estado, enfatizando a obediência às autoridades, desde que não contradigam a lei divina.
De que formas a teologia paulina aborda e ressignifica as normas culturais da época em relação à mulher, casamento e escravidão?
A teologia paulina aborda e ressignifica as normas culturais da época em relação à mulher, casamento e escravidão através do conceito das "duas eras": a era presente, dominada pelo pecado e pela rebelião contra Deus, e a nova era, inaugurada por Jesus Cristo com a Sua morte e ressurreição, que representa o Reino de Deus. A Igreja vive esta tensão entre as duas eras, precisando adaptar-se às culturas enquanto promove a transformação de acordo com os princípios do Reino de Deus.
1. A Teologia Paulina das Duas ErasPara Paulo, o acontecimento de Cristo – a Sua morte e ressurreição – é o centro da ação de Deus na história e marcou o início de uma nova era de salvação. Embora a era vindoura ainda esteja por vir, a sua eficácia e bênçãos já invadiram a era presente, permitindo que os crentes vivam simultaneamente em ambas. Isso significa que, em Cristo, há uma nova existência onde as velhas coisas passaram e tudo se tornou novo. O povo da nova era de Jesus Cristo é a Igreja, uma comunidade escatológica, que pertence ao futuro e goza de uma nova existência em Cristo, mas que ainda tem de conviver com as culturas, tradições e condutas da velha era.
2. Abordagem às Normas Culturais Específicas:
• As Mulheres e o Ministério Pastoral:
◦ Princípio de Igualdade em Cristo: Paulo proclama um princípio fundamental em Gálatas 3.26-29: "não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus". Este é um princípio doutrinário que, pelo seu valor, deve guiar as demais orientações. Esta declaração implica que, em Cristo, as distinções humanas de raça, meio social e género são rompidas e as pessoas são completamente niveladas e unidas.
◦ Adaptação Cultural e "Pedra de Tropeço": Apesar deste princípio de igualdade, Paulo, em outros textos como 1 Coríntios 11-14 e 1 Timóteo 2.8-15, parece impor restrições à atuação das mulheres na igreja, especialmente na área da liderança e ensino. Estas restrições são interpretadas como adaptações aos costumes culturais da época, que era fortemente patriarcal. O objetivo de Paulo era não criar "pedras de tropeço" para a pregação do evangelho, evitando que a igreja fosse mal vista pela sociedade e pelo Estado devido a desrespeito às normas culturais.
◦ Reabilitação e Transformação: No entanto, Paulo equilibra estas "subordinações" culturais com a reafirmação dos princípios da nova era em Cristo. Em 1 Coríntios 11.11-12, ele afirma que "no Senhor, nem a mulher é livre do homem, nem o homem livre da mulher, pois assim como a mulher veio do homem, assim também o homem nasce da mulher, mas tudo vem de Deus", restaurando o equilíbrio e a unidade. Em 1 Timóteo 2.15, a "salvação" da mulher (referindo-se à nova era em Cristo) concede-lhe um lugar reabilitado, devolvendo a mesma igualdade com o homem, de modo que na Igreja "não existe mais a superioridade masculina e nem a subordinação da mulher".
Prática de Paulo: Paulo também demonstra uma prática que combinava homens e mulheres em serviço, mencionando diversas mulheres em posições de trabalho significativo e até liderança, como Febe (diaconisa e líder), Priscila (cooperadora citada antes do marido) e outras que "muito trabalharam no Senhor", e há uma discussão se "Júnia" (Romanos 16:7) era um nome feminino e uma apóstola.
Conclusão Atual: O texto sugere que, à medida que as culturas e sociedades se transformam (como no Ocidente, onde a mulher conquistou direitos igualitários), as restrições paulinas ligadas a costumes culturais específicos perdem a sua validade, enquanto os princípios do Reino de Deus ("não há homem nem mulher em Cristo Jesus") permanecem.
