projeto educar Pesquisar este blog

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Formação Teológica do Bacharelado ao D.Th

 FORMAÇÃO TEOLÓGICA DE VALDECI FIDELIS

D.Th Valdeci Fidelis
Entendendo os Graus de Valdeci Fidelis

  • das.O que isso significa para Valdeci Fidelis?

Em resu

Quando Valdeci Fidelis concluiu um Doutorado em Teologia pela Fainte e um Mestrado e Bacharelado em Teologia pela Faculdade e Seminário Teológico Nacional de São Lourenço MG, isso significa que ele possui uma formação acadêmica robusta e aprofundada na área da teologia.

Vamos detalhar cada um desses graus:

Bacharelado em Teologia: Este é o primeiro nível de formação superior em teologia. Geralmente, dura entre 3 e 4 anos e oferece uma base sólida nos estudos bíblicos, história da igreja, doutrinas, ética e outras disciplinas teológicas fundamentais. É o ponto de partida para quem deseja atuar em ministérios religiosos, pesquisa acadêmica ou outras áreas relacionadas à teologia.

Mestrado em Teologia: Após o bacharelado, o mestrado é um grau de pós-graduação que permite um aprofundamento em uma área específica da teologia. Geralmente, envolve pesquisa mais intensiva e a elaboração de uma dissertação. Com duração de 2 a 3 anos, o mestrado demonstra uma capacidade maior de análise crítica, pesquisa e especialização.

Doutorado em Teologia: Este é o grau acadêmico mais elevado na área da teologia. O doutorado, como o de Valdeci Fidelis pela Fainte, exige uma pesquisa original e significativa que contribua para o conhecimento teológico. A conclusão de um doutorado (PhD em Teologia ou D.Th.) demonstra um alto nível de expertise, capacidade de investigação independente e contribuição para a área. Doutores em teologia geralmente estão aptos a lecionar em universidades, seminários e conduzir pesquisas avançadas.


O que isso significa para Valdeci Fidelis?

Em resumo, a formação de Valdeci Fidelis indica que ele é um teólogo altamente qualificado, com um vasto conhecimento e capacidade de pesquisa na área. Ele está apto para atuar em diversas frentes, como:

Docência: Ministrar aulas em cursos de teologia, seminários e universidades.

Pesquisa: Desenvolver estudos aprofundados e contribuir para a produção de conhecimento teológico.

Ministério: Exercer funções pastorais, liderança religiosa ou outras atividades que demandem um sólido embasamento teológico.

Consultoria: Oferecer expertise em questões teológicas para organizações ou indivíduos.

Sua trajetória acadêmica sugere um compromisso significativo com o estudo e a compreensão da teologia em seus níveis mais avançados.

domingo, 8 de junho de 2025

A IGREJA EM DECLINEO

 

Do livro de Tomás Halik - IHU. Falando teologia

Uma Igreja que buscasse hoje um projeto de restauração correria o risco de se tornar uma seita tradicionalista. A Igreja precisa de oásis de espiritualidade e de pessoas que consagrem sua vida aos seus cuidados, mas a Igreja não pode e não deve criar uma ilha de contracultura na sociedade.

O comentário é do padre italiano Gabriele Ferrari, responsável pelo Centro de Formação Permanente dos Padres Xaverianos, ex-superior geral dos xaverianos por 12 anos e ex-missionário em Burundi, ao comentar o último livro de Tomáš Halík.

O artigo foi publicado em Settimana News, 14-03-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o artigo.

Li com crescente interesse – embora certamente não seja uma leitura amena... – o livro “Pomeriggio del cristianesimo. Il coraggio di cambiare” [Tarde do cristianismo: a coragem de mudar] (Edizioni Vita e Pensiero, 2022, 275 páginas), de Tomáš Halík, que meu bispo me presenteou de Natal.

É um livro interessante que – como diz o subtítulo – tem como assunto a atual situação da Igreja, um tema que está hoje… quase na moda. São muitos os artigos que se fazem a pergunta sobre qual será o futuro da Igreja.

