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terça-feira, 5 de junho de 2018

53 Os primeiros juízes

53- Os primeiros juízes
 Este capítulo é baseado em Juízes 6-8; 10. Depois de seu estabelecimento em Canaã, nenhum esforço vigoroso fizeram as tribos para completar a conquista da terra. Satisfeitas com o território já ganho, seu zelo se debilitou logo, e a guerra interrompeu-se. “Quando Israel cobrou mais forças, fez dos cananeus tributários; porém não os expeliu de todo”. Juízes 1:28. O Senhor havia cumprido fielmente, de Sua parte, as promessas feitas a Israel; Josué quebrara o poder dos cananeus, e distribuíra a terra às tribos. Apenas lhes restava, confiando na certeza do auxílio divino, completar a obra de desapossar os habitantes da terra. Mas isto eles deixaram de fazer. Entrando em aliança com os cananeus, transgrediram diretamente a ordem de Deus, e assim deixaram de cumprir a condição sob a qual Ele prometera colocá-los de posse de Canaã. Desde a primeira comunicação da parte de Deus a eles no Sinai, haviam sido advertidos contra a idolatria. Imediatamente depois da proclamação da lei, foi-lhes enviada esta mensagem por intermédio de Moisés, concernente às nações de Canaã: “Não te inclinarás diante dos seus deuses, nem os servirás, nem farás conforme às suas obras; antes os destruirás totalmente, e quebrarás de todo as suas estátuas. E servireis ao Senhor vosso Deus, e Ele abençoará o vosso pão e a vossa água; e Eu tirarei do meio de ti as enfermidades”. Êxodo 23:24, 25. Deu-se-lhes a certeza de que enquanto permanecessem obedientes, Deus subjugaria seus inimigos diante deles: “Enviarei o Meu terror diante de ti, desconcertando a todo o povo aonde entrares, e farei que todos os teus inimigos te virem as costas. Também enviarei vespões diante de ti, que lancem fora os heveus, os cananeus, os heteus, diante de ti. Num só ano os não lançarei fora diante de ti para que a terra se não torne em deserto, e as feras do campo se não multipliquem contra ti. Pouco a pouco os lançarei de diante de ti, até que sejas multiplicado, e possuas a terra por herança. [...] Darei nas tuas mãos os moradores da terra, para que os lances fora de diante de ti. Não farás concerto algum com eles, ou com os seus deuses. Na tua terra não habitarão, para que não te façam pecar contra Mim; se servires aos seus deuses, certamente será um laço para ti”. Êxodo 23:27-33. Estas instruções foram reiteradas da maneira mais solene por Moisés, antes de sua morte, e foram repetidas por Josué. Deus colocara Seu povo em Canaã como poderoso parapeito, para deter a onda do mal moral, a fim de que este não inundasse o mundo. Sendo fiel a Ele, era o intuito de Deus que Israel prosseguisse de vitória em vitória. Ele daria em suas mãos nações maiores e mais poderosas do que os cananeus. A promessa era: “Se diligentemente guardardes todos estes mandamentos que vos ordeno [...] também o Senhor de diante de vós lançará fora todas as nações, e possuireis nações maiores e mais poderosas do que vós. Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé será vosso; desde o deserto, e desde o Líbano, desde o rio, o rio Eufrates, até o mar ocidental, será o vosso termo. Ninguém subsistirá diante de vós; o Senhor vosso Deus porá sobre toda a terra que pisardes o vosso terror e o vosso temor, como já vos tem dito”. Deuteronômio 11:22-25. Mas, sem consideração para com seu alto destino, preferiram o caminho da comodidade e da condescendência própria; deixaram escapar sua oportunidade para completarem a conquista da terra; e por muitas gerações foram afligidos pelos remanescentes desses povos idólatras, que, conforme predissera o profeta, eram como “espinhos nos vossos olhos”, e como “aguilhões nas vossas ilhargas”. Números 33:55. Os israelitas “se misturaram com as nações, e aprenderam as suas obras”. Ligaram-se matrimonialmente com os cananeus, e a idolatria espalhou-se como uma praga por toda a terra. “Serviram os seus ídolos, que vieram a ser-lhes um laço. Demais disso, sacrificaram seus filhos e suas filhas aos demônios. [...] E a terra foi manchada com sangue.” “Pelo que se acendeu a ira do Senhor contra Seu povo, de modo que abominou a Sua herança”. Salmos 106:34, 38, 40. Antes que se extinguisse a geração que recebera instruções de Josué, a idolatria fez pequeno avanço; mas os pais haviam preparado o caminho para a apostasia de seus filhos. O desacato às restrições do Senhor por parte daqueles que entraram na posse de Canaã, disseminou sementes de males, as quais continuaram a produzir amargos frutos por muitas gerações. Os hábitos simples dos hebreus lhes haviam assegurado saúde física; mas a associação com os gentios determinou a condescendência com o apetite e paixão, o que diminuiu gradualmente a força física e enfraqueceu as capacidades mentais e morais. Pelos seus pecados os israelitas foram separados de Deus; Sua força foi removida deles, e não mais podiam prevalecer contra seus inimigos. Assim foram levados sob a sujeição das mesmas nações que por intermédio de Deus haviam subjugado. “Deixaram ao Senhor Deus de seus pais, que os tirara da terra do Egito” (Juízes 2:12), “e os guiou pelo deserto como a um rebanho”. Salmos 78:52. “Pois Lhe provocaram a ira com os seus altos, e despertaram-Lhe o zelo com as suas imagens de escultura”. Salmos 78:58. Portanto o Senhor “desamparou o tabernáculo em Siló, a tenda que estabelecera como Sua morada entre os homens. E deu a Sua força em cativeiro; e a Sua glória à mão do inimigo”. Salmos 78:60, 61. Todavia Ele não desamparou completamente o Seu povo. Houve sempre uns remanescentes que eram fiéis a Jeová; e de tempos em tempos o Senhor suscitava homens fiéis e valentes para derribar a idolatria e livrar os israelitas de seus inimigos. Mas quando morria o libertador, e o povo ficava livre de sua autoridade, voltavam gradualmente aos seus ídolos. E assim a história de apostasias e castigos, de confissão e livramento, repetia-se reiteradas vezes. O rei da Mesopotâmia, o rei de Moabe, e depois destes os filisteus e os cananeus de Hazor, guiados por Sísera, tornaram-se por seu turno os opressores de Israel. Otniel, Sangar, Eúde, Débora e Baraque foram levantados como libertadores de seu povo. Mas, de novo, “os filhos de Israel fizeram o que parecia mal aos olhos do Senhor, e o Senhor os deu na mão dos midianitas”. Até ali a mão do opressor não havia caído senão levemente sobre as tribos que moravam ao este do Jordão; mas na presente calamidade foram os primeiros a sofrer. Os amalequitas ao sul de Canaã, bem como os midianitas na sua fronteira oriental e nos desertos além, eram ainda os implacáveis inimigos de Israel. Esta última nação havia sido quase destruída pelos israelitas nos dias de Moisés; mas desde então aumentaram grandemente, e se tornaram numerosos e poderosos. Tinham tido sede de vingança; e agora que a mão protetora de Deus se retirara de Israel, chegara a oportunidade. Não somente as tribos ao este do Jordão, mas todo o país sofreu com suas devastações. Os habitantes selvagens e cruéis do deserto, numerosos “como gafanhotos” (Juízes 6:5), vinham como enxame sobre a terra, com seus rebanhos e gado. Como uma praga devoradora, espalhavam-se pelo país, desde o rio Jordão até à planície filisteia. Vinham logo que as searas começavam a amadurecer e ficavam até que os últimos frutos da terra fossem colhidos. Despojavam os campos de seus produtos, e roubavam e maltratavam os habitantes; e então voltavam aos desertos. Assim os israelitas que moravam em território aberto eram obrigados a abandonar suas casas, e a congregar-se nas cidades muradas, a fim de procurar refúgio nas fortalezas, e mesmo a encontrar abrigo nas cavernas e no recesso das rochas, entre as montanhas. Por sete anos continuou esta opressão, e então, como o povo em sua angústia atendesse à reprovação do Senhor, e confessasse seus pecados, Deus levantou de novo um auxiliador para eles. Gideão era filho de Joás, da tribo de Manassés. A divisão a que esta família pertencia não mantinha posição de destaque, mas a casa de Joás distinguia-se pela coragem e integridade. Quanto a seus valorosos filhos é dito: “Cada um ao parecer, como filhos de um rei”. Juízes 8:18. Todos, com exceção de um, haviam tombado nas lutas contra os midianitas, e ele fizera com que seu nome fosse temido pelos invasores. A Gideão veio o chamado divino para libertar seu povo. Estava ocupado na ocasião a trilhar o trigo. Uma pequena quantidade deste cereal fora escondida, e, não ousando ele batê-lo na eira comum, recorrera a um local próximo do lagar; pois, estando ainda longe o tempo do amadurecimento das uvas, pouca observação se dava agora às vinhas. Enquanto Gideão trabalhava em segredo e silêncio, meditava com tristeza na condição de Israel, e considerava como o jugo do opressor poderia ser quebrado de seu povo. Subitamente o “Anjo do Senhor” apareceu, e a ele Se dirigiu com estas palavras: “O Senhor é contigo, varão valoroso.” “Ai, Senhor meu”, foi a resposta, “se o Senhor é conosco, por que tudo isto nos sobreveio? e que é feito de todas as Suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o Senhor subir do Egito? Porém agora o Senhor nos desamparou, e nos deu na mão dos midianitas.” O mensageiro do Céu replicou: “Vai nesta tua força, e livrarás Israel da mão dos midianitas; porventura não te enviei Eu?” Gideão desejou algum sinal de que Aquele que agora Se lhe dirigia era o Anjo do Concerto, que, nos tempos passados, havia agido em prol de Israel. Anjos de Deus, que tiveram comunhão com Abraão, demoraram-se certa vez em sua casa a fim de participar de sua hospitalidade; e Gideão agora roga ao Mensageiro divino que fique como o seu hóspede. Indo apressadamente à sua tenda, preparou de seu escasso suprimento um cabrito e bolos asmos, que trouxe e pôs diante dEle. Mas o Anjo ordenou-lhe: “Toma a carne e os bolos asmos, e põe-os sobre esta penha e verte o caldo.” Assim fez Gideão, e então foi dado o sinal que ele desejara: com o cajado que tinha na mão o Anjo tocou a carne e os bolos asmos, e uma chama que irrompeu da pedra consumiu o sacrifício. Então o Anjo desapareceu de sua vista. O pai de Gideão, Joás, que partilhava da apostasia de seus patrícios, construíra em Ofra, onde morava, um grande altar a Baal, junto ao qual o povo da cidade adorava. Foi ordenado a Gideão destruir este altar, e erguer um altar a Jeová, sobre a rocha em que a oferta fora consumida, e ali apresentar um sacrifício ao Senhor. A oferta de sacrifício a Deus fora confiada aos sacerdotes, e se restringira ao altar em Siló; mas Aquele que estabelecera o culto ritual e para quem todas as ofertas daquele culto apontavam, tinha poder para mudar as estipulações do mesmo. O livramento de Israel deveria ser precedido por um protesto solene contra o culto de Baal. Gideão devia declarar guerra contra a idolatria, antes de sair para batalhar com os inimigos de seu povo. A determinação divina foi fielmente posta em prática. Sabendo Gideão que encontraria oposição se aquilo fosse tentado abertamente, levou a efeito o trabalho em segredo; com auxílio de seus servos, fez tudo em uma noite. Grande foi a raiva dos homens de Ofra ao virem eles, na manhã seguinte, a prestar suas devoções a Baal. Teriam tirado a vida de Gideão, caso não houvesse Joás (a quem havia sido referida a visita do Anjo) tomado a defesa de seu filho. “Contendereis vós por Baal?” disse Joás. “Livrá-lo-eis vós? Qualquer que por ele contender ainda esta manhã será morto; se é deus, por si mesmo contenda; pois derribaram o seu altar.” Se Baal não podia defender seu próprio altar, como se poderia confiar que ele protegesse seus adoradores? Todos os pensamentos de violência para com Gideão se dissiparam; e, quando ele fez soar a trombeta de guerra, os homens de Ofra acharam-se entre os primeiros a reunir-se sob sua bandeira. Arautos foram expedidos à sua própria tribo de Manassés e também para Aser, Zebulom e Naftali, e todos corresponderam ao chamado. Gideão não ousou colocar-se à frente do exército sem ainda novas provas de que Deus o chamara para este trabalho, e de que seria com ele. Ele orou: “Se hás de livrar a Israel por minha mão, como tens dito, eis que eu porei um velo de lã na eira; se o orvalho estiver somente no velo, e secura sobre toda a terra, então conhecerei que hás de livrar a Israel por minha mão como tens dito.” Pela manhã, o velo estava úmido, enquanto a terra estava seca. Mas então surgiu uma dúvida, visto que a lã naturalmente absorve a umidade quando há alguma no ar; a prova não poderia ser decisiva. Daí o pedir ele que o sinal fosse invertido, rogando que sua extrema precaução não desagradasse ao Senhor. Seu pedido foi satisfeito. Assim encorajado, Gideão guiou suas forças a dar combate aos invasores. “Todos os midianitas e amalequitas, e os filhos do oriente se ajuntaram num corpo, e passaram, e puseram o seu campo no vale de Jezreel.” A força total sob o comando de Gideão contava apenas trinta e dois mil homens; mas, com o vasto exército dos inimigos estendendo-se diante dele, veio-lhe a palavra do Senhor: “Muito é o povo que está contigo, para Eu dar aos midianitas em sua mão; a fim de que Israel se não glorie contra Mim, dizendo: A minha mão me livrou. Agora pois apregoa aos ouvidos do povo, dizendo: Quem for covarde e medroso, volte, e vá-se apressadamente das montanhas de Gileade.” Aqueles que não estavam dispostos a enfrentar perigos e dificuldades, ou cujos interesses mundanos atraíam da obra de Deus seu coração, não acrescentariam força aos exércitos de Israel. Sua presença mostrar-se-ia apenas uma causa de fraqueza. Estabelecera-se como lei de Israel que, antes de irem à guerra, se fizesse a seguinte proclamação em todo o exército: “Qual é o homem que edificou casa nova e ainda a não consagrou? vá, e torne-se à sua casa, para que porventura não morra na peleja e algum outro a consagre. E qual é o homem que plantou uma vinha e ainda não logrou fruto dela? vá, e torne-se à sua casa, para que porventura não morra na peleja e algum outro o logre. E qual é o homem que está desposado com alguma mulher e ainda a não recebeu? vá, e torne-se à sua casa, para que porventura não morra na peleja e algum outro homem a receba.” E os oficiais deviam falar ainda ao povo, dizendo: “Qual é o homem medroso, e de coração tímido? vá, e torne-se à sua casa, para que o coração de seus irmãos se não derreta como o seu coração”. Deuteronômio 20:5-8. Pelo fato de seu exército ser tão pequeno em comparação com o do inimigo, Gideão se abstivera de fazer a proclamação usual. Ficou surpreso com a declaração de que seu exército era por demais grande. Mas o Senhor via o orgulho e a incredulidade que existiam no coração de Seu povo. Despertos pelos apelos estimulantes de Gideão, alistaram-se com prontidão; mas muitos ficaram cheios de medo quando viram as multidões dos midianitas. Entretanto, caso houvesse Israel triunfado, esses mesmos teriam tomado a glória para si próprios, em vez de atribuírem a vitória a Deus. Gideão obedeceu à determinação do Senhor, e com coração pesaroso viu vinte e dois mil, ou mais de dois terços de sua força total, partirem para casa. De novo veio a ele a palavra do Senhor: “Ainda muito povo há; faze-os descer às águas, e ali tos provarei; e será que, aquele de que Eu te disser: Este irá contigo, esse contigo irá; porém todo aquele, de que Eu te disser: Esse não irá contigo, esse não irá.” O povo foi levado ao lado da água, na expectativa de fazer um avanço imediato ao inimigo. Alguns apressadamente tomaram um pouco de água na mão e a beberam enquanto andavam; mas quase todos se curvaram sobre os joelhos e comodamente beberam da superfície da corrente. Os que tomaram água com as mãos foram apenas trezentos dentre os dez mil; todavia estes foram escolhidos; a todo o resto foi permitido voltar para casa. O caráter muitas vezes é provado pelo meio mais simples. Aqueles que em tempo de perigo estavam preocupados com suprir suas necessidades, não eram os homens em quem se poderia confiar em uma emergência. O Senhor não tem lugar em Sua obra para os indolentes e condescendentes consigo mesmos. Os homens de Sua escolha foram os poucos que não permitiram que suas necessidades os detivessem no desempenho do dever. Os trezentos homens escolhidos não somente possuíam coragem e domínio próprio, mas eram homens de fé. Não se haviam contaminado com a idolatria. Deus os poderia dirigir, e por meio deles operar o livramento para Israel. O êxito não depende do número. Deus pode livrar tanto com poucos como com muitos. Ele é honrado nem tanto pelo grande número como pelo caráter daqueles que O servem. Os israelitas estavam estacionados no cume de uma colina sobranceira ao vale em que se acampavam as hostes dos invasores. “E os midianitas, e amalequitas, e todos os filhos do oriente jaziam no vale como gafanhotos em multidão; e eram inumeráveis os seus camelos, como a areia que há na praia do mar em multidão”. Juízes 7:12. Gideão tremeu ao pensar no conflito do dia seguinte. Mas o Senhor falou-lhe à noite, e ordenou-lhe que, juntamente com Pura, seu auxiliar, descesse ao acampamento dos midianitas, dando a entender que ali ele ouviria