Casamento (Monogamia/Poligamia):
Ideal Bíblico vs. Realidade Cultural: O ideal de Deus para o matrimónio desde a criação é a monogamia (Génesis 2.24). Contudo, na época de Paulo, a poligamia ou concubinato era uma prática social aceitável em algumas culturas.
Adaptação e Modelo de Liderança: Paulo lidou com esta "situação crítica fronteiriça" tolerando provisoriamente a poligamia para os novos cristãos convertidos, a fim de não criar dificuldades sérias à sobrevivência familiar. No entanto, ele estabeleceu um modelo para a liderança da igreja, exigindo que presbíteros e diáconos fossem "marido de uma só mulher" (1 Timóteo 3.2,12; Tito 1.6). Isso demonstra que Paulo "lançava as bases para conquistar o ideal ético bíblico" da monogamia no futuro.
Escravidão:
Princípio de Liberdade Divina: A Bíblia estabelece que todo ser humano é livre, criado à imagem de Deus (Génesis 1.27), e que o homem deveria dominar a natureza, não outros seres humanos.
Realidade Cultural e Abordagem de Paulo: A escravidão era uma prática universal e endémica na sociedade greco-romana e judaica da época de PauloPaulo, embora reconhecesse a liberdade como um valor superior vindo de Deus, não pregou abertamente contra a escravidão nem incentivou a revolta dos escravos.
Ressignificação da Condição: Ele aconselhou os escravos cristãos a permanecerem na sua condição se não pudessem obter a liberdade legalmente, mas ressignificou a sua identidade em Cristo: "pois aquele que foi chamado no Senhor, mesmo sendo escravo, é um liberto do Senhor; e assim também o que foi chamado sendo livre escravo é de Cristo" (1 Coríntios 7.22). Na prática, Paulo subverteu a ideologia da escravidão ao instruir um senhor de escravos, Filemom, a receber o seu escravo fugitivo Onésimo "não já como escravo, antes, mais do que escravo, como irmão amado". Embora não exigindo a abolição imediata da instituição, esta postura de Paulo introduziu uma "enorme tensão na escravidão como sistema social", que seria uma consequência da vivência dos princípios cristãos.
Transformação Gradual: Para Paulo, as distinções sociais eram ultrapassadas no relacionamento dentro da Igreja, mesmo que não pudessem ser evitadas na sociedade. Ele plantou sementes para uma futura transformação, afirmando que a fé cristã deveria ser vivida dentro dos contextos sociais existentes, mas com uma visão de que a salvação de Jesus trazia um nivelamento de todas as pessoas como irmãos.
Em resumo, a teologia paulina, enraizada na distinção entre a velha e a nova era, não visava uma revolução cultural imediata, mas antes uma transformação progressiva. Paulo adaptava-se aos costumes culturais para não "colocar pedras de tropeço" à evangelização, ao mesmo tempo que introduzia e enfatizava princípios superiores do Reino de Deus, como a igualdade em Cristo e o amor fraterno, que, a longo prazo, erodiriam as bases das normas culturais injustas, levando a uma nova postura da Igreja e, por sua influência, da sociedade.
O que é a teologia paulina?
A teologia paulina é uma abordagem teológica que tem como centro da ação de Deus na história o acontecimento de Cristo, especialmente a Sua morte e ressurreição. Para Paulo, este evento inaugurou uma nova era de salvação.
Ela é caracterizada pela distinção entre duas eras:
A era presente (ou contemporânea), que teve início com a queda de Adão, é marcada pelo domínio do pecado e pela rebelião contra Deus. É uma era assinalada pela maldade e governada por Satanás.
A nova era, ou o Reino de Deus, foi inaugurada por Jesus Cristo com a Sua morte e ressurreição. Embora esta era vindoura ainda esteja por vir na sua plenitude (o "ainda não"), a sua eficácia e as suas bênçãos já invadiram a era presente.