“Tarde do cristianismo: a coragem de mudar”, em tradução livre, novo

 livro de Tomáš Halík (Foto: Divulgação)

Halík se propõe a mostrar que as mudanças que ocorreram e estão ocorrendo são passagens históricas inevitáveis, porque estão inscritas na história. Portanto, não faz sentido se assustar e tentar voltar apressadamente para o passado.

Halík convida a Igreja a repassar a sua história e a ler nos acontecimentos em curso as indicações para o futuro empenho pastoral com um convite à esperança: a Igreja não está no fim, e a reforma à qual ela é chamada pelo Papa Francisco é o caminho para o seu futuro!

Saiba ler a mudança

Halík, teólogo, mas também sociólogo e psicólogo originário da República Tcheca, que hoje trabalha principalmente no mundo anglo-saxão, propõe uma maneira particular de interpretar a história, a kairologia. O novo termo – que vem de kairós – indica “a experiência hermenêutica teológica da fé na história” (p. 35), que recorda “a leitura dos sinais dos tempos” que se tornou práxis comum com o Concílio.

Partindo da constatação de que a nossa época não é uma época de mudanças, mas uma “mudança de época” (como afirma Francisco), Halík se propõe a ler nas mudanças atualmente em curso na vida da Igreja o rastro do desenvolvimento futuro e os novos compromissos da missão.

As mudanças atuais dão medo: as Igrejas que estão se esvaziando, a prática dos sacramentos que parece se apagar, os cristãos que abandonam, o desinteresse dos jovens e o desânimo dos educadores, as vocações aos ministérios ordenados e à vida consagrada que se tornam cada vez mais raras, a credibilidade pública da Igreja em declínio devido aos abusos e aos escândalos… são apenas sinais de uma crise e, ao mesmo tempo, de uma realidade nova que, nessa provação, vai ganhando forma na vida da Igreja.

Esses fenômenos não devem nos levar ao desânimo como se fossem sinais fúnebres. Na história de hoje, embora complexa, estão as sementes de um futuro que agora só podemos imaginar. Cabe a nós percebê-las e cultivá-las de forma positiva.

A jornada da Igreja

Não é minha intenção resumir aqui – e eu nem seria capaz disso – os muitos aspectos, termos e perspectivas que Halík aborda no livro, passando em revista as várias formas que a Igreja assumiu ao longo dos séculos. Quero apenas recolher aqui algumas observações e indicações concretas que emergiram da leitura para convidar quem quer compreender este nosso tempo a ler o livro inteiro. E vai perceber que vale a pena.

Acima de tudo, tenho que dizer uma palavra para explicar o título do livro, que certamente desperta curiosidade. O livro fala da mudança da fé e da religião ao longo de história bissecular da Igreja. Ele o faz distinguindo – o impulso vem da psicologia de C. Gustav Jung (cf. pp. 51–54) – três etapas na história do cristianismo: a primeira que ele chama de a manhã do cristianismo e é a era pré-moderna que corresponde ao tempo da chamada cristandade, quando a Igreja se estendia a tudo e a todos; a segunda etapa da história da Igreja, que ele chama de meio-dia, é caracterizada pela secularização progressiva, ou seja, pela emancipação das ciências e da política em relação à religião, essencialmente a era da modernidade; a terceira etapa é aquela que estamos vivendo, e que Halík chama de “tarde do cristianismo”, uma estação positiva (não nos esqueçamos de que, na linguagem bíblica, a festa começa na noite da véspera!) na qual o cristianismo está assumindo uma nova forma, aquela que nós podemos ver e que deixa muitas pessoas com muitas interrogações pesadas.

O tempo da cristandade já passou e acabou, está morto e sepultado, mesmo que existam cristãos, bispos, padres e fiéis que gostariam de ressuscitá-lo. A cristandade é sucedida pela modernidade, produto e fruto do Iluminismo europeu, um tempo de crise para a Igreja, em que a ciência e a política se emancipam progressivamente da tutela do magistério da Igreja, e os Estados modernos reivindicam sua autonomia.

