Discurso do Pastor Paulo Siqueira
A IGREJA BRASILEIRA PRECISA RECUPERAR SUA IDENTIDADE
Boa noite a todos, tenho a partir de agora poucos minutos para disperta-los para uma grande preocupação: a renovação da igreja desafiada constantemente pela modernidade.
A igreja não é um fim em si mesma. Ela está a serviço do reino de Deus, da evangelização, do anuncio da Boa-nova de Jesus Cristo. Isto quer dizer que uma autêntica revisão da missão da igreja remete sempre a Jesus. Em épocas de crise, é ainda mais necessária a referencia continua a Jesus Cristo. Seguir fielmente o caminho percorrido por ele é indispensável para que a igreja possa superar, evangelicamente, os graves impasses com que hoje se defronta.
Pontos de Crise
1) – Sabemos que uma das graves deficiências é precisamente a precária apresentação de Jesus Cristo e da boa-nova por Ele anunciado e vivida. Por isso mesmo, o povo evangélico vem sofrendo uma “fome crônica” do Evangelho. A rica religiosidade de nossa gente não é suficiente para matar a fome, nem saciar a sede da palavra viva de Deus. Mal alimentado com o leite ralo, de uma evangelização frequentemente superficial e fragmentada o povo encontra-se sub nutrido, também em relação ao alimento da palavra de Deus. As pregações são apresentadas com uma orientação cristológica inadequada. Apresenta-se um Cristo distante, perdido num emaranhado de palavras e de idéias incompreensíveis, trata-se de uma apresentação incapaz de “tocar” o coração das pessoas e incapaz de provocar uma verdadeira conversão pessoal e comunitária. Pois o Cristo apresentado é primeiramente religioso, desvinculado da vivencia cotidiana, da história do povo.
“ Com isto temos uma igreja perdida em sua identidade”.
Muitos estão a perguntar o que é a igreja?
Esta é a questão não resolvida para o protestantismo, desde os dias da reforma.
Para muitos a igreja é :
- casa de oração;
- casa de entretenimento;
- clube social;
- partido politico;
E hoje para muitos, um pouco de tudo isto, pois a igreja se tornou uma casa de show.
Por conta da perda da identidade a igreja se distancia de suas essências e de sua história. Hoje a igreja é gerida por fundamentos muitos mais externos que internos, com isto ela é mais mística, mais magica, que espiritual. Pois se utiliza de artifícios casa vez mais profundos no sentido do entretenimento, pois tudo gira em torno do “show”. Isto é fruto do gospel americano. Os brasileiros assim como em todo o mundo evangélico foram levados por está “onda”, em meio a está crise de identidade. O gospel americano tem sua história, poucos foram os lideres que foram buscar as bases deste movimento, com isto tudo o que recebemos foi uma avalanche de mudanças que foram desastrosas para nossas bases históricas. Com o movimento gospel nasce formas de cultos que transforma o cenário religioso do pais. A igreja ganhou força na música, e a liturgia se transformou, pois outros elementos foram acrescentados. Nasceu a figura do líder de louvor, dividindo a liderança do culto juntamente com o pastor. Com o tempo o pastor passou a ser mais um no culto, pois com a explosão gospel a música se tornou o grande foco. A pregação da palavra ficou em segundo plano. Com o gospel surge o segundo ponto de crise: o pastor profissional.
2) – A igreja como sujeito da história não quis ficar para traz na modernidade. Com o avanço do gospel, elementos de religiosidade se tornam produtos, a música, o fiel, o culto, o sagrado, todos são elementos a serem explorados, pois o gospel dá a igreja elementos para concorrer ao mercado religioso. O gospel transforma a igreja em mercado, e um mercado muito lucrativo, e pouco explorado. Com este mercado a vista nasce a figura do “pastor profissional”, ou seja o homem de Deus capacitado para orientar e administrar este mercado.
O que muitos não esperavam que com este mercado a igreja sofreria grandes transformações. Pois com isto nasce a igreja como entretenimento, com uma roupagem nova, “mais moderna”. O gospel trouxe a linguagem comercial para a igreja, e com isso a igreja além de ser uma fonte de entretenimento também se tornou comercial; Os fieis agora são clientes a serem conquistados, a serem alcançados pois cada cliente novo é sinônimo de crescimento. As igrejas ganharam metas a serem atingidas, e o que era um sacerdócio agora é um mercado. Com isto nasce a igreja para divertir.
É o evangelho para divertir, é o evangelho da vitória, é o evangelho do milagre, da benção. Todo o discurso vem de encontro ao “cliente”. Tudo é produzido para o lazer e nada melhor do que a música para este lazer ficar completo.
Com isto a igreja evolui fora do religioso, temos o nascimento de um dos pontos mais sérios dentro da crise de identidade do cristianismo brasileiro. Com tantas transformações nasce a secularização, pois o secularismo ensina a igreja que não há limites para se atingir seus alvos. Temos assim uma igreja pragmática, materialista, consumista, e acima de tudo sem definição, sem forças para definir o que é sagrado, o que é profano. O materialismo faz com que a igreja perca seu referencial humano. Pois o humano é uma pedra para quem quer avançar no contexto da competição, pois o mercado é desumano.
O amor ao próximo retorna ao mero discurso. O sagrado só tem significância na mediação do espetáculo religioso.