algo para a sua animação. Ele foi, e esperando nas trevas e silêncio, ouviu um soldado relatar um sonho a seu companheiro: “Eis que um pão de cevada torrado rodava pelo arraial dos midianitas, e chegava até às tendas, e as feriu, e caíram, e as transtornou de cima para baixo; e ficaram abatidas.” O outro respondeu com palavras que agitaram o coração do ouvinte invisível: “Não é isto outra coisa, senão a espada de Gideão, filho de Joás, varão israelita. Deus tem dado na sua mão aos midianitas, e a todo este arraial.” Gideão reconheceu a voz de Deus falando-lhe por meio desses estrangeiros midianitas. Voltando aos poucos homens ao seu comando, disse: “Levantai-vos, porque o Senhor tem dado o arraial dos midianitas nas vossas mãos.” Por direção divina foi-lhe sugerido um plano de ataque, o qual imediatamente ele se pôs a executar. Os trezentos homens foram divididos em três companhias. A cada homem foi dada uma trombeta, e um archote escondido em um cântaro de barro. Os homens foram estacionados de tal maneira que se aproximassem do arraial midianita de diferentes direções. Tarde da noite, a um sinal da corneta de guerra de Gideão, as três companhias soaram suas trombetas; então, quebrando os cântaros, e ostentando os fachos luzentes, precipitaram-se sobre o inimigo com o terrível grito de guerra: “Espada do Senhor, e de Gideão.” O exército, que dormia, despertou subitamente. De todos os lados via-se a luz dos archotes em chamas. Em todas as direções ouvia-se o som das trombetas, com o clamor dos assaltantes. Julgando-se sob o ataque de uma força esmagadora, os midianitas ficaram tomados de pânico. Com gritos selvagens de espanto fugiram para salvar a vida, e, tomando seus próprios companheiros como inimigos, mataram-se uns aos outros. Espalhando-se a notícia da vitória, milhares de homens de Israel que haviam sido despedidos para suas casas, voltaram, e uniram-se em perseguição do inimigo que fugia. Os midianitas se encaminhavam para o Jordão, esperando atingir seu próprio território além do rio. Gideão enviou mensageiros à tribo de Efraim, incitando-os a interceptarem aos fugitivos a passagem para os vaus do sul. Nesse ínterim, com seus trezentos, “cansados, mas ainda perseguindo”, Gideão atravessou o rio, logo após aqueles que já haviam ganho a margem oposta. Os dois príncipes, Zeba e Salmuna, que haviam estado no comando de todo o exército, e que escaparam com uma força de quinze mil homens, foram surpreendidos por Gideão, sendo essa força completamente dispersa, e os chefes capturados e mortos. Nesta formidável derrota, pereceram nada menos de cento e vinte mil dos invasores. Quebrou-se o poder dos midianitas, de modo que nunca mais puderam fazer guerra contra Israel. As notícias espalharam-se rapidamente por longe e perto, de que o Deus de Israel de novo combatera por Seu povo. Palavra alguma pode descrever o terror das nações circunvizinhas, quando souberam quão simples meio prevalecera contra o poder de um povo ousado e guerreiro. O dirigente a quem Deus escolhera para subverter os midianitas, não ocupava posição preeminente em Israel. Não era príncipe, sacerdote, nem levita. Julgava-se o menor na casa de seu pai. Mas Deus viu nele um homem de coragem e integridade. Não confiava em si próprio, e queria seguir a direção do Senhor. Deus nem sempre escolhe para a Sua obra homens dos maiores talentos; antes escolhe os que melhor pode usar. “Diante da honra vai a humildade”. Provérbios 15:33. O Senhor pode operar com mais eficácia por meio daqueles que se acham mais cônscios de sua própria insuficiência, e que confiarão nEle como seu dirigente e fonte de poder. Ele os tornará fortes, unindo sua fraqueza ao Seu poder, e sábios ligando sua ignorância à Sua sabedoria. O Senhor poderia fazer muito mais por Seu povo, se este acalentasse a verdadeira humildade; mas poucos há a quem possa ser confiada grande medida de responsabilidade ou êxito, sem que se tornem confiantes em si mesmos e esquecidos de sua dependência de Deus. É por isto que, ao escolher os instrumentos para Sua obra, o Senhor despreza aqueles que o mundo honra como grandes, talentosos e brilhantes. Estes muitas vezes são orgulhosos e confiantes em sua própria competência. Acham-se capazes de agir sem o conselho de Deus. O simples ato de fazer soar a trombeta, pelo exército de Josué, à roda de Jericó, bem como pelo pequeno grupo de Gideão, em redor das hostes de Midiã, foi eficaz pelo poder de Deus para transtornar a força de seus inimigos. O plano mais completo que tenham os homens imaginado, independente do poder e sabedoria de Deus, mostrar-se-á um fracasso, ao passo que os métodos menos promissores terão êxito se forem divinamente indicados, e executados com humildade e fé. A confiança em Deus e a obediência à Sua vontade são tão necessárias ao cristão na luta espiritual como a Gideão e a Josué nos seus combates com os cananeus. Pelas repetidas manifestações de Seu poder em prol de Israel, queria Deus levá-los a ter fé nEle — a fim de buscarem Seu auxílio, com toda a confiança, em todas as emergências. Ele está precisamente tão disposto a agir pelos esforços de Seu povo, hoje, e realizar grandes coisas por meio de fracos agentes. O Céu todo aguarda o nosso pedido de Sua sabedoria e força. Deus é “poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos”. Efésios 3:20. Gideão voltou da perseguição aos inimigos da nação para encontrar censura e acusação por parte de seus próprios compatriotas. Quando ao seu chamado os homens de Israel foram arregimentados contra os midianitas, a tribo de Efraim ficara atrás. Consideravam aquele esforço como uma ação perigosa; e, como Gideão não lhes fizesse uma convocação especial, aproveitaram-se desta desculpa para não se unirem a seus irmãos. Mas, quando a notícia da vitória de Israel chegou a eles, os efraimitas ficaram com ciúmes, porque não haviam participado da mesma. Depois da derrota dos midianitas, os homens de Efraim haviam por determinação de Gideão se apoderado dos vaus do Jordão, impedindo assim a escapada dos fugitivos. Por este meio grande número de inimigos foram mortos, entre os quais estavam dois príncipes, Orebe e Zeebe. Assim, os homens de Efraim acompanharam o combate e auxiliaram na completa vitória. Não obstante, ficaram com inveja e irados, como se Gideão fora levado pela sua própria vontade e juízo. Não discerniram a mão de Deus na vitória de Israel, não apreciaram Seu poder e misericórdia no livramento deles; e este mesmo fato demonstrou-os indignos de serem escolhidos como Seus instrumentos especiais. Voltando com os troféus da vitória, raivosamente censuraram a Gideão: “Que é isto que nos fizeste, que não nos chamaste, quando foste pelejar contra os midianitas?” “Que mais fiz eu agora do que vós?” disse Gideão. “Não são porventura os rabiscos de Efraim melhores do que a vindima de Abiezer? Deus vos deu na vossa mão aos príncipes dos midianitas, Orebe e Zeebe; que mais pude eu logo fazer do que vós?” O espírito de inveja poderia facilmente ter provocado uma contenda que haveria causado lutas e morticínio; mas a resposta modesta de Gideão abrandou a ira dos homens de Efraim, e eles voltaram em paz para casa. Firme e intransigente onde havia uma questão de princípios, e na guerra “varão valoroso”, Gideão possuía também um espírito de cortesia que raramente se vê. O povo de Israel, em gratidão pelo seu livramento dos midianitas, propôs a Gideão que ele se tornasse seu rei, e que o trono se confirmasse aos seus descendentes. Essa proposta estava em direta violação dos princípios da teocracia. Deus era o rei de Israel, e para este a colocação de um homem no trono seria a rejeição de seu Soberano divino. Gideão reconheceu este fato; sua resposta mostra quão verdadeiros e nobres eram os seus intuitos. “Sobre vós eu não dominarei”, declarou ele, “nem tão pouco meu filho sobre vós dominará; o Senhor sobre vós dominará.” Mas Gideão caiu em outro erro, que acarretou desgraça à sua casa e a todo o Israel. O perigo de inatividade que se segue a uma grande luta acha-se muitas vezes repleto de maiores perigos do que o tempo de conflito. A este perigo estava Gideão agora exposto. Um espírito de inquietação o possuiu. Até ali se contentara com realizar o que Deus lhe determinava; mas agora, em vez de esperar guia divina, começou a fazer planos por si mesmo. Havendo os exércitos do Senhor ganho uma assinalada vitória, Satanás redobrara seus esforços para transtornar a obra de Deus. Assim, idéias e planos foram sugeridos à mente de Gideão, pelos quais o povo de Israel se transviou. Porque lhe houvesse sido mandado oferecer sacrifício sobre a pedra onde o anjo lhe aparecera, concluiu Gideão que ele fora designado para oficiar como sacerdote. Sem esperar a aprovação divina, decidiu-se a arranjar um lugar conveniente, e instituir um sistema de culto semelhante àquele que se levava a efeito no tabernáculo. Com o forte sentimento popular a seu favor, não encontrou dificuldade ao executar seus planos. A seu pedido, todos os pendentes de ouro tomados aos midianitas lhe foram dados como sua participação do despojo. O povo também reuniu muitos outros materiais custosos, juntamente com as vestes ricamente adornadas dos príncipes de Midiã. Com o material assim fornecido, Gideão confeccionou um éfode e um peitoral, imitando os que eram usados pelo sumo sacerdote. Sua conduta demonstrou-se uma cilada para ele próprio e sua família, bem como a Israel. Aquele culto não autorizado levou muitos do povo afinal a esquecerem-se inteiramente do Senhor e servir aos ídolos. Depois da morte de Gideão, grande número de pessoas, entre as quais estava a sua própria família, uniu-se a esta apostasia. O povo desviou-se de Deus pelo mesmo homem que uma ocasião vencera a idolatria. Poucos há que se compenetram de quão grande alcance é a influência de suas palavras e atos. Quantas vezes os erros dos pais produzem os mais desastrosos efeitos em seus filhos, e descendentes destes, muito tempo depois que os próprios autores foram postos nos túmulos! Cada um exerce uma influência sobre os outros, e será responsável pelo resultado dessa influência. Palavras e ações têm um poder eloqüente, e a longa vida do além mostrará o efeito de nossa vida aqui. A impressão produzida por nossas palavras e ações reagirá certamente sobre nós, trazendo bênção ou maldição. Tal pensamento confere uma terrível solenidade à vida, e deve atrair-nos a Deus, com humilde oração, a fim de que Ele nos guie pela Sua sabedoria. Aqueles que ocupam as mais elevadas posições podem transviar outros. Os mais sábios erram; os mais fortes podem vacilar e tropeçar. Há necessidade de que constantemente se derrame em nosso caminho a luz do alto. Nossa única segurança está em confiar nosso caminho implicitamente Àquele que disse: “Segue-Me.” Depois da morte de Gideão, “os filhos de Israel se não lembraram do Senhor seu Deus, que os livrara da mão de todos os seus inimigos em redor. Nem usaram de beneficência com a casa de Jerubaal, a saber, de Gideão, conforme a todo o bem que ele usara com Israel”. Esquecidos de tudo que deviam a Gideão, seu juiz e libertador, o povo de Israel aceitou seu filho Abimeleque, de nascimento vil, como seu rei, o qual, para sustentar seu poderio, assassinou todos os filhos legítimos de Gideão, com exceção de um. Quando os homens rejeitam o temor de Deus, não demora afastarem-se da honra e da integridade. Uma apreciação da misericórdia do Senhor determinará a apreciação daqueles que, como Gideão, foram usados como instrumentos para abençoar Seu povo. A conduta cruel por parte de Israel para com a casa de Gideão, foi o que se poderia esperar de um povo que manifestava tamanha ingratidão para com Deus. Depois da morte de Abimeleque, o governo dos juízes que temiam ao Senhor serviu durante algum tempo para impedir a idolatria; mas não muito tempo depois o povo voltou às práticas das comunidades gentílicas que em redor deles havia. Entre as tribos do norte, os deuses da Síria e Sidom tinham muitos adoradores. Ao sudoeste os ídolos dos filisteus, e a leste os de Moabe e Amom haviam desviado os corações de Israel do Deus de seus pais. A apostasia, porém, de imediato trouxe o seu castigo. Os amonitas subjugaram as tribos orientais, e, atravessando o Jordão, invadiram o território de Judá e Efraim. Ao oeste, os filisteus subiram de sua planície ao lado do mar, queimando e pilhando por toda parte. Novamente Israel pareceu achar-se abandonado ao poder de seus inimigos implacáveis. De novo o povo procurou auxílio dAquele a quem tanto haviam abandonado e insultado. “Os filhos de Israel clamaram ao Senhor, dizendo: Contra Ti havemos pecado, porque deixamos a nosso Deus, e servimos aos baalins”. Juízes 10:10-16. Mas a tristeza não operara o verdadeiro arrependimento. O povo lamentava porque seus pecados lhes haviam acarretado sofrimento, mas não porque tivessem desonrado a Deus pela transgressão de Sua santa lei. O verdadeiro arrependimento é mais que tristeza pelo pecado. É uma decidida renúncia ao mal. O Senhor lhes respondeu por um de Seus profetas: “Porventura dos egípcios, e dos amorreus, e dos filhos de Amom, e dos filisteus, e dos sidônios, e dos amalequitas e dos maonitas, que vos oprimiam, quando a Mim clamastes, não vos livrei Eu então da sua mão? Contudo vós Me deixastes a Mim, e servistes a outros deuses, pelo que não vos livrarei mais. Andai, e clamai aos deuses que escolhestes; que vos livrem eles no tempo do vosso aperto.” Essas solenes e terríveis palavras transportam o espírito para outra cena: o grande dia do juízo final, em que os que rejeitaram a misericórdia de Deus e desprezaram Sua graça serão trazidos em face de Sua justiça. Naquele tribunal devem prestar contas os que dedicaram os talentos que Deus lhes deu — de tempo, meios ou inteligência — ao serviço dos deuses deste mundo. Deixaram seu verdadeiro e amoroso Amigo, para seguirem o caminho da conveniência e dos prazeres mundanos. Tencionavam em algum tempo voltar a Deus; mas o mundo, com suas loucuras e enganos, absorveu-lhes a atenção. Os divertimentos frívolos, o orgulho no vestir, a satisfação do apetite, lhes endureceram o coração e embotaram a consciência, de maneira que não ouviram a voz da verdade. Foi desprezado o dever. Coisas de valor infinito foram estimadas levianamente, até que o coração perdeu todo o desejo de sacrificar-se por Aquele que tanto deu pelo homem. Mas no tempo da ceifa colherão o que semearam. Disse o Senhor: “Porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a Minha mão, e não houve quem desse atenção; antes rejeitastes todo o Meu conselho, e não quisestes a Minha repreensão; [...] vindo como assolação o vosso temor, e vindo a vossa perdição como tormenta, sobrevindo-vos aperto e angústia, então a Mim clamarão, mas Eu não responderei; de madrugada Me buscarão, mas não Me acharão. Porquanto aborreceram o conhecimento, e não preferiram o temor do Senhor; não quiseram Meu conselho e desprezaram toda a Minha repreensão. Portanto, comerão do fruto do seu caminho, e fartar-se-ão dos seus próprios conselhos.” “Mas o que Me der ouvidos habitará seguramente, e estará descansado do temor do mal”. Provérbios 1:24-31, 33. Os israelitas humilharam-se agora perante o Senhor. “E tiraram os deuses alheios do meio de si, e serviram ao Senhor.” E o amoroso coração do Senhor “se angustiou” por causa da desgraça de Israel. Oh, que longânima misericórdia de nosso Deus! Quando Seu povo abandonou os pecados que haviam excluído Sua presença, Ele lhes ouviu as orações, e logo Se pôs a agir em prol deles. Levantou-se um libertador na pessoa de Jefté, gileadita, o qual fez guerra contra os amonitas, e destruiu eficazmente o seu poderio. Durante dezoito anos, por este tempo, Israel havia sofrido sob a opressão de seus adversários; todavia a lição ensinada pelo sofrimento foi de novo esquecida. Como o povo voltasse aos seus maus caminhos, o Senhor permitiu ainda que fossem oprimidos pelos seus poderosos inimigos, os filisteus. Por muitos anos foram constantemente perseguidos, e por vezes completamente subjugados, por aquela nação cruel e belicosa. Haviam-se misturado com esses idólatras, unindo-se com eles nos prazeres e no culto, até se confundirem com os mesmos, no espírito e nos interesses. Então esses professos amigos de Israel tornaram-se seus mais obstinados inimigos, e procuravam por todos os meios conseguir sua destruição. Semelhantes a Israel, mui freqüentemente os cristãos se rendem à influência do mundo, e conformam-se aos seus princípios e costumes, a fim de obter a amizade dos ímpios; mas no fim achar-se-á que tais professos amigos são os mais perigosos adversários. A Bíblia claramente ensina que não pode haver harmonia entre o povo de Deus e o mundo. “Meus irmãos, não vos maravilheis, se o mundo vos aborrece”. 1 João 3:13. Diz nosso Salvador: “Sabei que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim”. João 15:18. Satanás opera por intermédio dos ímpios, sob a capa de uma pretensa amizade, para seduzir o povo de Deus ao pecado, a fim de que os possa separar dEle; e, quando é removida a sua defesa, leva então seus agentes a se voltarem contra eles e procurar efetuar sua destruição.