Halík fala longamente e em detalhes sobre a “crise do meio-dia” no capítulo sexto do livro, significativamente intitulado “Escuridão ao meio-dia”. Nesse período, a religião e a fé sofrem um processo de secularização, enquanto o magistério da Igreja frequentemente se encontra em conflito com os poderes da ciência e da política. Essa etapa conclui-se idealmente com o Concílio Vaticano II, que – pelo menos nas intenções – reabre o diálogo com a ciência e com a política.

A crise: perigo e oportunidade

Nesse ponto, começa aquela que, para alguns, é uma nova crise, que é uma fase de transição e de amadurecimento, ao longo da qual a religião está mudando e assumindo formas novas, enquanto, para outros, está perdendo seus princípios.

Uma crise, portanto, mas que – como toda crise – envolve dois aspectos: perigo e oportunidade. Nessa etapa, vai desaparecendo um tipo de religião e de Igreja, enquanto está amadurecendo uma nova forma ou figura de Igreja, que ainda tem suas raízes na Escritura e na tradição, na espiritualidade e na missão, embora ainda esteja buscando a elaborando dia após dia os traços definitivos que só serão alcançados no último dia (natureza escatológica da Igreja).

Halík levanta a hipótese de que “a fé cristã alcançou a maturidade com a forma atual de religião e que as tentativas de empurrá-la para trás, para formas anteriores, são contraproducentes... O cristianismo como religio, encarnado na forma político-cultural da Cristandade, representa um passado concluído, e suas imitações nostálgicos levam apenas a caricaturas tradicionalistas. Nestes tempos em que mudam os paradigmas das civilizações, a fé cristã procura uma nova forma, uma nova morada, novos meios expressivos, novas tarefas sociais e culturais e novos aliados” (p. 62-63). Um caminho escatológico que, por sua própria natureza, ainda não terminou e só terminará quando “Deus for tudo em todos”, como escreve Paulo (1Cor 15,28).

O discurso de Halík atravessa todos os aspectos da religião e da cultura, da fé e da crença (doutrina), do religioso e do não religioso... também se torna complicado, mas vale a pena seguir o autor em suas argumentações, pois assim é possível descobrir que não estamos no fim, mas apenas em uma virada positiva do cristianismo, em que poderão ser recuperados – sem retrocessos inúteis e perigosos; pelo contrário, em sua plenitude – aqueles valores que outros acham que foram perdidos nesta passagem de época, para que a missão da Igreja se amplie e se aprofunde.

É nessa linha que se situa a reforma que o Papa Francisco laboriosamente está levando em frente, em particular o seu discurso sobre a sinodalidade, elemento constitutivo da Igreja que envolve a todos e a todas na missão em relação ao nosso mundo, uma reforma que visa a recuperar o rosto autêntico da Igreja em uma estrada que exclui um retorno para trás, mas oferece indicações para o futuro da vida da Igreja e também do mundo.

Novas perspectivas

Todos os 18 capítulos do livro são interessantes, nunca apenas teóricos ou “caídos de paraquedas”, pelo contrário, muitas vezes são deliberadamente provocativos, mas é perto do fim que o livro, quase como que para pagar sua dívida com a paciência do leitor, oferece algumas páginas que não deveriam ser lidas às pressas apenas para concluir o esforço. São páginas de uma clareza e uma perspectiva extraordinárias, que me abriram para a esperança e fazem do que desejemos fazer parte desse caminho.

Efeito de deformação profissional? Talvez, já que, em Burundi, eu lecionei eclesiologia durante anos (a eclesiologia do Vaticano II) a estudantes que, sempre que entravam na sala de aula, eu me perguntava se (e quanto) acompanhariam as minhas aulas de eclesiologia em francês.

Na minha opinião, os capítulos 15 (“A sociedade do caminho”) e 16 (“A sociedade da escuta e da compreensão”) são o ponto de chegada do livro de Halík e uma profissão de fé nesta Igreja de Jesus Cristo como ela está emergindo hoje.

Embora pareça justamente que a opinião pública – em geral – tem um olhar muito crítico e até sem esperança em relação à Igreja e à sua forma atual, Halík afirma que “a chave de todas as considerações sobre a Igreja é o paradoxo expressado por Paulo: ‘Nós temos este tesouro em vasos de barro’ (2Cor 4,7)”.