Neste contexto, a Igreja é vista como o povo da nova era de Jesus Cristo, uma comunidade que pertence ao futuro, gozando de uma "nova existência em Cristo". A teologia paulina reconhece que a Igreja vive numa tensão entre estas duas eras simultaneamente. Ela é uma comunidade escatológica, que pertence ao futuro, mas que precisa conviver com as culturas, tradições e condutas da velha era.
A teologia paulina propõe que os crentes vivam os princípios da nova vida em Cristo, que são os princípios de Deus vivo. Ao mesmo tempo, devem discernir, dentro de cada sociedade e cultura da era antiga, o que é bom e o que é mau. Este discernimento leva a Igreja a adaptar-se aos costumes locais e temporais, mas com o propósito firme de modificá-los de acordo com os princípios superiores da nova era em Cristo.
Em suma, a teologia paulina é a exposição dos novos fatos redentores focados no ato histórico da salvação em Cristo, que estabeleceu um novo tempo e um novo Reino de Deus, transformando a atitude e a vida dos crentes em meio às realidades culturais da era presente.
Quem é o autor da Bíblia?
De acordo com as fontes fornecidas, o autor da Bíblia é Deus.
Os textos explicam que, embora Deus seja o autor ou criador da Escritura Sagrada, os seus redatores foram seres humanos inspirados pelo Espírito Santo. Deus utilizou as Suas faculdades para que o que
Ele queria transmitir permanecesse registado por escrito para a posteridade, de acordo com a Sua santa vontade. Os livros bíblicos, no que diz respeito aos seus conteúdos, têm a sua origem no Espírito Santo, enquanto a sua configuração e os meios de expressão utilizados são assinalados pelos respetivos autores e pela sua visão conceptual.
Assim, a Bíblia é considerada um livro "divino-humano". Deus fala em linguagem humana através da Bíblia para que o homem possa entender, fazendo alusão a tudo que é terreno e humano, como rios, montes, mares, costumes e culturas.
O texto descreve que Deus se revela ao homem de um modo que o homem consegue perceber, e que Deus é descrito e age como se fosse homem para facilitar a compreensão das mensagens bíblicas.
Resumo sobre
1 fonte
O texto fornecido consiste em excertos de um trabalho académico ou livro intitulado "BIBLIOLOGIA (1).pdf", focado principalmente na Teologia Paulina e a ordenação de mulheres ao ministério pastoral. Discute textos bíblicos cruciais de Paulo (Gálatas 3.26-29, I Coríntios 11-14, I Timóteo 2.8-15) e a sua interpretação à luz das eras e das normas culturais da época. Aborda a história de várias igrejas, desde o seu surgimento com Jesus até denominações mais recentes, e explora conceitos teológicos como a inspiração divina das Escrituras, a formação do cânone bíblico, os sacramentos, a relação do cristão com o Estado, e a existência de Satanás. Além disso, apresenta análises detalhadas de diversos livros da Bíblia, incluindo seu propósito, conteúdo e autoria, com contribuições de vários teólogos e doutores em filosofia e letras.
Que concepções teológicas fundamentais emergem sobre a autoridade bíblica e o Espírito Santo?
As concepções teológicas fundamentais que emergem das fontes sobre a autoridade bíblica e o Espírito Santo são as seguintes:
Autoridade Bíblica
• Natureza Divino-Humana e Propósito: A Bíblia, ou Bibliologia, é um assunto introdutório e auxiliar das Escrituras Sagradas, que se destina a uma melhor compreensão por parte do leitor. É um livro divino que chegou aos humanos através de canais comuns, tornando-se "divino-humano" e a "Palavra Viva" (Jesus Cristo). O autor da Bíblia é Deus, e os seus escritores foram homens. Através dela, Deus fala em linguagem humana para que o homem possa entender, fazendo alusão a tudo que é terreno e humano.