59 O primeiro rei de Israel

O primeiro rei de Israel.

Este capítulo é baseado em 1 Samuel 8-12. O governo de Israel era administrado em nome e pela autoridade de Deus. O trabalho de Moisés, o dos setenta anciãos, dos príncipes e juízes, era simplesmente pôr em execução as leis que Deus dera; não tinham eles autoridade para legislar para a nação. Esta foi, e continuou a ser a condição da existência de Israel como nação. De tempos em tempos homens inspirados por Deus eram enviados para instruírem o povo, e guiá-lo na execução das leis. O Senhor previu que Israel desejaria um rei, mas não consentiu em uma mudança nos princípios sobre os quais foi fundado o Estado. O rei devia ser representante do Altíssimo. Deus devia ser reconhecido como o Líder da nação, e Sua lei executada como a lei suprema do país. Quando, inicialmente, os israelitas se estabeleceram em Canaã, reconheciam os princípios da teocracia, e a nação prosperou sob o governo de Josué. Mas o aumento da população e o intercâmbio com outras nações acarretaram uma mudança. O povo adotou muitos dos costumes dos seus vizinhos gentílicos, e assim sacrificou, em grande proporção, seu próprio caráter peculiar e santo. Gradualmente perderam sua reverência para com Deus, e deixaram de apreciar a honra de ser Seu povo escolhido. Atraídos pela pompa e ostentação dos reis gentílicos, cansaram-se de sua própria simplicidade. Rivalidades e inveja surgiram entre as tribos. Dissensões internas debilitaram-nas; estavam continuamente expostas à invasão de seus adversários gentios, e o povo começava a crer que, a fim de manter sua posição entre as nações, deveriam as tribos unir-se sob um forte governo central. Afastando-se da obediência à lei de Deus, desejaram libertar-se do governo de seu divino Soberano; e assim o pedido para terem um rei generalizou-se por todo o Israel. Desde os dias de Josué o governo nunca fora dirigido com tão grande sabedoria e êxito como sob a administração de Samuel. Investido divinamente com a tríplice função de juiz, profeta e sacerdote, trabalhara ele com incansável e desinteressado zelo pelo bem-estar de seu povo, e a nação prosperara sob sua sábia administração. A ordem havia sido restabelecida, promovida a piedade, e o espírito de descontentamento impedido durante aquele tempo. Mas, com o avançar dos anos, o profeta foi obrigado a repartir com outros os cuidados do governo, e ele designou seus dois filhos para agirem como seus auxiliares. Enquanto Samuel continuava com os deveres de seu ofício em Ramá, os moços se localizaram em Berseba para administrarem a justiça entre o povo, próximo da fronteira sul do país. Foi com inteiro apoio da nação que Samuel designara seus filhos para o ofício; mas eles não se mostraram dignos da escolha de seu pai. Havia o Senhor, por meio de Moisés, dado instruções especiais a Seu povo, a fim de que os príncipes de Israel julgassem retamente, tratassem com justiça da viúva e do órfão, e não recebessem suborno. Mas os filhos de Samuel “se inclinaram à avareza, e tomaram presentes, e perverteram o juízo”. Os filhos do profeta não atenderam aos preceitos que ele procurara gravar em suas mentes. Não imitaram a vida pura e abnegada de seu pai. A advertência feita a Eli não exercera sobre a mente de Samuel a influência que deveria ter exercido. Ele fora até certo ponto demasiado condescendente com seus filhos, e o resultado foi visível no caráter e na vida deles. A injustiça desses juízes causava muito descontentamento, e forneceu-se assim um pretexto para se insistir na mudança que havia muito era secretamente desejada. “Todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos. Constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações”. 1 Samuel 8:3-5. Os casos de abusos praticados entre o povo não foram referidos a Samuel. Houvesse se tornado conhecida dele a má conduta de seus filhos, e ele os teria retirado sem demora; mas isto não era o que os suplicantes desejavam. Samuel viu que o seu objetivo real era o descontentamento e o orgulho, e que seu pedido era o resultado de um propósito deliberado e decidido. Nenhuma queixa fora feita contra Samuel. Todos reconheciam a integridade e sabedoria de sua administração; mas o idoso profeta considerou o pedido como uma censura a si, e um esforço direto para o pôr de parte. Não revelou, entretanto, os seus sentimentos; não proferiu qualquer exprobração, mas levou a questão ao Senhor em oração, e apenas dEle procurou conselho. E o Senhor disse a Samuel: “Ouve a voz do povo em tudo quanto te disserem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a Mim Me têm rejeitado para Eu não reinar sobre eles. Conforme a todas as obras que fizeram desde o dia em que os tirei do Egito até ao dia de hoje, pois a Mim Me deixaram, e a outros deuses serviram, assim também te fizeram a ti”. 1 Samuel 8:7, 8. O profeta foi reprovado por ofender-se com a conduta do povo em relação a si, individualmente. Não haviam manifestado desrespeito para com ele, mas para com a autoridade de Deus, que havia designado os príncipes de Seu povo. Aqueles que desprezam e rejeitam o fiel servo de Deus, mostram desdém, não meramente ao homem, mas ao Senhor que o enviou. São as palavras de Deus, Suas reprovações e conselhos, o que é anulado; é Sua autoridade que é rejeitada. Os dias da máxima prosperidade de Israel foram aqueles em que reconheciam a Jeová como seu Rei — em que as leis e governo que tinham sido estabelecidos eram considerados como superiores aos de todas as outras nações. Moisés declarara a Israel com relação aos mandamentos de Deus: “Esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes estatutos, e dirão: Este grande povo só é gente sábia e entendida”. Deuteronômio 4:6. Mas, afastando-se da lei de Deus, os hebreus deixaram de se tornar o povo que Deus desejava fazer deles, e então todos os males que foram o resultado de seu próprio pecado e desatino atribuíram ao governo de Deus. Tão completamente cegos se haviam tornado pelo pecado. Tinha o Senhor, mediante os Seus profetas, predito que Israel seria governado por um rei; mas não se segue que esta forma de governo fosse a melhor para eles, ou de acordo com Sua vontade. Ele permitiu que o povo seguisse sua própria escolha, porque se recusaram a ser guiados por Seu conselho. Oséias declara que Deus lhes deu um rei em Sua ira. Oséias 13:11. Quando os homens preferem seguir o seu próprio caminho, sem buscar conselho de Deus, ou em oposição à Sua vontade revelada, muitas vezes Ele satisfaz seus desejos, a fim de que, por meio da amarga experiência que se segue, possam ser levados a compenetrar-se de sua loucura e a arrepender-se de seu pecado. O orgulho e a sabedoria humana demonstrar-se-ão um guia perigoso. Aquilo que o coração deseja contrário à vontade de Deus, verificar-se-á, no fim, que é uma maldição em vez de bênção. Deus desejava que Seu povo apenas olhasse para Ele como seu legislador e fonte de força. Sentindo sua dependência de Deus, seriam constantemente atraídos para mais perto dEle. Tornar-se-iam elevados e enobrecidos, adaptados ao alto destino a que Ele os chamara como Seu povo escolhido. Mas, quando fosse posto sobre o trono um homem, isto tenderia a desviar de Deus a mente do povo. Eles confiariam mais na força humana, e menos no poder divino, e os erros de seu rei levá-los-iam ao pecado, e separariam a nação de Deus. Samuel foi instruído a satisfazer o pedido do povo, mas adverti-los da desaprovação do Senhor, e também dar a conhecer qual seria o resultado de sua conduta. “E falou Samuel todas as palavras do Senhor ao povo, que lhe pedia um rei.” Expôs-lhes fielmente os encargos que seriam postos sobre eles, e mostrou o contraste entre tal estado de opressão e sua condição presente, relativamente livre e próspera. Seu rei imitaria de outros a pompa e o luxo, para sustentar os quais seriam necessários pesados impostos sobre suas pessoas e propriedades. O que melhor havia de entre seus moços ele exigiria para o seu serviço. Tornar-se-iam cocheiros, cavaleiros e batedores diante dele. Deveriam preencher as fileiras de seu exército, e exigir-se-lhes-ia cultivar seus campos, ceifar suas plantações, e fabricar implementos de guerra para o seu serviço. As filhas de Israel seriam tomadas como confeiteiras e padeiras para a casa real. Para manter sua condição régia, apoderar-se-ia do melhor de suas terras, concedidas ao povo pelo próprio Jeová. Os mais valiosos de seus servos, igualmente, e de seu gado, ele tomaria e os empregaria “no seu trabalho”. Além de tudo isto o rei exigiria um dízimo de toda a sua receita, dos lucros de seu trabalho, ou dos produtos do solo. “Vós lhe servireis de criados”, concluiu o profeta. “Então naquele dia clamareis por causa de vosso rei, que vós houverdes escolhido; mas o Senhor não vos ouvirá naquele dia”. 1 Samuel 8:10-18. Por mais pesadas que se achassem suas exigências, uma vez estabelecida a monarquia, não a poderiam eles depor à vontade. Mas o povo deu a resposta: “Não, mas haverá sobre nós um rei. E nós também seremos como todas as outras nações; e o nosso rei nos julgará, e sairá adiante de nós, e fará as nossas guerras.” “Como todas as outras nações”. 1 Samuel 8:19, 20. Os israelitas não compreendiam que serem neste sentido diferentes de outras nações era um privilégio e bênção especiais. Deus havia separado os israelitas de todos os outros povos, para deles fazer Seu tesouro peculiar. Eles, porém, não tomando em consideração esta alta honra, desejaram avidamente imitar o exemplo dos gentios! E ainda o anelo de conformar-se às práticas e costumes mundanos existe entre o povo professo de Deus. Afastando-se eles do Senhor, tornam-se ambiciosos dos proveitos e honras do mundo. Cristãos acham-se constantemente procurando imitar as práticas dos que adoram o deus deste mundo. Muitos insistem em que, unindo-se aos mundanos e conformando-se aos seus costumes, poderiam exercer uma influência mais forte sobre os ímpios. Mas todos os que adotam tal método de proceder, separam-se desta maneira da Fonte de sua força. Tornando-se amigos do mundo, são inimigos de Deus. Por amor à distinção terrestre, sacrificam a indizível honra a que Deus os chamou, honra esta de mostrarem os louvores dAquele que nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz. 1 Pedro 2:9. Com profunda tristeza Samuel escutou as palavras do povo; mas o Senhor lhe disse: “Dá ouvidos à sua voz, e constitui-lhes rei”. 1 Samuel 8:22. O profeta cumprira o seu dever. Apresentara fielmente o aviso, e este fora rejeitado. Com pesaroso coração despediu o povo, e retirou-se a fim de preparar a grande mudança no governo. A vida de pureza e devoção abnegada de Samuel era uma repreensão perpétua tanto para os sacerdotes e anciãos que só cuidavam de si, como para a congregação de Israel, orgulhosa e sensual. Embora não exibisse pompa nem fizesse ostentação, seus labores traziam o cunho do Céu. Ele foi honrado pelo Redentor do mundo, sob cuja guia governou a nação hebréia. Mas o povo se cansara de sua piedade e devoção; desprezaram sua humilde autoridade, e o rejeitaram preferindo um homem que os governasse como rei. No caráter de Samuel vemos refletida a semelhança de Cristo. Foi a pureza da vida do Salvador que provocou a ira de Satanás. Aquela vida era a luz do mundo, e revelava a depravação oculta no coração dos homens. Foi a santidade de Cristo que suscitou contra Ele as mais cruéis paixões dos que com um coração falso professavam a piedade. Cristo não veio com a opulência e honras da Terra; contudo as obras que realizava mostravam possuir Ele poder maior do que de qualquer príncipe humano. Os judeus esperavam que o Messias viesse a quebrar o jugo do opressor; todavia, acariciavam os pecados que lhes haviam ligado esse jugo ao pescoço. Houvesse Cristo encoberto os pecados deles e aplaudido a sua piedade, e O teriam aceito como seu rei; mas não quiseram suportar Sua destemida repreensão aos seus vícios. A beleza de um caráter em que a benevolência, a pureza e a santidade reinavam supremas, que não alimentava ódio a não ser ao pecado, eles a desprezaram. Assim tem sido em todas as épocas do mundo. A luz do Céu traz condenação sobre todos os que se recusam a andar nela. Quando repreendidos pelo exemplo daqueles que odeiam ao pecado, tornam-se os hipócritas, agentes de Satanás para afligir e perseguir os fiéis. “Todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições”. 