Depois de analisar muitos aspectos da crise contemporânea da Igreja, Halík identifica a “forma oculta à qual [a Igreja] foi chamada e que florescerá com base na nossa fé no fim dos tempos: aquele tesouro escondido em frágeis, empoeirados, lascados vasos do mesmo barro de que somos feitos, nós que formamos a Igreja” (p. 228).

O rio da fé saiu das margens do passado, e a Igreja perdeu seu monopólio; as instituições eclesiásticas não têm mais o poder de controlá-lo nem de discipliná-lo, mas “a Igreja, como sociedade dos fiéis, sociedade da memória, do anúncio e da celebração, no entanto, tem a missão permanente de servir a fé, e isso tanto com suas experiências históricas quanto com o poder do Espírito que habita e age também em vasos de barro” (ibid.).

Quatro conceitos eclesiológicos

Tomáš Halík vê na contemporaneidade quatro conceitos eclesiológicos aos quais é possível e necessário reconectar-se hoje, como bases sobre as quais é possível desenvolver a Igreja no futuro e para o futuro.

Eles devem ser mais aprofundados do ponto de vista teológico e inseridos na vida: a Igreja como povo de Deus peregrino na história, a Igreja como escola de sabedoria, a Igreja como hospital de campanha, a Igreja como lugar de encontro e de diálogo para o serviço de acompanhamento espiritual e de reconciliação.

- Acima de tudo, a Igreja como povo de Deus a caminho na história. É uma aquisição fundamental do Vaticano II, que conecta a Igreja de Jesus Cristo ao povo de Israel e a enraíza na história.

A Igreja, portanto, é um povo em movimento, lidando com as contínuas mudanças impostas pela história, um povo que é essencialmente escatológico, que só será plenamente uno, santo, católico e apostólico no fim de seu caminho, um povo no qual continuamente “se misturarão unidade e diversidade, univocidade e discórdia, santidade e pecado, universalidade católica e estreiteza e catolicismo culturalmente limitado, fidelidade à tradição apostólica e um labirinto de heresias e apostasias” (p. 232).

A história não é o céu, não é Deus, e nela não podemos evitar a tensão contínua entre o “já” e o “ainda não”.

A tradição eclesiástica distinguiu três tipos/situações da Igreja, a ecclesia militans, a poenitens e triumphans. Esquecer as diferenças escatológicas entre a Igreja terrena e a celeste já produziu no passado o triunfalismo e, hoje, uma nova forma patológica que o Papa Francisco não se cansa de denunciar e que chama com o termo de clericalismo.

- A Igreja como escola de vida e de sabedoria

Nos nossos países europeus, não domina mais a religião tradicional, nem mesmo o ateísmo, mas prevalecem o agnosticismo, o 'apateísmo' (indiferentismo) e o analfabetismo religioso. Com eles, embora numericamente menos importantes, estão o fanatismo religioso e o ateísmo dogmático que, em sua arrogância (“nós temos a verdade!”), não sentem mais a necessidade de buscar o Senhor.

A fé, ao contrário, é o caminho, o caminho da busca, enquanto o dogmatismo e o fundamentalismo, tanto religiosos quanto ateu, são becos sem saída, ou talvez uma prisão. Por isso, a Igreja, a sociedade cristã é chamada a se tornar uma escola, comunidade de vida, de oração e de ensino (como eram as antigas universitates medievais, nas quais vigora o princípio contemplata aliis tradere). Assim como nas antigas escolas, a disputatio é um elemento essencial, ou seja, a busca feita em conjunto, na qual se tenta chegar à verdade buscando juntos, em debates livres.

Para serem escolas de vida e de sabedoria, as comunidades cristãs deveriam, portanto, tornar-se lugares em que se procura unir a espiritualidade e a teologia, o diálogo e o cuidado espiritual. Assim deveriam ser as paróquias, os conventos, os movimentos.

A missão dos fiéis é redescobrir a presença de Deus nos movimentos da história “separando a fé do convencimento religioso, a esperança do otimismo e a caridade, da simples emoção. Educar para uma fé meditada e madura deve ter um aspecto não apenas intelectual e moral, mas também terapêutico: tal fé protege contra doenças infecciosas como a intolerância, o fundamentalismo e o fanatismo” (p. 234).