O duo consumo-entretenimento, é o aspecto conformado da cultura do mercado. A igreja agora é casa de “espetáculo”, é preciso consumir, mais também ser feliz, ser vitorioso, e com isto vem a busca desenfreada pelo material. E isto é conquistado com desafios materiais, ou seja quando mais você der, mais Deus vai te retribuir. Igreja, culto, música, pastores, bíblias são hoje fontes de mercado, e todo contexto transformou cada elemento do culto em um produto de consumo, neste imenso fest-food da fé, a barganha é a moeda de troca para aqueles que querem ser felizes com Jesus.
Nasce o culto aos números, a aparência, aos elementos materiais. Pois um povo vencedor com Jesus, tem dinheiro, se veste bem, tem bons carros, mora em um bom imóvel, se fica doente Jesus cura, pois tudo é vitória em Cristo, desde que você esteja sempre com algo as mãos para “barganhar” com Deus.
Com isto os números são importantes, pois o povo, os ouvintes são consumidores do mercado gospel. Sem perceber a perda de identidade, os pastores profissionais transformaram suas igrejas em uma “franquia” do céu.
O cristianismo verdadeiro, essencial, com sua história, ficam no passado. Agora temos uma nova igreja. A igreja mercantilista contemporânea. Com o avanço do gospel, também temos o avanço da teologia da prosperidade, que se tornou o discurso do mercado gospel.
Nasce assim a igreja movida pelos teles pastores, e seus produtos para a felicidade, são livros, cds, óleo, e até homens e mulheres a sem conquistados como produtos para uma verdadeira felicidade.
Na teologia da prosperidade tudo é rápido, pois quem “paga”, não pode esperar. Sem perceber tudo se tornou líquido, nada pede aprofundamento, tudo tem que ter emoção e lagrimas, porem nada precisa ser fundamentado na palavra de Deus.
Temos o louvorsão, em forma de shows gospel, as grande cruzadas, onde o espetáculo é o grande foco, pois para alimentar tudo isto é preciso de mídia e acima de tudo muito dinheiro. No gospel o grande patrocinador é a teologia da prosperidade, pois num mercado onde fieis são consumidores, o dinheiro é o grande veiculo da benção. Neste processo o dinheiro se torna personagem principal em toda mídia quando a noticia é o mundo gospel e seus lideres.
A igreja “moderna” sucumbiu diante das tentações do mundo. O que Cristo recusou e rebateu com a palavra em sua tentação no deserto, hoje muitos lideres e seus ministérios aceitam e praticam o cristianismo do espetáculo.
O cristianismo onde Cristo é a marca registrada, é o produto a ser explorado.
O cristianismo onde a pessoa de Cristo nada tem haver com o ser humano. O grande interesse é mercadológico, e diversos produtos ganham suas versões cristológica, é agua, é refrigerante, perfume, roupas, salames, queijo etc.
A igreja se insere no gospel, sem perceber que o mercantilismo leva a igreja para um grande laço, pois dentro deste mercado o importante é o lucro, e lucro desenfreado e desumano, pois transforma o ser humano em um produto a ser explorado.
3) – Porque o $how tem que parar ?
Porque no show não há compromisso, tudo é líquido, não há fundamentação. A igreja não quer perder, quer estar em competição com o mundo. Muitos são os lideres que se perderam nesta ganancia desenfreada no mercado gospel.
“Que relação tem um pastor que coleciona cavalos de raça, e a bíblia?”
O mercado é desumano, porque sua essência esta na competição, não há espaço, para misericórdia, amor, pontos centrais da cultura cristã.
A igreja de Cristo se fundamenta na humanidade, pois o próprio Cristo se fez ser humano e habitou no meio de nós.
“Cristianismo e luxo são palavras antônimas”.
A igreja precisa responder ao sofrimento do mundo, mais com armas espirituais, a igreja deve ser voz profética em meio ao caos humano. A igreja tem a mensagem de esperança, para isto seus lideres precisam ser conhecidos pela sua simplicidade, pelo seu carisma, pelo seu conhecimento, por seus atos de fé e solidariedade em prol dos pobres e os que sofrem.
Onde o pecado abunda a graça de Deus transforma, está é a mensagem do evangelho.
A igreja tem que assumir sua responsabilidade social, precisamos ser reconhecidos por uma fé cidadã, a igreja precisa ser reconhecida por sua luta em prol da verdade, da justiça e da paz. Não podemos ser reconhecidos simplesmente por ser uma grande numero de votos. Temos que ser o povo do amor ao próximo, o povo reconhecido pela honestidade de seus lideres, o povo que veio ao mundo para assim como Cristo cumprir a missão de Deus.
Somos o povo que vai morar no céu mais a porta é Jesus Cristo, mais não vamos para lá mediante pagamento humano, pois o grande preço já foi pago.
Pois coube a Deus dar seu único filho em amor e remissão dos nossos pecados.
Não há salvação sem remissão de pecados, e isto dinheiro nenhum no mundo compra. Não milagre maior do que um ser humano reconhecer o senhorio de Cristo em sua vida.
Muitos lideres não se apercebem que sua teologia materialista influencia ao mundo, é só avaliarmos a corrupção, a violência, o famoso geitinho brasileiro que todo o mundo conhece. Precisamos ser o povo reconhecido no mundo por nossa fé, por nossa honestidade.