2 Timóteo 3:12. Se bem que tivesse sido predita na profecia a forma de governo monárquica para Israel, Deus Se reservara o direito de lhes escolher o rei. Os hebreus respeitaram a autoridade de Deus até ao ponto de deixarem a seleção inteiramente com Ele. A escolha recaiu sobre Saul, filho de Quis, da tribo de Benjamim. As qualidades pessoais do futuro líder eram de maneira que satisfaziam aquele orgulho íntimo que inspira o desejo de terem um rei. “Entre os filhos de Israel não havia outro homem mais belo do que ele”. 1 Samuel 9:2. De porte nobre e digno, na flor da idade, garboso e alto, tinha ele a aparência de alguém que nascera para governar. No entanto, com tais atrações externas, Saul era desprovido daquelas qualidades mais elevadas que constituem a verdadeira sabedoria. Não tinha aprendido em sua mocidade a dominar suas paixões temerárias e impetuosas; nunca sentira o poder renovador da graça divina. Saul era filho de um poderoso e rico chefe; todavia em conformidade com a simplicidade daqueles tempos, estava empenhado com seu pai nos humildes deveres de lavrador. Tendo-se alguns dos animais de seu pai extraviado nas montanhas, Saul foi com um servo à busca deles. Durante três dias fizeram infrutíferas buscas, quando, não estando eles longe de Ramá, a residência de Samuel, o servo propôs que indagassem do profeta a respeito dos animais que faltavam. “Ainda se acha na minha mão um quarto dum siclo de prata”, disse ele, “o qual darei ao homem de Deus, para que nos mostre o caminho”. 1 Samuel 9:8. Isso estava de acordo com o costume daqueles tempos. Uma pessoa que se aproximasse de um superior em posição social ou função, dava-lhe um pequeno presente, em sinal de respeito. Aproximando-se eles da cidade, encontraram-se com algumas moças que tinham vindo tirar água, e indagaram delas acerca do vidente. Em resposta souberam que uma cerimônia religiosa estava para ocorrer, que o profeta já havia chegado, que deveria haver uma oferta no “lugar alto”, e depois daquilo um sacrifício. Uma grande mudança se havia realizado durante a administração de Samuel. Quando o chamado de Deus veio a princípio a ele, os serviços do santuário eram tidos em desdém. “Os homens desprezavam a oferta do Senhor”. 1 Samuel 2:17. Agora, porém, o culto de Deus era mantido por todo o país, e o povo manifestava interesse nos serviços religiosos. Não havendo trabalhos ministeriais no tabernáculo, os sacrifícios eram naquele tempo oferecidos em outra parte; e as cidades dos sacerdotes e levitas, aonde o povo acorria a receber instrução, foram escolhidas para este fim. Os pontos mais altos nessas cidades eram usualmente escolhidos como o lugar do sacrifício, e daí o serem chamados lugares altos. À porta da cidade, Saul foi defrontado pelo próprio profeta. Deus tinha revelado a Samuel que naquela ocasião o escolhido rei de Israel se apresentaria diante dele. Estando em face um do outro, disse o Senhor a Samuel: “Eis aqui o homem de quem já te tenho dito. Este dominará sobre o Meu povo.” Ao pedido de Saul — “Mostra-me, peço-te, onde está aqui a casa do vidente”, Samuel replicou: “Eu sou o vidente.” Assegurando-lhe também que os animais perdidos tinham sido encontrados, insistiu com ele para que ficasse e assistisse à festa, dando ao mesmo tempo alguma indicação do grande destino que o esperava: “Para quem é todo o desejo de Israel? porventura não é para ti, e para toda a casa de teu pai?” O coração daquele que ouvia fremiu com as palavras do profeta. Não podia perceber senão algo da significação das mesmas; pois o pedido de um rei se tornara o assunto de absorvente interesse à nação inteira. Todavia, depreciando-se modestamente, Saul replicou: “Porventura não sou eu filho de Benjamim, da mais pequena das tribos de Israel? E a minha família a mais pequena de todas as famílias da tribo de Benjamim? Por que, pois, me falas com semelhantes palavras?” 1 Samuel 9:18-21. Samuel conduziu o estranho ao local da assembléia, onde estavam reunidos os homens principais da cidade. Entre eles, por determinação do profeta, o lugar de honra foi dado a Saul, e no festim o quinhão mais escolhido foi posto diante dele. Terminadas as cerimônias, Samuel levou o hóspede à sua casa, e ali, no eirado, conversou com ele, apresentando os grandes princípios sobre os quais o governo de Israel fora estabelecido, e procurando assim prepará-lo até certo ponto para o seu elevado cargo. Quando Saul partiu, cedo na manhã seguinte, o profeta saiu com ele. Tendo atravessado a cidade, mandou que o servo passasse adiante. Então ordenou a Saul que parasse a fim de receber uma mensagem a ele enviada por Deus. “Então tomou Samuel um vaso de azeite, e lho derramou sobre a cabeça, e o beijou, e disse: Porventura te não tem ungido o Senhor por capitão sobre a Sua herdade?” Como prova de que isto era feito por autorização divina, predisse os incidentes que ocorreriam em sua viagem para casa, e afirmou a Saul que ele seria habilitado pelo Espírito de Deus para o cargo que o esperava. “O Espírito do Senhor se apoderará de ti”, disse o profeta, “e te mudarás em outro homem. E há de ser que, quando estes sinais te vierem, faze o que achar a tua mão, porque Deus é contigo.” Tendo seguido Saul o seu caminho, tudo aconteceu conforme dissera o profeta. Perto dos termos de Benjamim foi informado de que os animais perdidos tinham sido achados. Na planície de Tabor encontrou três homens que iam adorar a Deus em Betel. Um deles levava três cabritos para o sacrifício, outro três pães, e o terceiro um odre de vinho, para a festa sacrifical. Fizeram a Saul a saudação usual, e também o presentearam com dois dos três pães. Em Gibeá, sua cidade, um grupo de profetas, voltando do “lugar alto”, cantavam o louvor de Deus, com música de flautas e harpas, saltérios e tambores. Aproximando-se Saul deles, sobreveio-lhe o Espírito do Senhor e ele também tomou parte em seu cântico de louvor, e com eles profetizou. Falou com tão grande influência e sabedoria, e com tanto fervor se uniu ao culto, que aqueles que o conheciam exclamaram com espanto: “Que é o que sucedeu ao filho de Quis? Está também Saul entre os profetas?” 1 Samuel 10:1-11. Tendo-se unido Saul com os profetas em seu culto, uma grande mudança operou-se nele pelo Espírito Santo. A luz da pureza e santidade divinas resplandeceu nas trevas do coração natural. Ele viu a si mesmo como estava diante de Deus. Viu a beleza da santidade. Foi agora chamado para começar a luta contra o pecado e Satanás, e fez-se-lhe compreender que neste conflito sua força deveria vir inteiramente de Deus. O plano da salvação que antes parecera obscuro e incerto, desvendou-se-lhe ao entendimento. O Senhor dotou-o de coragem e sabedoria para o seu elevado cargo. Revelou-lhe a fonte de força e graça, iluminando-lhe o entendimento quanto às exigências divinas e ao seu próprio dever. A unção de Saul como rei não fora levada ao conhecimento da nação. A escolha de Deus deveria ser publicamente manifesta por meio de sorte. Para tal fim Samuel convocou o povo de Mispa. Foi feita oração rogando-se guia divina; então seguiu-se a solene cerimônia de lançar a sorte. Em silêncio a multidão congregada aguardava o resultado. A tribo, a família e a casa foram sucessivamente designadas, e então Saul, o filho de Quis, foi indicado como o indivíduo escolhido. Mas Saul não estava na assembléia. Oprimido com uma intuição da grande responsabilidade prestes a cair sobre ele, retirara-se secretamente. Foi de novo trazido à congregação, que observou com orgulho e satisfação ter ele porte real e formas nobres, sendo “mais alto do que todo o povo desde o ombro para cima”. Mesmo Samuel, quando o apresentou à assembléia, exclamou: “Vedes já a quem o Senhor tem elegido? pois em todo o povo não há nenhum semelhante a ele.” E em resposta surgiu da vasta multidão uma demorada e ruidosa aclamação de alegria: “Viva o rei!” Samuel então expôs ao povo “o direito do reino” (1 Samuel 10:23-25), declarando os princípios sobre os quais o governo monárquico se baseava, e pelos quais cumpria ser dirigido. O rei não deveria agir de forma absoluta, mas conservar seu poder em sujeição à vontade do Altíssimo. Este discurso foi registrado em um livro, no qual se estabeleciam as prerrogativas do príncipe e os direitos e privilégios do povo. Embora a nação houvesse desprezado a advertência de Samuel, o fiel profeta — conquanto forçado a ceder aos seus desejos — ainda se esforçou tanto quanto possível para acautelar as suas liberdades. Ao mesmo tempo em que o povo em geral estava pronto para reconhecer a Saul como seu rei, havia um grande partido em oposição. Ser escolhido um rei de Benjamim, a menor das tribos de Israel, e isto em detrimento tanto de Judá como de Efraim, as maiores e mais poderosas — era uma indiferença que não podiam tolerar. Recusaram-se a declarar submissão a Saul, ou trazer-lhe os presentes costumeiros. Os que foram os mais insistentes em seu pedido para terem um rei, eram os mesmos que se recusavam aceitar com gratidão o homem indicado por Deus.
 Os membros de cada facção tinham seu favorito, que desejavam ver colocado sobre o trono; e vários dentre os chefes haviam desejado a honra para si. A inveja e a desconfiança ardiam no coração de muitos. Os esforços do orgulho e da ambição haviam resultado na decepção e no desencanto. Nesse estado de coisas, Saul não achou conveniente assumir a dignidade real. Deixando que Samuel administrasse o governo, como anteriormente, voltou a Gibeá. Foi honrosamente escoltado para ali por uma multidão, que, vendo a escolha divina em sua seleção, estava decidida a apoiá-lo. Mas ele não fez tentativas para manter pela força seu direito ao trono. 
Em seu lar, entre as terras altas de Benjamim, pacificamente ocupou-se com os deveres de lavrador, deixando inteiramente a Deus o estabelecimento de sua autoridade. Logo depois da designação de Saul, os amonitas sob a administração de seu rei, Naás, invadiram o território das tribos ao oriente do Jordão, e ameaçaram a cidade de Jabes-Gileade.
 Os habitantes procuraram negociar a paz, oferecendo-se para se fazerem tributários dos amonitas. Com isto o cruel rei não quis consentir a não ser sob condição de poder arrancar o olho direito de cada um deles, tornando-os assim testemunhas duradouras de seu poder. O povo da cidade sitiada pediu um prazo de sete dias. Com isto consentiram os amonitas, julgando assim aumentar a honra de seu esperado triunfo. Imediatamente foram expedidos de Jabes mensageiros, em busca de auxílio das tribos ao oeste do Jordão. Levaram a notícia a Gibeá, suscitando terror em vasta região. Saul, voltando à noite de acompanhar os bois no campo, ouviu o alto pranto que falava de alguma grande calamidade.
 Perguntou: “Que tem o povo, que chora?” Quando lhe foi repetida a vergonhosa história, despertaram-se todas as suas forças dormentes. “O Espírito de Deus Se apoderou de Saul. [...] E tomou um par de bois, e cortou-os em pedaços, e os enviou a todos os termos de Israel pelas mãos dos mensageiros, dizendo: Qualquer que não sair atrás de Saul e atrás de Samuel, assim se fará aos seus bois”. 1 Samuel 11:5-7.
 Trezentos e trinta mil homens se reuniram na planície de Bezeque, sob o comando de Saul. Imediatamente foram enviados mensageiros à cidade sitiada, com a afirmação de que poderiam esperar auxílio no dia seguinte, que era o próprio dia em que deveriam submeter-se aos amonitas. Por meio de uma rápida marcha noturna, Saul e seu exército atravessaram o Jordão, e chegaram diante de Jabes “pela vigília da manhã”.
 Como Gideão, dividindo sua força em três companhias, caiu sobre o arraial dos amonitas naquela hora matutina, quando, não suspeitando perigo, estavam menos prevenidos. No pânico que se seguiu foram derrotados, com grande mortandade. E “os restantes se espalharam, que não ficaram dois deles juntos”. 1 Samuel 11:11. A prontidão e bravura de Saul, bem como suas aptidões de general ostentadas ao conduzir com êxito uma força tão grande, eram qualidades que o povo de Israel desejara em um rei, a fim de que pudessem competir com outras nações. Saudaram-no agora como seu rei atribuindo a honra da vitória a forças humanas, e esquecendo-se de que, sem a bênção especial de Deus, todos os seus esforços teriam sido nulos. Em seu entusiasmo propuseram alguns matar os que se tinham a princípio recusado a reconhecer a autoridade de Saul.