- O Papa Francisco gosta de usar a imagem da Igreja como “hospital de campanha”, uma imagem que deve nos acompanhar e inspirar nesta “tarde do cristianismo”.

A Igreja deve sair definitivamente do esplêndido isolamento que a caracterizou no tempo da cristandade e que tende a perpetuar ainda hoje. Ela deve entrar no mundo e se deixar encontrar nos lugares onde haja pessoas feridas física, social, psicológica e espiritualmente, para curá-las.

Existem feridas individuais e coletivas a serem curadas não apenas com as normas da moral, mas também com o potencial terapêutico da fé, com o evangelho da misericórdia, com a proximidade e a consolação.

Para diagnosticar as doenças, a Igreja se servirá da kairologia, a hermenêutica teológica dos fatos da história e da sociedade.

Além de fazer o diagnóstico das doenças do mundo, a Igreja deve tentar preveni-las o máximo possível, cuidando e limpando o terreno da sociedade, da família, da escola, do trabalho, ocupando-se da dignidade da pessoa humana, da justiça, da paz. A tarefa da Igreja hoje é empenhar-se na ecologia integral e na promoção da fraternidade e da amizade social (cf. encíclica Fratelli tutti).

- O quarto modelo da Igreja está conectado com a escola e com o hospital de campanha.

As estruturas atuais não são suficientes. A Igreja deverá multiplicar os centros espirituais, lugares de adoração e de contemplação, mas também de encontro e de diálogo, nos quais seja possível a todos os buscadores de Deus e da verdade (tanto religiosos quanto não religiosos, tanto cristãos quanto não cristãos) compartilhar sua experiência espiritual.

Hoje, muitos se preocupam com o progressivo desgaste da estrutura paroquial e gostariam de restaurá-la. Halík está convencido de que isso não adianta e não acha realista querer frear esse processo histórico, por exemplo importando padres do exterior; mesmo que um dia fossem ordenados viri probati ou mulheres, o processo de declínio das paróquias territoriais não pararia.

Escuta e diálogo devem ser oferecidos sobretudo aos chamados “nones”, pessoas que não pertencem a nenhuma categoria, não são ateus, não são crentes, mas estão em busca de um sentido/direção para suas vidas. Diante da crise da paróquia, não adianta e não funciona um projeto restaurador como o proposto por R. Dreher em “A opção beneditina, uma estratégia para cristãos no mundo pós-cristão” (Ed. Ecclesiae, 2021).

Uma Igreja que buscasse hoje um projeto de restauração correria o risco de se tornar uma seita tradicionalista. A proposta de “refugiar-se em um gueto, em um artificial parque arqueológico do passado diante da contínua necessidade de tomar decisões nas difíceis condições da liberdade e fugir da tarefa de viver na contemporaneidade é hoje uma sedução tentadora que aumenta a atratividade das seitas. A tempestade do medo ameaça a chama da fé, a coragem de buscar a Deus incessantemente de um modo novo e mais profundo” (p. 239).

A Igreja precisa de oásis de espiritualidade e de pessoas que consagrem sua vida aos seus cuidados, mas a Igreja não pode e não deve criar uma ilha de contracultura na sociedade.

Os discípulos de Jesus, antes de se chamarem cristãos, eram chamados de “o Caminho” (Atos 9,2). Hoje, a Igreja deve voltar a ser a “sociedade do Caminho”, deve desenvolver o caráter peregrino da fé para cruzar este novo limiar e acolher, escutar e compreender todas aquelas pessoas que procuram um sentido para sua existência: é isso que a preparação para o Sínodo de 2023-2024 está evidenciando (cf., por exemplo, o Documento sobre a etapa continental do Sínodo, n. 32-34, 38-40).

Comentário de Pietro, 14-03-2023

“A Igreja não pode e não deve criar uma ilha de contracultura na sociedade.” Frase-chave, na minha opinião. Esperemos que os novos antimodernistas entendam isso… A sensação é que o fato de ter confundido o “estar no mundo sem ser do mundo” com o “estar fora do mundo” é uma das causas da dificuldade que o ser humano moderno tem de se relacionar com a Igreja.