• Inspiração e Inerrância: As Escrituras Sagradas, no decorrer de muitos séculos, registaram as revelações e atos histórico-salvíficos de Deus, presenciados pelo homem. A Bíblia é "divinamente inspirada" e proveitosa para ensinar. A inspiração divina significa que o Espírito Santo inspirou os redatores humanos. Os manuscritos originais das Escrituras Sagradas (Antigo e Novo Testamento) são considerados de "plena inspiração divina e na inerrância".
• Fundamento e Regra de Fé: A Escritura Sagrada é a "pedra angular do princípio da Igreja". É o fundamento da doutrina da Igreja de Jesus Cristo. É também a "única regra de fé suficiente e infalível da revelação de Deus em Seu propósito redentor e como norma para a nossa conduta aqui no mundo". A regra infalível de interpretação das Escrituras é a própria Escritura.
• Conteúdo e Organização: A Bíblia é uma coleção de livros do Antigo e Novo Testamento, escrita por mais de 40 autores ao longo de séculos. É composta por duas partes fundamentais, que dão testemunho do plano de salvação de Deus e estão interligadas. Jesus Cristo é o centro da Escritura, e o Antigo Testamento deve ser interpretado a partir d'Ele, pois sua principal função é organizar e testemunhar a vinda do Messias.
• Uso e Compreensão: A leitura regular da Escritura Sagrada é recomendada para conforto, aperfeiçoamento, orientação, advertência e enriquecimento do conhecimento edificante. A compreensão correta e profunda da Bíblia só é possível sob o efeito e atuação do Espírito Santo. Os apóstolos de Jesus estão incumbidos de interpretar a Escritura Sagrada através do Espírito Santo.
O Espírito Santo
• Natureza Divina e Função na Trindade: O Espírito Santo é a terceira pessoa da divindade. Ele é parte do Deus Trino, sendo "co-igual em poder e em glória e co-eterno" com o Pai e o Filho. A sua natureza divina e união com o Pai e o Filho são professadas no Credo Niceno-Constantinopolitano: Ele é "Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele que falou pelos Profetas".
• Atuação e Manifestação: O Espírito Santo foi enviado no Pentecostes para manter viva a automanifestação de Deus como ser trino: Pai, Filho e Espírito Santo. Ele revela Deus como Criador, Salvador de Israel, Reconciliador dos homens e Recriador. O Espírito Santo penetra todas as coisas, incluindo as profundezas de Deus, e é essencial para que os ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus interpretem a Escritura Sagrada em nome de Jesus Cristo.
• Regeneração, Santificação e Consolação: O Espírito Santo é o "regenerador, santificador, consolador das nossas vidas". Ele habita no crente desde o momento da conversão a Jesus Cristo. A fé é gerada pela Sua habitação em cada um. A atuação do Espírito Santo faz com que a renovação essencial do Homem e da criação se tornem possíveis, sendo conseguida no homem através dos sacramentos.
• Conhecimento e Orientação: Jesus prometeu aos Seus apóstolos que, através do Espírito Santo, receberiam mais conhecimentos sobre a natureza de Deus e o Seu plano salvífico. O Espírito Santo continua a comunicar novos conhecimentos à Igreja, mesmo que subtilmente referidos na Escritura Sagrada, como a doutrina da mediação salvífica para os falecidos. Ele conduz os crentes "em toda a verdade" e manifesta a vontade de Deus.
• Devoção e Não Entristecimento: A devoção para com o Espírito Santo deve ser dupla: negativa (não desonrá-lo) e positiva (honrá-lo). É fundamental não O extinguir pelo pecado mortal nem entristecê-lO por pecados voluntários, mas corresponder às Suas inspirações e dons. O alto valor e a necessidade de uma grande devoção ao Espírito Santo são cruciais para a vida espiritual.
• Dons e Unidade: O Espírito Santo distribui dons espirituais a cada crente "como quer", sem restrições baseadas no género, para a edificação, aperfeiçoamento e unidade do Corpo de Cristo. O batismo com o Espírito Santo, efetuado na conversão, introduz o crente no Corpo de Cristo. A fé no Espírito conduz à verdade e manifesta a vontade de Deus.