 Mas o rei interveio, dizendo: “Hoje não morrerá nenhum, pois hoje tem obrado o Senhor um livramento em Israel.” Aqui deu Saul prova da mudança que se tinha operado em seu caráter. Em vez de tomar para si a honra, deu glória a Deus. Em vez de mostrar desejo de vingança, manifestou um espírito de compaixão e perdão.
 Isto é prova inequívoca de que a graça de Deus habita no coração. Samuel propôs então que uma assembléia nacional fosse convocada em Gilgal, a fim de que o reino pudesse ali ser publicamente confirmado a Saul. Isto foi feito; “e ofereceram ali ofertas pacíficas perante o Senhor; e Saul se alegrou muito ali com todos os homens de Israel”. 1 Samuel 11:13, 15. Gilgal tinha sido o local do primeiro acampamento de Israel na Terra Prometida. Foi ali que Josué, por determinação divina, construiu uma coluna de doze pedras para comemorar a miraculosa passagem do Jordão. Ali fora renovada a circuncisão. Ali celebraram a primeira Páscoa, depois do pecado de Cades, e da peregrinação no deserto. 
Ali cessou o maná. Ali o Capitão do exército do Senhor Se revelou como comandante-em-chefe das tropas de Israel. Daquele ponto marcharam para a subversão de Jericó e conquista de Ai. Ali Acã recebeu a pena de seu pecado, e ali foi feito com os gibeonitas aquele tratado que puniu a negligência de Israel de aconselhar-se com Deus.
 Nessa planície, ligada com tantas lembranças comoventes, estavam em pé Samuel e Saul; e, quando cessaram as aclamações de boas-vindas ao rei, o idoso profeta proferiu suas palavras de despedida como governador da nação. “Eis que ouvi a vossa voz”, disse ele, “em tudo quanto me dissestes, e pus sobre vós um rei. Agora, pois, eis que o rei vai diante de vós, e já envelheci e encaneci, [...] e eu tenho andado diante de vós desde a minha mocidade até ao dia de hoje. Eis-me aqui, testificai contra mim, perante o Senhor, e perante o Seu ungido, a quem tomei o boi, a quem tomei o jumento, e a quem defraudei, a quem tenho oprimido, e de cuja mão tenho tomado presente e com ele encobri os meus olhos, e vo-lo restituirei.” A uma voz o povo respondeu: “Em nada nos defraudaste, nem nos oprimiste, nem tomaste coisa alguma da mão de ninguém”. 1 Samuel 12:1-4. Samuel não estava procurando meramente justificar sua conduta.
 Tinha previamente apresentado os princípios que deveriam governar tanto o rei como o povo, e desejava acrescentar às suas palavras o peso de seu exemplo. Desde a meninice havia estado ligado com a obra de Deus, e durante sua longa vida tivera sempre um único objetivo diante de si — a glória de Deus e o máximo bem de Israel. Antes que pudesse haver qualquer esperança de prosperidade para Israel, deveriam eles ser levados ao arrependimento diante de Deus. Em conseqüência do pecado, tinham perdido a fé em Deus e o discernimento acerca de Seu poder e sabedoria para governar a nação perderam a confiança em Sua habilidade para reivindicar Sua causa.
 Antes de poderem encontrar a verdadeira paz, deveriam ser levados a ver e confessar o próprio pecado de que haviam sido culpados. Tinham declarado ser este o objetivo no pedido de um rei: “O nosso rei nos julgará, e sairá diante de nós, e fará as nossas guerras”. 1 Samuel 8:20. Samuel contou novamente a história de Israel, desde o dia em que Deus os tirou do Egito. Jeová, o Rei dos reis, tinha ido diante deles, e pelejara suas guerras. Muitas vezes seus pecados os haviam entregue em poder de seus inimigos, mas apenas se desviavam de seus maus caminhos e a misericórdia de Deus suscitava um libertador.
 O Senhor enviou Gideão e Baraque, “e a Jefté, e a Samuel; e livrou-vos da mão de vossos inimigos, em redor, e habitastes seguros”. Contudo, quando ameaçados de perigo, declararam: “Reinará sobre nós um rei”, sendo, disse o profeta, “o Senhor vosso Deus o vosso Rei”. “Agora, pois”, continuou Samuel, “ponde-vos também agora aqui, vede esta grande coisa que o Senhor vai fazer diante dos vossos olhos.
 Não é hoje a sega dos trigos? clamarei, pois, ao Senhor, e dará trovões e chuva; e sabereis e vereis que é grande a vossa maldade que tendes feito perante o Senhor, pedindo para vós um rei. Então invocou Samuel ao Senhor, e o Senhor deu trovões e chuva naquele dia.” No tempo da colheita do trigo, em Maio e Junho, não caía chuva no Oriente.
 O céu estava sem nuvens, e o ar sereno e agradável. Uma tempestade tão violenta naquela ocasião encheu de temor todos os corações. Com humilhação o povo confessou agora o seu pecado, o próprio pecado de que haviam sido culpados: “Roga pelos teus servos ao Senhor teu Deus, para que não venhamos a morrer; porque a todos os nossos pecados temos acrescentado este mal, de pedirmos para nós um rei”. 1 Samuel 12:11-19. Samuel não deixou o povo em estado de desânimo, pois isto teria impedido todo o esforço para uma vida melhor.
 Satanás levá-los-ia a considerar Deus como severo e implacável, e assim estariam expostos a muitas tentações. Deus é misericordioso e perdoador, desejando sempre mostrar favor para com Seu povo, quando este obedece à Sua voz. “Não temais”, foi a mensagem de Deus pelo Seu servo; “vós tendes cometido todo este mal; porém não vos desvieis de seguir ao Senhor, mas servi ao Senhor com todo o vosso coração. E não vos desvieis; pois seguiríeis as vaidades, que nada aproveitam, e tampouco vos livrarão, porque vaidades são.
 Pois o Senhor não desamparará o Seu povo.” Samuel nada disse quanto à indiferença que havia sido mostrada para com ele; não proferiu exprobração pela ingratidão com que Israel havia pago sua longa vida de dedicação; antes, assegurou-lhes seu incessante interesse por eles: “Longe de mim que eu peque contra o Senhor, deixando de orar por vós; antes vos ensinarei o caminho bom e direito.
 Tão-somente temei ao Senhor, e servi-O fielmente com todo o vosso coração; porque vede quão grandiosas coisas vos fez. Porém, se perseverardes em fazer mal, perecereis, assim vós como o vosso rei”. 1 Samuel 12:20-25.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

ISAIAS- Eis aqui está o vosso Deus "Bendito seja para sempre"