Leia mais

DESMASCULINIZAR AS LIDERANÇAS DA IGREJA A MULHER PODER SER PADRE E PASTORA


Texto: Pe. Matias Soares na integra com referencias 

 "A diocesaneidade é a possibilidade que nos é oferecida, a partir da forma sinodal da Igreja, para que todos que somos vinculados a esta pela nossa fé e pelo nosso batismo, assumamos as nossas responsabilidades para o bem comum e a salvação de todos. Assim o seja!", escreve o Pe. Matias Soares, pároco de Santo Afonso M. de Ligório de Natal-RN.

Eis o artigo:

O termo que é usado nas construções teóricas da eclesiologia pós-conciliar quando pretende-se falar das 'adaptações' dos ensinamentos conciliares às variadas realidades eclesiais da catolicidade é: “recepção”. Na América Latina, por exemplo, as proposições do acontecimento foram acolhidas e implementadas pelas Conferências de Medellin (1968); Puebla (1979); Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007). Com a leitura dos teólogos que desenvolveram a reflexão no pós-concílio, também podemos constatar essa questão posta. Mesmo sendo o único dos Papas deste período sucessivo, que não participaram diretamente do Concílio, nem como padre conciliar, nem como perito, Francisco assume constantemente com sua prática pastoral e ensinamento magisterial as prerrogativas conciliares, tornando-as contemporâneas e inseridas no contexto de uma Igreja que está no terceiro milênio duma Era Pós-cristã (cf. C. Dotolo, Teologia e Postcristianesimo).

No documento que é proposto pelo pontífice como carta programática do seu estilo pastoral e administrativo, ele já afirma que há a necessidade de “conversão missionária de toda a Igreja (cf. EG, cap. I). Temos que ler e rezar este capítulo! No seu número vinte e cinco o pontífice afirma o seguinte: “Não ignoro que hoje os documentos não suscitam o mesmo interesse que noutras épocas, acabando rapidamente esquecidos. Apesar disso sublinho que, aquilo que pretendo deixar expresso aqui, possui um significado programático e tem consequências importantes. Espero que todas as comunidades se esforcem por atuar os meios necessários para avançar no caminho duma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão. Neste momento, não nos serve uma ‘simples administração’. Constituamo-nos em ‘estado permanente de missão’, em todas as regiões da terra”. Para Francisco o primado do ser missionário da Igreja contém suas preocupações administrativas, mesmo tendo presente que quando assumidas tendo por finalidade a promoção da ação evangelizadora, essas últimas são legítimas e podem ter um lugar necessário no melhor desempenho das práticas pastorais, quando as estruturas estão a serviço da missão da Igreja.

A temática sobre o significado da diocesaneidade não pode ser tratada a partir de chavões do tipo: “temos que fortalecer o sentimento de pertença!” Isso é fala vaga e vazia de argumentos mais consistentes. Infelizmente, é comum fazermos uso destas verborragias sem conteúdo em nossas reuniões de sacristias, por causa da lacuna existente em aprofundarmos as “hermenêuticas teológicas” da história e das realidades eclesiais. Nos falta um trabalho pastoral mais artesanal. Algo mais embasado numa ‘antropologia integral e integrante’. Com considerações que envolvam mente, mãos e coração. Por mais, que os paradigmas tecnocráticos sejam fascinantes para alguns, que são tragados pela cultura hipermoderna, temos que assumir mais conscientemente que o caminho da ação pastoral da Igreja foi, é, e será sempre a humanidade. É urgente vermos o rosto e sabermos os nomes das pessoas. Mesmo tendo tantas ‘informações midiáticas’ sobre a sinodalidade, ainda não acolhemos os métodos do sínodo propostos por Franscisco, que tem uma base teológica fantástica. Seria importante revisitarmos a teologia trinitária, principalmente a construção teórica feita a partir da “Pericorese”. Há muito tecnicismo e pouco discernimento, porque nos falta abertura à escuta do que o Outro fala e – Deus e o próximo - nos ensina para que possamos fazer a “leitura dos sinais de cada tempo” e, assim sendo, avancemos permanentemente para águas mais profundas (cf. Lc 5, 1-11).