 “Eis aqui está o vosso Deus” Nos dias de Isaías as faculdades espirituais da humanidade haviam sido entenebrecidas por uma errônea compreensão de Deus. Durante muito tempo Satanás procurara levar os homens a olhar o seu Criador como o autor do pecado, do sofrimento e morte. Os que ele havia assim enganado, tinham a Deus na conta de duro e exigente. Imaginavam-no como atento para denunciar e condenar, maldisposto em receber o pecador enquanto houvesse uma escusa legal para não auxiliá-lo. A lei de amor pela qual o Céu é regido, havia sido falsamente apresentada pelo arqui enganador com uma restrição imposta à felicidade do homem, um pesado jugo do qual deviam sentir-se alegres por se verem livres.
Ele declarou que os preceitos, dessa lei não podiam ser obedecidos, e que as penalidades da transgressão eram impostas arbitrariamente. Havendo perdido de vista o verdadeiro caráter de Jeová, os israelitas ficaram sem escusa. Não raro havia Deus Se revelado a eles como “um Deus cheio de compaixão, e piedoso, sofredor, e grande em benignidade e em verdade”. Salmos 86:15. “Quando Israel era menino”, Ele testificou, “Eu o amei, e do Egito chamei o Meu filho”. Oséias 11:1. Ternamente havia o Senhor tratado com Israel em seu livramento do cativeiro egípcio e em sua jornada para a terra prometida. “Em toda angústia deles foi Ele angustiado, e o anjo de Sua face os salvou; pelo Seu amor, e pela Sua compaixão Ele os remiu; e os tomou, e os conduziu todos os dias da antiguidade”. Isaías 63:9. “Irá a Minha presença contigo” (Êxodo 33:14), foi a promessa feita durante a viagem através do deserto.
Essa garantia foi acompanhada por uma maravilhosa revelação do caráter de Jeová, a qual capacitou Moisés a proclamar a todo o Israel a bondade de Deus, e a instruí-lo cabalmente quanto aos atributos do seu invisível Rei. “Passando pois o Senhor perante a sua face, clamou: Jeová, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniqüidade, e a transgressão, e o pecado; que ao culpado não tem por inocente”. Êxodo 34:6, 7.
Foi sobre seu conhecimento da longanimidade de Jeová e de Seu infinito amor e misericórdia, que Moisés baseou sua maravilhosa intercessão pela vida de Israel quando, nos limites da terra prometida eles se recusaram a avançar em obediência ao mando de Deus. No clímax de sua rebelião o Senhor havia declarado: “Com pestilência o ferirei, e o rejeitarei”; e Se propusera fazer dos descendentes de Moisés “povo maior e mais forte do que este”. Números 14:12.
Mas o profeta pleiteou a maravilhosa providência e promessas de Deus em favor da nação escolhida. E então, como o mais forte de todos os argumentos, lembrou o amor de Deus pelo homem caído. Números 14:17-19. Graciosamente o Senhor respondeu: “Conforme à tua palavra lhe tenho perdoado”. E então Ele fez Moisés participante, na forma de uma profecia, do conhecimento de Seu propósito concernente ao triunfo final de Israel: “Tão certamente como Eu vivo”, Ele declarou, “que a glória do Senhor encherá toda a Terra”. Números 14:20, 21. A glória de Deus, Seu caráter, Sua misericordiosa bondade e terno amor — aquilo que Moisés havia pleiteado em favor de Israel — devia ser revelado a toda a humanidade. E esta promessa de Jeová foi feita duplamente segura; foi confirmada por um juramento. Tão certamente como Deus vive e reina, seria anunciada “entre as nações a Sua glória; entre todos os povos as Suas maravilhas”. Salmos 96:3.
Foi com respeito ao futuro cumprimento desta profecia que Isaías tinha ouvido os gloriosos serafins cantando perante o trono: “Toda a Terra está cheia da Sua glória”. Isaías 6:3. O profeta, confiante na certeza destas palavras, declarara ousadamente mais tarde, ele próprio, a respeito daqueles que se curvavam ante imagens de madeira e pedra: “Eles verão a glória do Senhor, e a excelência do nosso Deus”. Isaías 35:2.
Hoje esta profecia está encontrando rápido cumprimento. As atividades missionárias da igreja de Deus na Terra estão produzindo rico fruto, e logo a mensagem evangélica terá sido proclamada a todas as nações. “Para louvor e glória da Sua graça”, homens e mulheres de toda raça, língua e povo estão sendo feitos “agradáveis a si no Amado”, para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da Sua graça, pela benignidade para conosco em Cristo Jesus”. Efésios 1:6; 2:7. “Bendito seja o Senhor Deus, o Deus de Israel, que só Ele faz maravilhas. E bendito seja para sempre o Seu nome glorioso, e encha-se toda a Terra da Sua glória”. Salmos 72:18, 19.
Na visão dada a Isaías no recinto do templo, foi-lhe propiciado ver claramente o caráter do Deus de Israel. “O alto e o sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é santo”, havia-lhe aparecido em grande majestade; contudo, ao profeta fora feito compreender a natureza compassiva de seu Senhor. Aquele que habita “num alto e santo lugar”, habita “também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos”. Isaías 57:15.
anjo comissionado para tocar os lábios de Isaías levara-lhe a mensagem: “Tua iniqüidade foi tirada, e purificado o teu pecado”. Isaías 6:7. Pelo contemplar a seu Deus, o profeta, como Saulo de Tarso às portas de Damasco, não tinha recebido somente visão de sua própria indignidade; ao seu coração humilhado viera a certeza de perdão, pleno e livre; e ele se tornara um homem mudado. Havia visto o seu Senhor.
Apanhara um lampejo da amabilidade do caráter divino. Podia testificar da transformação que se operara pela contemplação do Infinito Amor. Daí em diante ele fora inspirado com o incontido desejo de ver o transviado Israel livre do fardo e penalidade do pecado. “Por que seríeis ainda castigados?” o profeta inquirira. “Vinde então, e arguí-Me, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã”. “Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos Meus olhos; cessai de fazer mal. Aprendei a fazer bem”. Isaías 1:5, 18, 16, 17.
O Deus a quem tinham estado professando servir, mas cujo caráter haviam mal compreendido, fora posto diante deles como o grande Médico da enfermidade espiritual. Que importava estivesse toda a cabeça enferma, e todo o coração fraco? que desde a planta do pé até à cabeça não houvesse coisa sã, senão feridas, e inchaços e chagas podres? Isaías 1:6.
Aquele que estivera seguindo obstinadamente o caminho do seu coração podia encontrar cura volvendo para o Senhor. “Eu vejo os seus caminhos”, o Senhor declarou, “e os sararei; também os guiarei, e lhes tornarei a dar consolações. [...] Paz, paz, para os que estão longe, e para os que estão perto, diz o Senhor, e Eu os sararei”. Isaías 57:18, 19. O profeta exaltou a Deus como o Criador de todos. Sua mensagem às cidades de Judá foi: “Eis aqui está o vosso Deus”. Isaías 40:9. “Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus, e os estendeu, e formou a Terra, e a tudo quanto produz” (Isaías 42:5); “Eu sou o Senhor que faço todas as coisas” (Isaías 44:24); “Eu formo a luz, e crio as trevas;” “Eu fiz a Terra, e criei nela o homem; Eu o fiz: as Minhas mãos estenderam os céus, e a todos os seus exércitos dei as Minhas ordens”. Isaías 45:7, 12. “A quem pois Me fareis semelhante, para que lhe seja semelhante? diz o Santo.
Levantai ao alto os vossos olhos, e vede quem criou estas coisas, quem produz por conta o seu exército, quem a todas chama pelos seus nomes; por causa da grandeza das Suas forças, e pela fortaleza do Seu poder, nenhuma faltará”. Isaías 40:25, 26. Aos que temiam não ser recebidos se retornassem a Deus, o profeta declarou: “Por que pois dizes, ó Jacó, e tu falas, ó Israel: O meu caminho está encoberto ao Senhor, e o meu juízo passa de largo pelo meu Deus? Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos fins da Terra, nem Se cansa nem Se fatiga? não há esquadrinhação do Seu entendimento.
Dá esforço ao cansado, e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansarão e se fatigarão, e os mancebos certamente cairão, mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças, subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão”. Isaías 40:27-31. O coração do Infinito Amor anseia pelos que se sentem desprovidos de forças para se livrarem dos laços de Satanás; e graciosamente Se oferece para fortalecê-los, a fim de que vivam para Ele. “Não temas”, ordena Ele, “porque Eu sou contigo; não te assombres, porque Eu sou teu Deus; Eu te esforço, Eu te ajudo, e te sustento com a destra da Minha justiça”. “Eu, o Senhor teu Deus, te tomo pela tua mão direita, e te digo: Não temas, que Eu te ajudo. Não temas, ó bichinho de Jacó, povozinho de Israel; Eu te ajudo, diz o Senhor, e o teu Redentor é o Santo de Israel”. Isaías 41:10, 13, 14.
Os habitantes de Judá eram todos indignos, contudo Deus não os abandonaria. Por eles Seu nome devia ser exaltado entre os pagãos. Muitos que eram inteiramente desconhecedores de Seus atributos, deviam ainda contemplar a glória do divino caráter. Foi com o propósito de tornar claros Seus misericordiosos desígnios que Ele persistiu em enviar Seus servos os profetas com a mensagem: “Convertei-vos agora cada um do seu mau caminho”. Jeremias 25:5. “Por amor do Meu nome”, declarou Ele a Isaías, “retardarei a Minha ira, e por amor do Meu louvor Me conterei para contigo, para que te não venha a cortar”. “Por amor de Mim, por amor de Mim o farei, porque como seria profanado o Meu nome? e a Minha glória não a darei a outrem”. Isaías 48:9, 11.
O chamado para arrependimento soara com inconfundível clareza, e todos foram convidados a retornar. “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar”, o profeta clamava, “invocai-O enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que Se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar”. Isaías 55:6, 7. Tem você, leitor, escolhido, o seu próprio caminho? Tem vagueado longe de Deus? Tem procurado banquetear-se com os frutos da transgressão, apenas para verificar que são cinza em seus lábios? E agora, subvertidos os planos de sua vida e suas esperanças fenecidas, assenta-se você em desolação e solidão? Aquela voz que há muito lhe tem falado ao coração, mas a que você não tem dado ouvidos, chega-lhe distinta e clara: “Levantai-vos, e andai, porque não será aqui o lugar do vosso descanso; por causa da corrupção que destrói, sim, que destrói grandemente”. Miquéias 2:10.
Retorne para a casa de seu Pai. Ele o convida, dizendo: “Torna-te para Mim, porque Eu te remi”. Isaías 44:22. “Vinde a Mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei um concerto perpétuo, dando-vos as firmes beneficências de Davi”. Isaías 55:3.
Não atenda à sugestão do inimigo de persistir longe de Cristo até que você mesmo tenha se tornado melhor; até que seja suficientemente bom para vir a Deus. Se esperar até então, jamais virá. Quando Satanás apontar para as suas vestes imundas, repita a promessa do Salvador: “O que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. João 6:37. Diga ao inimigo que o sangue de Jesus Cristo purifica de todo o pecado. Faça sua própria a oração de Davi: “Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve”. Salmos 51:7.
As exortações do profeta de Judá para que contemplassem o Deus vivo, e para que aceitassem Seu gracioso oferecimento, não foram em vão. Houve alguns que deram fervorosa atenção, e que voltaram de seus ídolos para o culto de Jeová. Em seu Criador eles aprenderam a ver amor, misericórdia e terna compaixão. E nos dias negros que estavam para sobrevir na história de Judá, quando apenas um remanescente devia ser deixado na terra, as palavras do profeta deviam continuar produzindo fruto em decidida reforma. “Naquele dia”, declarou Isaías, “atentará o homem para o seu Criador, e os seus olhos olharão para o Santo de Israel. E não atentará para os altares, obra das suas mãos, nem olhará para o que fizeram seus dedos, nem para os bosques, nem para as imagens do Sol”. Isaías 17:7, 8. Muitos deveriam contemplar Aquele que é totalmente desejável, o que leva a bandeira entre dez mil. “Os teus olhos verão o Rei na Sua formosura”, era a graciosa promessa a eles feita. Seus pecados deviam ser perdoados, e eles deviam exultar somente em Deus. Nesse alegre dia da redenção da idolatria, eles exclamariam: “O Senhor ali nos será grandioso, lugar de rios e correntes largas. [...] O Senhor é o nosso juiz; o Senhor é o nosso legislador; o Senhor é o nosso rei; Ele nos salvará”. Isaías 33:21, 22. As mensagens levadas por Isaías aos que escolhiam volver de seus maus caminhos, eram cheias de conforto e encorajamento.
Ouvi a palavra do Senhor por intermédio do Seu profeta: “Lembra-te destas coisas ó Jacó, e ó Israel. Porquanto és Meu servo; eu te formei; Meu servo és, ó Israel; não Me esquecerei de ti. Desfaço as tuas transgressões como a névoa, e os teus pecados como a nuvem; torna-te para Mim, porque Eu te remi”. Isaías 44:21, 22. “E dirás naquele dia: Graças Te dou, ó Senhor, Porque, ainda que Te iraste contra mim, a Tua ira se retirou, e Tu me consolaste. Eis que Deus é a minha salvação; eu confiarei, e não temerei, porque o Senhor Jeová é a minha força e o meu cântico, e Se tornou a minha salvação. [...] Cantai ao Senhor, porque fez coisas grandiosas; saiba-se isto em toda a Terra. Exulta e canta de gozo, ó habitante de Sião, porque grande é o Santo de Israel no meio de ti”. Isaías 12.
Só o Senhor é Deus, siga o caminho correto do Senhor Jesus e vivera na presença do Espirito Santo de Deus Vivo.
Tenha uma boa leitura e siga as Escrituras Sagradas ela é a Palavra de Deus dita pela boca do profeta.

22 A grande cidade de Nínive ou Moçul

22- A “grande cidade de Nínive” Entre as cidades do mundo antigo nos dias do reino de Israel dividido, uma das maiores foi Nínive, a capital do domínio assírio. Fundada sobre as férteis barrancas do Tigre, logo depois da dispersão da Torre de Babel, floresceu através dos séculos, até que se tornou “uma grande cidade, de três dias de caminho”. Jonas 3:3. No tempo de sua prosperidade temporal Nínive era um centro de crime e impiedade. A inspiração havia-a caracterizado como “cidade ensanguentada [...] toda cheia de mentiras e de rapina”. Naum 3:1.

Em linguagem figurada, o profeta Naum comparou Nínive a um leão cruel, rapinante. “Sobre quem”, interroga o profeta, “não passou continuamente a tua malícia?” Naum 3:19. Embora ímpia como havia-se tornado, Nínive não estava inteiramente entregue ao mal. Aquele que “está vendo a todos os filhos dos homens” (Salmos 33:13), e “descobre todas as coisas preciosas” (Jó 28:10), viu na cidade muitos que estavam procurando alguma coisa melhor e mais alta, os quais, se lhes fosse dada oportunidade para conhecer ao Deus vivo, afastariam de si as más obras, e O adorariam.

E assim, em Sua sabedoria Deus Se revelou a eles de maneira inconfundível, a fim de levá-los, se possível, ao arrependimento. O instrumento escolhido para esta obra foi o profeta Jonas, filho de Amitai. A ele veio a palavra do Senhor: “Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até Mim”. Jonas 1:1, 2. Como o profeta se pusesse a pensar nas dificuldades e aparentes impossibilidades desta comissão, foi tentado a pôr em dúvida a sabedoria do chamado. Do ponto de vista humano, parecia que nada se poderia ganhar em proclamar tal mensagem nesta cidade tão orgulhosa. Ele esqueceu por um momento que o Deus a quem servia era todo-sábio e todo-poderoso. Enquanto hesitava, duvidando ainda, Satanás sobrecarregou-o com o desencorajamento.
O profeta foi tomado de grande temor, e “se levantou para fugir de diante da face do Senhor para Társis”. Indo a Jope, e achando ali um navio pronto para zarpar, pagou a sua passagem, “e desceu para dentro dele, para ir com eles”. Jonas 1:3. No encargo que fora dado, havia sido confiada a Jonas uma pesada responsabilidade; contudo, Aquele que o havia mandado ir, estava apto a sustentar Seu servo e garantir-lhe o sucesso. Tivesse o profeta obedecido sem questionar, e ter-lhe-iam sido poupadas muitas experiências amargas e teria sido abundantemente abençoado. Não obstante, na hora do desespero de Jonas o Senhor não Se afastara dele. Através de uma série de provas e estranhas providências a confiança do profeta em Deus e em Seu infinito poder para salvar devia ser revivida. Se, quando o chamado lhe veio pela primeira vez, Jonas se tivesse demorado em calma consideração, teria verificado quão tolo seria qualquer esforço de sua parte para escapar à responsabilidade imposta sobre ele. Mas não por muito tempo foi-lhe permitido prosseguir tranquilamente em sua estulta fuga.

 “O Senhor mandou ao mar um grande vento, e fez-se no mar uma grande tempestade, e o navio estava para quebrar-se. Então temeram os marinheiros, e clamava cada um ao seu deus, e lançavam no mar as fazendas, que estavam no navio, para o aliviarem do seu peso; Jonas, porém, desceu aos lugares do porão e se deitou, e dormia um profundo sono”. Jonas 1:4, 5. Enquanto os marinheiros buscavam seus deuses pagãos pedindo socorro, o mestre do navio, excessivamente angustiado, foi em busca de Jonas, e disse: “Que tens, dormente? levanta-te, e invoca o teu Deus; talvez assim Deus Se lembre de nós, para que não pereçamos”. Jonas 1:6.

Mas as orações do homem que se tinha desviado do caminho do dever, não trouxeram qualquer auxílio. Os marinheiros, impressionados com o pensamento de que a estranha violência da tempestade refletia a ira dos seus deuses, propuseram como último recurso o lançamento de sortes, “para que saibamos”, disseram, “por que causa nos sobreveio este mal. E lançaram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas. Então lhe disseram: Declara-nos tu agora, por que razão nos sobreveio este mal. Que ocupação é a tua? e donde vens? qual é a tua terra? e de que povo és tu? “E ele lhes disse: Eu sou hebreu, e temo ao Senhor, o Deus do Céu, que fez o mar e a terra seca. “Então estes homens se encheram de grande temor, e lhe disseram: Por que fizeste tu isto? Pois sabiam os homens que fugia de diante do Senhor, porque ele lho tinha declarado. “E disseram-lhe: Que te faremos nós, para que o mar se acalme? porque o mar se elevava e engrossava cada vez mais. E ele lhes disse: Levantai-me, e lançai-me ao mar, e o mar se aquietará; porque eu sei que por minha causa vos sobreveio esta grande tempestade. “Entretanto, os homens remavam, esforçando-se por alcançar a terra; mas não podiam, porquanto o mar se ia embravecendo cada vez mais contra eles.

Então clamaram ao Senhor, e disseram: Ah! Senhor! nós Te rogamos! não pereçamos por causa da vida deste homem, e não ponhas sobre nós o sangue inocente; porque Tu, Senhor, fizeste como Te aprouve. E levantaram a Jonas, e o lançaram ao mar, e cessou o mar da sua fúria. Temeram, pois, estes homens ao Senhor com grande temor; e ofereceram sacrifícios ao Senhor, e fizeram votos. “Deparou, pois, o Senhor um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe”. Jonas 1:7-17. “E orou Jonas ao Senhor, seu Deus, das entranhas do peixe. E disse: Na minha angústia clamei ao Senhor, E Ele me respondeu; do ventre do inferno gritei, E Tu ouviste a minha voz. Porque Tu me lançaste no profundo, no coração dos mares, e a corrente me cercou; Todas as Tuas ondas e as Tuas vagas passaram por cima de mim. E eu disse: Lançado estou de diante dos Teus olhos; todavia tornarei a ver o templo da Tua santidade.

As águas me cercaram até à alma. O abismo me rodeou, e as águas se enrolaram na minha cabeça. E eu desci aos fundamentos dos montes; os ferrolhos da terra correram sobre mim para sempre; mas Tu livraste a minha vida da perdição, ó Senhor meu Deus. Quando desfalecia em mim a minha alma, eu me lembrei do Senhor; e entrou a Ti a minha oração, no templo da Tua santidade. Os que observam as vaidades vãs, deixam a sua própria misericórdia. Mas eu Te oferecerei sacrifício com a voz do agradecimento; o que votei pagarei. Do Senhor vem a salvação”. Jonas 2:1-9. Jonas aprendera afinal que “a salvação vem do Senhor”. Salmos 3:8. Com penitência e o reconhecimento da graça salvadora de Deus, veio o livramento. Jonas foi liberto dos perigos do profundo abismo, e foi lançado em terra seca. Uma vez mais é o servo de Deus comissionado para advertir Nínive. “E veio a palavra do Senhor segunda vez a Jonas, dizendo: Levanta-te, e vai à grande cidade de Nínive, e prega contra ela a pregação que Eu te disse”.