Sem dúvida, pela sua incipiência, ainda não foi abordada a temática da diocesaneidade, a partir da ‘recepção’ da Praedicate Evangelium – Proclamai o Evangelho - (cf. Mc 16, 15; Mt 10, 7-8), que é uma Constituição Apostólica sobre a Cúria romana e o seu serviço à Igreja no mundo. Todos precisamos lê-la e adaptá-la as estruturas curiais das Igrejas Locais. Nela, o Papa afirma que “a Igreja cumpre o seu mandato, sobretudo quando testemunha, por palavras e por obras, a misericórdia que ela própria gratuitamente recebeu. (...) Assim fazendo, o povo de Deus cumpre o mandamento do Senhor, que, ao pedir para anunciarmos o Evangelho, instou-nos a cuidar dos irmãos e irmãs mais frágeis, doentes e atribulados” (cf. PE, 1). A Igreja, como está na imagem posta por Francisco deve ser um ‘hospital de campanha’. Essa metáfora é formidável num contexto histórico, que ainda usada antes da pandemia, ganhou profundo significado, já que as sequelas existenciais, estruturais, econômicas e sociais estão fervilhando a ordem sistêmica do contemporâneo. Há membros da Igreja que ainda estão a sonhar com um estilo eclesiástico da cristandade, no qual os elementos culturais tinham as marcas identitárias por aquilo que a Igreja definia como valor ideal e de processos de vida. Com as reviravoltas epistemológicas e, com estas, também das conjunturas sociais, portadas pela modernidade, a própria Igreja necessitou de assumir o propósito de estar em constante ‘reforma’, sem renunciar ao essencial que é a sua Tradição Viva (cf. 1 Cor 11, 23-26; 15, 3-8). Essa tradição “é um movimento de constante recontextualização e reinterpretação; estudar a tradição é procurar continuidade na descontinuidade, procurar identidade na pluralidade de fenômenos sempre novos que surgem no processo de desenvolvimento. Nesse processo de transmissão, a fé surge como um fenômeno dinâmico e mutável que não pode ser espremido nos limites de uma definição estreita” (cf. Tomás Halik. “O entardecer do cristianismo”, pág. 30-31). A vitalidade da Igreja sempre esteve sustentada nesse dinamismo testemunhal, com os elementos essenciais da existência das comunidades cristãs, que no tempo e no espaço, foram professando a mesma fé, tanto pessoalmente, como eclesialmente.

A construção da eclesiologia contemporânea sobre a diocesaneidade tem a ver, não só com a construção subjetivista do sentimento de pertença; mas, considerando a sua relação com a temática da sinodalidade, precisa assumir a ‘reforma das estruturas eclesiásticas’, tendo em vista a missão única e universal da Igreja que é a de Evangelizar (cf. EN, 14; EG, 19; PE, 2). Essa transformação das suas organizações e canais de gerenciamento exige um processo, que já no Concílio Vaticano II foi proposto e que gradativamente vem sendo assumido pelas urgências que são postas mais velozmente com a passagem da modernidade para a pós-modernidade. Na Praedicate Evangelium é acentuado com clarividência, e com reconhecimento histórico, por Francisco o seguinte: “É no contexto da missionariedade da Igreja que se insere também a reforma da Cúria Romana. Foi assim nos momentos em que se sentiu com maior urgência o anseio de reforma, como no século XVI, com a Constituição apostólica Immensa æterni Dei de Sisto V (1588), e no século XX, com a Constituição apostólica Sapienti Consilio de Pio X (1908). Celebrado o Concílio Vaticano IIPaulo VI, referindo-se explicitamente aos desejos expressos pelos Padres conciliares, organizou e implementou uma reforma da Cúria com a Constituição apostólica Regimini Ecclesiæ universæ (1967). Posteriormente João Paulo II, sempre com a finalidade de promover a comunhão no organismo inteiro da Igreja, promulgou a Constituição apostólica Pastor Bonus (1988). Em continuidade com estas duas reformas recentes e agradecendo o serviço generoso e competente que tantos membros da Cúria, no decurso do tempo, prestaram ao Romano Pontífice e à Igreja universal, esta nova Constituição apostólica pretende harmonizar melhor o exercício atual do serviço da Cúria com o caminho de evangelização que a Igreja está a viver, sobretudo nesta época” (cf. PE, 3). A leitura e atento estudo desta constituição, sem dúvida, pode ser uma referência magisterial para o aprofundamento do significado do reordenamento das estruturas eclesiásticas, tendo como maior e genuína preocupação a atividade da Igreja que é a de anunciar o Evangelho.