Desta vez ele não se deteve para questionar ou duvidar, mas obedeceu sem hesitação. “Levantou-se Jonas, e foi a Nínive, segundo a palavra do Senhor”. Jonas 3:1-3. Entrando na cidade, Jonas começou a pregar “contra ela” a mensagem: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida”. Jonas 3:4. De rua em rua ia ele fazendo soar a nota de advertência. A mensagem não foi em vão. O clamor que soava através das ruas da ímpia cidade ia passando de lábio em lábio, até que todos os habitantes tivessem ouvido o assustador anúncio. O Espírito de Deus imprimiu a mensagem em cada coração, e levou multidões a tremerem por causa de seus pecados, e a se arrependerem em profunda humilhação. “E os homens de Nínive creram em Deus; e proclamaram um jejum, e vestiram-se de saco, desde o maior, até o menor.

Porque esta palavra chegou ao rei de Nínive, e levantou-se do seu trono, e tirou de si os seus vestidos, e cobriu-se de saco, e assentou-se sobre a cinza. E fez uma proclamação, que se divulgou em Nínive, por mandado do rei e dos grandes, dizendo: Nem homens, nem animais, nem bois, nem ovelhas provem coisa alguma, nem se lhes dê pasto, nem bebam água. Mas os homens e os animais estarão cobertos de sacos, e clamarão fortemente a Deus, e se converterão, cada um do seu mau caminho, e da violência que há nas suas mãos.
Quem sabe se Se voltará Deus, e Se arrependerá, e Se apartará do furor da Sua ira, de sorte que não pereçamos?” Jonas 3:5-9. Sendo que rei e nobres, com todo o povo, grandes e pequenos, “se arrependeram com a pregação de Jonas” (Mateus 12:41), e uniram-se em clamar ao Deus do Céu, Sua misericórdia foi-lhes assegurada. “Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus Se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria, e não o fez”. Jonas 3:10. Sua condenação foi evitada; o Deus de Israel fora exaltado e honrado através do mundo pagão, e Sua lei foi reverenciada. Não seria senão muitos anos mais tarde que Nínive devia cair presa das nações vizinhas por causa do seu esquecimento de Deus e jactancioso orgulho.

Quando Jonas viu o propósito de Deus de poupar a cidade que, não obstante sua impiedade, tinha sido levada a se arrepender em saco e cinzas, devia ter sido o primeiro a se alegrar com a estupenda graça de Deus; mas ao contrário disto, ele permitiu que sua mente se demorasse sobre a possibilidade de ser considerado um falso profeta. Cioso de sua reputação, ele perdeu de vista o valor infinitamente maior das almas nessa cidade infortunada. A compaixão mostrada por Deus para com os arrependidos ninivitas desgostou “Jonas extremamente [...] e ficou todo ressentido”. “Não foi isso o que eu disse”, argumentou ele com o Senhor, “estando ainda na minha terra? Por isso me preveni, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus piedoso, e misericordioso, longânimo, e grande em benignidade, e que Te arrependes do mal”. Jonas 4:1, 2. Uma vez mais ele se rendeu a sua inclinação de questionar e duvidar, e uma vez mais foi oprimido com o desencorajamento.

Perdendo de vista os interesses dos outros, e sentindo como se melhor lhe fora morrer do que viver para ver a cidade poupada, em seu descontentamento exclamou: “Ó Senhor, tira-me a minha vida, porque melhor me é morrer do que viver”. “É razoável esse teu ressentimento?” o Senhor inquiriu. “Então Jonas saiu da cidade, e assentou-se ao oriente da cidade; e ali fez uma cabana, e se assentou debaixo dela, à sombra, até ver o que aconteceria. E fez o Senhor Deus nascer uma aboboreira, que subiu por cima de Jonas, para que fizesse sombra sobre a sua cabeça, a fim de o livrar do seu enfado; e Jonas se alegrou em extremo por causa da aboboreira”. Jonas 4:3-6. Então o Senhor deu a Jonas uma lição objetiva. Ele “enviou um bicho, no dia seguinte ao subir da alva, o qual feriu a aboboreira, e esta se secou.

E aconteceu que, aparecendo o Sol, Deus mandou um vento calmoso oriental, e o Sol feriu a cabeça de Jonas; e ele desmaiou, e desejou com toda a sua alma morrer, dizendo: Melhor me é morrer do que viver”. De novo Deus Se dirige a Seu profeta: “É acaso razoável que assim te enfades por causa da aboboreira? E ele disse: É justo que me enfade a ponto de desejar a morte”. “E disse o Senhor: Tiveste compaixão da aboboreira, na qual não trabalhaste, nem a fizeste crescer; que numa noite nasceu, e numa noite pereceu. E não hei de Eu ter compaixão da grande cidade de Nínive em que estão mais de cento e vinte mil homens, que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais?” Jonas 4:7-11. Confuso, humilhado e incapaz de compreender o propósito de Deus em poupar Nínive, Jonas havia, não obstante cumprido a comissão que lhe fora dada de advertir a grande cidade; e embora o acontecimento predito não se tivesse realizado, a mensagem de advertência não era de ninguém menos que de Deus.

 E ela cumpriu o propósito que Deus lhe designara. A glória de Sua graça fora revelada entre os pagãos. Os que havia muito estavam assentados “nas trevas e sombra da morte, presos em aflição e em ferro”, “clamaram ao Senhor na sua angústia, e Ele os livrou das suas necessidades. Tirou-os das trevas e sombra da morte, e quebrou as suas prisões. [...] Enviou a Sua palavra, e os sarou, e os livrou da sua destruição”. Salmos 107:10, 13, 14, 20. Cristo, durante Seu ministério terrestre, referiu-Se ao bem produzido pela pregação de Jonas em Nínive, e comparou os habitantes deste centro pagão com o professo povo de Deus em Seus dias. “Os ninivitas”, declarou Ele, “ressurgirão no juízo com esta geração, e a condenarão, porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis que está aqui quem é mais do que Jonas”. Mateus 12:40, 41.

A um mundo ocupado, cheio do burburinho do comércio e a altercação de transações, onde os homens estavam procurando obter tudo para si mesmos, Cristo viera; e acima da confusão, Sua voz foi ouvida como a trombeta de Deus: “Que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? ou que daria o homem pelo resgate da sua alma?” Marcos 8:36, 37. Assim como a pregação de Jonas fora um sinal para os ninivitas, a pregação de Cristo era um sinal para a Sua geração. Mas que contraste na recepção da palavra. Embora em face de indiferença e de escárnio, o Salvador trabalhou sempre, até que concluiu Sua missão.

A lição é para os mensageiros de Deus hoje, quando as cidades das nações encontram-se tão verdadeiramente em necessidade do conhecimento dos atributos e propósitos do verdadeiro Deus, como os ninivitas do passado. Os embaixadores de Cristo devem apontar aos homens o mundo mais nobre, que tem sido em grande parte perdido de vista. De acordo com os ensinamentos das Sagradas Escrituras, a única cidade que permanece é aquela cujo artífice e construtor é Deus. Com os olhos da fé os homens podem contemplar o limiar do Céu, iluminado com a glória do Deus vivo. Por intermédio de Seus servos ministradores o Senhor Jesus está convidando os homens a que se empenhem com santificada ambição no sentido de assegurarem a herança imortal.

Apela para eles a fim de que acumulem tesouros junto ao trono de Deus. Rápida e seguramente está vindo uma culpabilidade quase universal sobre os habitantes das cidades, devido ao constante aumento de decidida impiedade. A corrupção que prevalece está além do poder da pena humana descrever. Cada dia traz novas revelações de atritos, suborno e fraudes; cada dia traz seu desalentador registro de violência e arbitrariedade, de indiferença para com o sofrimento humano, de destruição brutal e perversa da vida humana.
Cada dia testifica sempre mais de insanidade, assassínio e suicídio. De século a século Satanás, tem procurado conservar os homens na ignorância dos beneficentes desígnios de Jeová. Ele tem procurado desviar-lhes de vista os grandes fatos da lei de Deus — os princípios de justiça, misericórdia e amor aí contidos.

Os homens se gloriam do maravilhoso progresso e esclarecimento do século em que estão agora vivendo; mas Deus vê a Terra cheia de iniqüidade e violência. Declaram os homens que a lei de Deus foi anulada, que a Bíblia não é autêntica; e como resultado uma maré de males, tal como não se tem visto desde os dias de Noé e do apóstata Israel, está tomando conta do mundo. Nobreza de alma, gentileza, piedade são permutadas para satisfazer a cobiça por coisas proibidas. O negro registro de crimes cometidos pelo amor ao ganho é suficiente para fazer gelar o sangue e encher a alma de horror. Nosso Deus é um Deus de misericórdia.

 Com longanimidade e terna compaixão Ele trata com o transgressor da Sua lei. E contudo, nestes nossos dias, quando homens e mulheres têm tantas oportunidades para se familiarizarem com a divina lei como revelada no Santo Escrito, o grande Governador do Universo não pode olhar com qualquer satisfação as ímpias cidades, onde reina a violência e o crime. O fim da tolerância de Deus com os que persistem na desobediência está se aproximando rapidamente. Devem os homens ficar surpreendidos com uma súbita e inesperada mudança no trato do Supremo Governador com os habitantes do mundo caído? Devem eles ficar surpreendidos quando a punição segue a transgressão e a crescente criminalidade? Devem-se surpreender de que Deus leve a destruição e a morte sobre aqueles cujo ganho ilícito tem sido obtido através do engano e fraude? Muito embora o fato de que crescente luz com respeito aos reclamos de Deus tem estado a brilhar em seu caminho, muitos têm-se recusado a reconhecer a soberania de Jeová, e têm escolhido permanecer sob a bandeira do originador de toda rebelião contra o governo do Céu.

A longanimidade de Deus tem sido muito grande — tão grande que quando consideramos o contínuo insulto a Seus santos mandamentos, ficamos maravilhados. O Onipotente tem estado a exercer um poder restringidor sobre Seus próprios atributos. Mas certamente Ele Se levantará para punir o ímpio, que tão ousadamente tem resistido aos justos reclamos do Decálogo. Deus concede ao homem um período de graça; mas há um ponto além do qual a divina paciência se esgota, e os juízos de Deus se seguem seguramente.
O Senhor trata pacientemente com os homens, e com cidades, misericordiosamente dando advertências para salvá-los da ira divina; mas virá o tempo quando não mais se ouvirão súplicas por misericórdia, e o elemento rebelde que continua a rejeitar a luz da verdade será riscado, em misericórdia para com eles mesmos, e para com aqueles que de outro modo seriam influenciados por seu exemplo. É chegado o tempo em que haverá no mundo tristeza que nenhum bálsamo humano pode curar. O Espírito de Deus está sendo retirado. Catástrofes por mar e por terra seguem-se umas às outras em rápida sucessão. Quão freqüentemente ouvimos de terremotos e furacões, de destruição pelo fogo e inundações, com grandes perdas de vidas e propriedades! Aparentemente essas calamidades são caprichosos desencadeamentos de forças da natureza, desorganizadas e desgovernadas, inteiramente fora do controle do homem; mas em todas elas pode ler-se o propósito de Deus. Elas estão entre os instrumentos pelos quais Ele busca despertar a homens e mulheres para que sintam o perigo.

Os mensageiros de Deus nas grandes cidades não devem sentir-se desanimar com a impiedade, a injustiça, a depravação a que são chamados a enfrentar enquanto procuram proclamar as alegres novas da salvação. O Senhor aspira confortar cada um desses obreiros com a mesma mensagem que deu ao apóstolo Paulo na ímpia Corinto: “Não temas, mas fala, e não te cales; porque Eu sou contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade”. Atos dos Apóstolos 18:9, 10. Lembrem-se, os que se empenham no ministério de salvar almas, que, conquanto haja muitos que não aceitarão o conselho de Deus em Sua Palavra, o mundo inteiro não se desviará da luz e verdade, dos convites de um Salvador perdoador e paciente. Em cada cidade, cheia como possa estar de violência e crime, há muitos que, devidamente ensinados aprendem a se tornar seguidores de Jesus. Milhares podem assim ser alcançados com a verdade salvadora e levados a receber Cristo como um Salvador pessoal.

A mensagem de Deus para os habitantes da Terra hoje é: “Estai vós apercebidos também; porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis”. Mateus 24:44. As condições predominantes hoje na sociedade, e especialmente nas grandes cidades das nações, proclamam com voz de trovão que a hora do juízo de Deus está próxima, e que o fim de todas as coisas terrestres é chegado. Estamos no limiar da crise dos séculos. Em rápida sucessão os juízos de Deus se seguirão uns aos outros — fogo, inundações e terremotos, com guerras e derramamento de sangue. Nós não devemos ser surpreendidos neste tempo por eventos a um tempo grandes e decisivos; pois o anjo de misericórdia não pode ficar muito tempo mais a proteger o impenitente. “Porque eis que o Senhor sairá do Seu lugar, para castigar os moradores da Terra, por causa da sua iniqüidade, e a terra descobrirá o seu sangue, e não encobrirá mais aqueles que foram mortos”. Isaías 26:21.

A tormenta da ira de Deus está-se acumulando; e subsistirão unicamente os que responderem ao convite de misericórdia, como os habitantes de Nínive pela pregação de Jonas, e se santificarem pela obediência às leis do divino Governante. Somente os justos serão escondidos com Cristo em Deus até que passe a desolação. Seja a linguagem da alma: “Só em Ti eu tenho abrigo, aos Teus pés está o meu ser; Não me deixes, sê comigo, Teu conforto eu quero ter. Guarda-me ó bom Salvador, té o temporal passar, Guia-me em Teu terno amor, para o eterno e doce lar.”
 Hoje  essa cidade é chamado de Moçul, mas nos tratados de teologia continua como Nínive por fazer referencia ao profeta menor Jonas. Essa pesquisa contém mais o tema investigativo da igreja Adventista do Sétimo dia, que traduz ao pé da letra.

O Carmelo os sacerdotes de Baal

11- O Carmelo

 Este capítulo é baseado em 1 Reis 18:19-40.

Uma vez perante Acabe, Elias propôs que todo o Israel fosse reunido juntamente com ele e os profetas de Baal e Astarote no Monte Carmelo. “Agora pois envia”, ordenou, “ajunta a mim todo o Israel no Monte Carmelo, como também os quatrocentos e cinqüenta profetas de Baal, e os quatrocentos profetas de Asera, que comem à mesa de Jezabel”. 1 Reis 18:19. 
A ordem fora dada por alguém que parecia estar na própria presença de Jeová, e Acabe obedeceu-a de pronto, como se o profeta fosse o monarca e o rei o súdito. Velozes mensageiros foram despachados por todo o reino, com a intimação de se reunirem com Elias e os profetas de Baal e Astarote. Em cada cidade e vila, o povo se preparou para se reunir no tempo indicado. Ao caminharem para o lugar, o coração de muitos se enchia de estranhos pressentimentos. 
Algo fora do comum estava para acontecer; senão, por que a ordem para se reunirem no Carmelo? Que nova calamidade estava para desabar sobre o povo e a terra? Antes da seca o Monte Carmelo era um lugar de beleza, seus ribeiros alimentando-se de fontes perenes e suas férteis escarpas cobertas de belas flores e luxuriantes bosques. Mas agora sua beleza empalideceu sob a fulminante maldição. Os altares erguidos para adoração de Baal e Astarote jaziam agora nos bosques desfolhados. Nas alturas de um dos mais elevados cumes, em marcante contraste com aqueles, estava o altar derribado de Jeová. 
O Carmelo dominava vasta extensão do país; suas elevações eram visíveis de muitos lugares do reino de Israel. Ao sopé do monte havia vantajosos pontos de onde se podia ver muito do que se passava em cima. Deus havia sido assinaladamente desonrado pelo culto idólatra que se realizava sob o dossel de suas escarpas arborizadas; e Elias escolheu essa elevação como o lugar mais visível para a manifestação do poder de Deus e a vindicação da honra de Seu nome. 
Logo na manhã do dia designado, as tribos do Israel reunido, em ansiosa expectativa aglomeraram-se próximo do cume do monte. Os profetas de Jezabel demandam o monte em marcha imponente. Com pompa real aparece o rei e toma posição à frente dos sacerdotes, e os idólatras saúdam-no com um grito de exclamação. Mas há apreensão no coração dos sacerdotes ao se lembrarem de que pela palavra do profeta a terra de Israel por três anos e meio fora privada de orvalho e chuva. Sentem com certeza que alguma terrível crise está iminente. 
Os deuses nos quais eles têm confiado não foram capazes de provar ser Elias um profeta falso. A seus gritos frenéticos, suas orações, suas lágrimas e humilhações, suas revoltantes cerimônias e sacrifícios custosos e constantes, os objetos de seu culto têm-se mostrado estranhamente indiferentes. Diante do rei Acabe e dos falsos profetas, e rodeado das tribos reunidas de Israel está Elias, o único que apareceu para reivindicar a honra de Jeová. 
Aquele a quem todo o reino tinha responsabilizado por sua carga de flagelo, está agora perante eles, aparentemente sem defesa na presença do soberano de Israel, dos profetas de Baal, dos homens de guerra e dos milhares que o rodeavam. Mas Elias não está sozinho. Acima e ao redor dele estão as forças protetoras do Céu — anjos magníficos em poder. Sem se envergonhar nem temer, o profeta está perante a multidão, inteiramente consciente de sua comissão, para executar a ordem divina. Seu rosto está iluminado com impressionante solenidade. Em ansiosa expectativa o povo aguarda que ele fale. 
Olhando primeiramente para o altar derribado de Jeová, e depois para a multidão, Elias exclama de maneira clara, em voz como de trombeta: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-O; e se Baal, segui-o”. 1 Reis 18:21. O povo nada respondeu. Ninguém nesse vasto auditório ousou manifestar lealdade a Jeová. Como densa nuvem, o engano e cegueira se espalhara sobre Israel. Não fora de uma vez que esta fatal apostasia se fechara em torno deles, mas gradualmente, à medida que de tempos em tempos tinham deixado de ouvir as palavras de advertência e reprovação que o Senhor lhes enviara. 
Cada desvio do reto proceder, cada recusa de arrependimento, tinham aprofundado sua culpa e os afastaram mais do Céu. E agora, nesta crise, eles persistiam na recusa de se colocarem ao lado de Deus. O Senhor aborrece a indiferença e deslealdade em tempo de crise em Sua obra. Todo o Universo está observando com inexprimível interesse as cenas finais da grande controvérsia entre o bem e o mal. O povo de Deus está-se aproximando do limiar do mundo eterno; que pode haver de mais importante para eles do que ser leais ao Deus do Céu? Em todos os séculos Deus tem tido heróis morais; e tem-nos agora — os que como José, Elias e Daniel, não se envergonham de se reconhecerem como Seu povo peculiar. 
Suas bênçãos especiais acompanham os esforços de homens de ação; homens que não se desviarão da linha reta do dever, mas que perguntarão com divina energia: “Quem é do Senhor”? (Êxodo 32:26), homens que não se deterão apenas no perguntar, mas exigirão que os que escolherem identificar-se com o povo de Deus prossigam e demonstrem sem sombra de dúvida sua obediência ao Rei dos reis e Senhor dos senhores. Tais homens subordinam sua vontade e planos à lei de Deus. Por amor a Ele, não têm a sua vida por preciosa. Seu trabalho é captar a luz da Palavra e deixá-la brilhar para o mundo em raios claros e firmes. 
Fidelidade a Deus é sua divisa. Enquanto Israel no Carmelo duvidava e hesitava, a voz de Elias de novo quebra o silêncio: “Eu só fiquei por profeta do Senhor, e os profetas de Baal são quatrocentos e cinqüenta homens. Dêem-se-nos, pois, dois bezerros; e eles escolham para si um dos bezerros, e o dividam em pedaços, e o ponham sobre a lenha, porém não lhe metam fogo; e eu prepararei o outro bezerro, e o porei sobre a lenha, e não lhe meterei fogo. Então invocai o nome do vosso deus e eu invocarei o nome do Senhor; e há de ser que o deus que responder por fogo esse será Deus”. 1 Reis 18:22-24. A proposta de Elias era tão razoável que o povo não pôde mesmo fugir a ela; encontraram pois coragem para responder: “É boa esta palavra”. 
Os profetas de Baal não ousaram erguer a voz para discordar; e dirigindo-se a eles, Elias lhes ordena: “Escolhei para vós um dos bezerros, e preparai-o primeiro, porque sois muitos, e invocai o nome do vosso deus, e não lhe metais fogo”. 1 Reis 18:24, 25. Aparentemente ousados e desafiadores, mas com o terror no coração culpado, os falsos sacerdotes preparam seu altar, pondo sobre ele a lenha e a vítima; e tem início suas fórmulas de encantamento. Seus estridentes gritos ecoam e reboam através das florestas e dos promontórios, enquanto invocam o nome do seu deus, dizendo: “Ah, Baal, responde-nos!” 1 Reis 18:26. 
Os sacerdotes se aglomeram em torno de seu altar, e com saltos e contorções e gritos histéricos, arrancando os cabelos e retalhando as próprias carnes, suplicam a seu deus que os ajude. Passa-se a manhã, aproxima-se o meio-dia, e contudo não há evidência de que Baal ouça o clamor de seus enganados seguidores. Não há voz, nem resposta a suas frenéticas orações. O sacrifício permanece inconsumado. Enquanto continuam com suas exaltadas devoções, os astutos sacerdotes estão continuamente procurando imaginar algum meio pelo qual possam acender o fogo sobre o altar e levar o povo a crer que o fogo viera diretamente de Baal. Mas Elias lhes vigia cada movimento; e os sacerdotes, esperando contra a esperança de alguma oportunidade para a fraude, prosseguem com suas insensatas cerimônias. 
“E sucedeu que ao meio-dia Elias zombava deles, e dizia: Clamai em altas vozes, porque ele é um deus; pode ser que esteja falando, ou que tenha alguma coisa que fazer, ou que intente alguma viagem; porventura dorme, e despertará. E eles clamavam a grandes vozes, e se retalhavam com facas e com lanças, conforme ao seu costume, até derramarem sangue sobre si. E sucedeu que, passado o meio-dia, profetizaram eles, até que a oferta de manjares se oferecesse; porém não houve voz nem resposta, nem atenção alguma”. 1 Reis 18:27-29. Alegremente Satanás teria vindo em socorro desses a quem havia enganado, e que eram devotados a seu serviço. Alegremente ele teria enviado o fogo para queimar o sacrifício. 
Mas Jeová havia fixado limites a Satanás — restringira seu poder — e nem todos os artifícios do inimigo podiam lançar sobre o altar de Baal uma única centelha. Afinal, roucos de tanto gritar, as vestes maculadas com o sangue das feridas que a si mesmos se haviam infligido, os sacerdotes ficam desesperados. 
Com furor inquebrantável, misturam a suas súplicas terríveis maldições de seu deus-sol; e Elias continua a observar atentamente; ele sabe que se por qualquer artifício os sacerdotes lograrem lançar fogo sobre o altar, ele será feito em pedaços num momento. É chegada a tarde. Os profetas de Baal estão fatigados, abatidos, confusos. Um sugere uma coisa, outro outra coisa, até que finalmente cessam seus esforços. Suas maldições e gritos estridentes não mais ressoam sobre o Carmelo. Em desespero retiram-se da luta. Durante todo o longo dia, o povo havia testemunhado as demonstrações dos frustrados sacerdotes. 
Haviam contemplado seus saltos selvagens sobre o altar, como se desejassem captar os raios do Sol para que servissem a seus propósitos. Eles haviam olhado com horror para as bárbaras mutilações infligidas a si mesmos pelos sacerdotes, e tinham tido a oportunidade de refletir sobre a loucura da adoração de ídolos. Muitos dentre a multidão estão fartos das exibições de demonismo, e aguardam agora com o mais profundo interesse os movimentos de Elias. É a hora do sacrifício da tarde, e Elias convida o povo: “Chegai-vos a mim”. 
Aproximando-se eles a tremer, ele se volta para o altar derribado onde uma vez os homens haviam adorado ao Deus do Céu, e repara-o. Para ele esse montão de ruínas é mais precioso que todos os magnificentes altares do paganismo. Na reconstrução deste antigo altar, Elias revelava seu respeito pelo concerto que o Senhor havia feito com Israel quando este transpôs o Jordão para a terra prometida. Escolhendo “doze pedras, conforme o número das tribos dos filhos de Jacó, [...] edificou o altar em nome do Senhor”. 1 Reis 18:30-32. Os desapontados sacerdotes de Baal, exaustos pelos inúteis esforços, esperam para ver o que Elias fará. 
Eles odeiam o profeta por haver proposto uma prova que expusera as fraquezas e ineficiência de seus deuses; contudo temem o seu poder. O povo, igualmente temeroso, e com a respiração quase suspensa ante a expectativa, observa enquanto Elias continua seus preparativos. O porte calmo do profeta ergue-se em agudo contraste com o frenesi fanático e insensato dos seguidores de Baal. Reconstruído o altar, o profeta, abre um rego em torno dele, e havendo posto a lenha em ordem e preparado o bezerro, coloca a vítima sobre o altar, e ordena ao povo que inunde com água o sacrifício e o altar. “Enchei de água quatro cântaros”, ordenou, “e derramai-a sobre o holocausto e sobre a lenha. E disse: Fazei-o segunda vez; e o fizeram segunda vez. Disse ainda: Fazei-o terceira vez; e o fizeram terceira vez. De maneira que a água corria ao redor do altar; e ainda até o rego encheu de água”. 1 Reis 18:34, 35. 
Trazendo à lembrança do povo a longa e continuada apostasia que havia despertado a ira de Jeová, Elias convida-os a humilhar seus corações e tornar para o Deus de seus pais, para que fosse removida a maldição de sobre a terra de Israel. Então inclinando-se reverente ante o invisível Deus, ele ergue as mãos para o céu, e oferece uma singela oração. Os sacerdotes de Baal haviam gritado e espumado e dado saltos desde a manhã até à tarde; mas com a oração de Elias, nenhum clamor insensato ecoa nas alturas do Carmelo. Ele ora como se soubesse que Jeová está ali, testemunhando a cena, atento a seu apelo. Os profetas de Baal haviam orado selvagemente, incoerentemente. Elias ora com simplicidade e fervor, pedindo que Deus mostre Sua superioridade sobre Baal, para que Israel pudesse ser reconduzido a Ele. “Ó Senhor, Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó”, o profeta suplica, “manifeste-se hoje que Tu és Deus em Israel, e que eu sou Teu servo, e que conforme a Tua palavra fiz todas estas coisas. 
Responde-me, Senhor, responde-me para que este povo conheça que Tu, Senhor, és Deus, e que Tu fizeste tornar o seu coração para trás”. 1 Reis 18:36, 37. Um silêncio opressivo em sua solenidade cai sobre todos. Os sacerdotes de Baal tremem de terror. Cônscios de sua culpa, temem imediata retribuição. Mal havia a oração de Elias terminado, e chamas de fogo, como brilhantes relâmpagos, descem do céu sobre o altar erguido, consumindo o sacrifício, lambendo a água do rego e devorando as próprias pedras do altar. 
O brilho das chamas ilumina o monte e ofusca os olhos da multidão. Nos vales abaixo, onde muitos estão observando em ansiosa expectativa os movimentos dos que estão em cima, a descida do fogo é claramente vista, e todos ficam maravilhados com o espetáculo. Ele lembra a coluna de fogo que no Mar Vermelho separou das tropas egípcias os filhos de Israel. O povo sobre o monte prostra-se em reverência perante o Deus invisível. 
Não se atrevem a olhar para o céu a enviar fogo. Temem ser eles próprios consumidos; e, convictos de seu dever em reconhecer o Deus de Elias como o Deus de seus pais, a quem devem obediência, clamam a uma voz: “Só o Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus!” 1 Reis 18:39. Com impressionante distinção o grito ressoa sobre o monte e ecoa pela planície. Afinal Israel está desperto, esclarecido, penitente. O povo vê por fim quão grandemente havia desonrado a Deus. 
O caráter do culto de Baal, em contraste com a sensata adoração requerida pelo verdadeiro Deus, está plenamente revelado. O povo reconhece a justiça e misericórdia de Deus em haver retido o orvalho e a chuva até que tivessem sido levados a confessar o Seu nome. Agora estão prontos a admitir que o Deus de Elias está acima de qualquer ídolo. 
Os sacerdotes de Baal testemunham consternados a maravilhosa revelação do poder de Jeová. Não obstante em sua frustração e na presença da divina glória, recusam arrepender-se de suas obras más. Desejam ainda permanecer como profetas de Baal. Mostravam assim estar amadurecidos para a destruição. Para que o arrependido Israel possa ser protegido do engodo daqueles que lhe ensinaram a adoração a Baal, Elias recebe ordem de Deus para destruir esses falsos ensinadores. 
A ira do povo havia sido já ativada contra os líderes em transgressão; e quando Elias lhes deu a ordem: “Lançai mão dos profetas de Baal; que nenhum deles escape” (1 Reis 18:40), foram prontos em obedecer. Eles se apoderaram dos sacerdotes, e levaram-nos ao ribeiro de Quisom, e ali, antes que findasse o dia que havia marcado o início de decidida reforma, os sacerdotes de Baal são mortos. A nenhum é permitido viver.