Diante do exposto, cabe a pergunta: As estruturas eclesiásticas das Igrejas Locais estão cumprindo seus objetivos? Elas existem e estão a serviço de todos, ou nelas existem mais burocracia e fofocas de corte do que vias que facilitam o processo missionário? Nelas estão os clérigos de “unhas sujas” – imagem usada por Francisco para se referir aos carreiristas e burocratas do sagrado – com suas ambições e perversões éticas? O seu modo de operar é lobista, autoritário e sem transparência de ações e projetos de poder? Há a consciência de que o que compete a todos, também precisa ser tratado por todos e depois assumido por todos? O estilo sinodal lançado por Francisco, com suas bases teológicas já no Concilio Vaticano II, vem colocar em discussão essas e tantas outras questões que precisam e precisarão de respostas do povo de Deus e para este, em sua catolicidade. Para que o processo de revitalização e aprimoramento da diocesaneidade seja levado a bom termo, as forças vivas – estruturas, pastorais, movimentos, ministros ordenados, sujeitos eclesiais – das Igrejas Particulares devem assumir propósitos, perspectivas e ações evangelizadoras bem direcionadas e visando um mesmo fim, que é o anúncio da pessoa de Jesus Cristo, com suas palavras e atitudes, buscando a concretização do Reino de Deus já, aqui e agora.

Com a proposta sinodal a diocesaneidade, vai ganhando força e envolvimento de todo o povo de Deus a condução das ações da Igreja para que ela possa ser sacramento universal de salvação para todo o gênero humano e realidade atenta aos problemas e sofrimentos dos que dela fazem parte no hoje da história, como também dos que não são inseridos, mas tanto quanto são filhos e filhas de Deus (cf. GS, 1). Tudo deve acontecer do universal ao particular, mas também do particular ao universal. Aqui, sem dúvida, alguns temas transversais deverão ser retomados e atualizados, a saber: A teologia sacramental, especialmente a da relação entre a da relação entre o sacramento do batismo e o da ordem, a Igreja universal e a Igreja Local, o ministério dos Bispos e o do Sucessor de Pedro, que assumindo a preocupação de João Paulo IIFrancisco afirma que é necessária também a “conversão do Papado etc.

Ainda, e já concluindo, cabe também instigar uma reflexão sobre a relação entre a importância da paroquialidade, neste desenrolar do fortalecimento da diocesaneidade. Mesmo que consideremos todos os outros meios e estruturas de canalização do Evangelho, continua a ser na paróquia o lugar da vivência da fé e experiência eclesial da maioria dos fiéis (cf. EG, 27-29). Francisco apresenta orientações importantíssimas para que nos sintamos ainda mais convictos destas prementes reorganizações para que o mistério da Igreja, como Corpo Místico de Cristo, seja acolhido na fé e permaneça testemunha no amor. Assim como as demais estruturas, ela também deverá assumir a mudança dos seus programas e práticas pastorais, considerando a mudança de época e época de mudança na qual todos estamos envolvidos. Na esperança de abrirmos caminhos de diálogo e enriquecimento das discussões eclesiológicas, nos conversamos que num mundo tão marcado por guerras e divisões, os mecanismos de comunhão, participação e missão, podem e devem ser valorizados por cada um de nós. A diocesaneidade é a possibilidade que nos é oferecida, a partir da forma sinodal da Igreja, para que todos que somos vinculados a esta pela nossa fé e pelo nosso batismo, assumamos as nossas responsabilidades para o bem comum e a salvação de todos. Assim o seja!

Leia mais

Teologia Urbana. Artigo de Matias Soares