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domingo, 9 de junho de 2024

FACULDADE E SEMINÁRIO TEOLÓGICO NACIONAL 01

  

FACULDADE E SEMINÁRIO TEOLÓGICO NACIONAL
 














ORDENAÇÃO DE MULHERES AO MINISTÉRIO PASTORAL







VALDECI FIDELIS





PRESIDENTE PRUDENTE-SP
 2018    


VALDECI FIDELIS








ORDENAÇÃO DE MULHERES AO MINISTÉRIO PASTORAL






   TCC apresentado ao Curso de Mestrado em 
Teologia Livre da Faculdade e Seminário Teológico 
Nacional, como requisito parcial para a 
Obtenção do título de Mestre.








PROF. EDSON MARQUES
Orientador  


PRESIDENTE PRUDENTE-SP
2018
DEDICATÓRIA

Ao meu orientador Prof. Edson Marques. Pelas orientações firmes e cultivadas a leitura e incentivo à ampliação deste trabalho. Minhas orações ao bom Deus eterno e ao Seu Filho Jesus Cristo que ele continue ricamente abençoando poderosamente e a usá-lo na obra em todas as nações.
Ao Senhor Deus pelas forças e capacidade para a conquista de mais um objetivo.
À minha família amada pelo carinho e estímulos.
Aos meus amigos e irmãos em Cristo Jesus em meu ministério pelo companheirismo, pelos os ânimos e contribuições.
Ao meu orientador que mesmo a distância como amigo Prof. Edson Marques, pelos incentivos e tolerâncias em contribuição ao meu aprendizado e pelo interesse em minha vida como cristão.
À Faculdade e Seminário Teológico Nacional pela oportunidade em obter esta formação cuja contribuição foi imensa para a qualidade da obra no Reino de Deus.

(Este TCC foi aprovado pelo departamento pedagógico banca examinadora em 08/05/2018, recebeu a nota 9,7)


















SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO…………………………………………………………………...............…...07
2 A IMPORTÂNCIA DOS TEXTOS PAULINOS NA ORDENAÇÃO DE MULHERES AO MINISTÉRIO PASTORAL..............................................................................................07
2.1GÁLATA3.26-29…………………...............................................................................08
2.2 ICORÍNTIOS 11-14…………………………………….......…….........................…….....11
2.3 I TIMÓTEO 2.8-15……………………………………………….......……….....................17

3 UMA SUGESTÃO TEOLÓGICA PAULINA PARA ORDENAÇÃO DE MULHERES AO MINISTÉRIO PASTORAL...……………………………….............................................…...20
3.1 A TEOLOGIA PAULINADAS DUAS ERAS…………………………………......................20
3.2 A EXISTÊNCIA DA IGREJA NAS DUAS ERAS……………………21
3.3 A ESPERANÇA DA ORDENAÇÃO DA MULHER COMO PASTORA FEMININA………………………………………………………………………..........................28
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS………………………………............................  ……………..31
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS……………………………................................……..33

FIDELIS, Valdeci. Ordenação de mulheres ao Ministério Pastoral. 2018 nº 42 folhas 
TCC Mestrado em Teologia Livre Faculdade Teológica Nacional, Presidente   Prudente, 2018.




RESUMO

Inicia-se aqui uma linha de investigação que tem por tema como objetivo pesquisar por meio de uma breve avaliação da Bíblia na evangelização com bases nos textos e teologia escriturísticas para entender o cumprimento do apóstolo Paulo e saber se ele deu entender na Bíblia a evangelização de um futuro na ordenação de mulheres ao santo ministério pastoral. Considera três textos de suma importância para o assunto que são: Gálatas 3.26-29, I Coríntios 11-14 e I Timóteo 2.8-15. Aprendemos ao comentar a teologia paulina que fala de duas eras: a contemporânea, que se iniciou da queda de Adão e a nova era que foi inaugurada por Jesus com sua morte e ressurreição. O povo da nova era de Jesus Cristo é a Igreja, igreja não é prédio é grupo daqueles que creem nele. O que a Sociologia chama de grupos sociais em uma cultura de ciências dos homens, a Bíblia chama de Eclésia ou igreja. Saber que a Igreja vive através da evangelização embasada na Bíblia em duas eras ao mesmo tempo e deve conciliar estas vivências bíblicas, de um novo interesse em uma nova abordagem dos Dons Ministeriais, especificamente da evangelização do ministério pastoral feminino, igreja na Escritura Sagrada significa “os chamados para fora” Diz a Escritura que Cristo voltará para buscar aqueles que pertencerão a esse reino. Viver na nova era de Cristo significa que através da Bíblia a evangelização e alcançar os princípios desta nova vida, que é a de Deus vivo. Viver na era antiga significa enxergar, dentro de cada sociedade e cultura, o que é bom e o que é mal. Esta percepção leva a Igreja a concordar com os costumes das localidades e temporais, porém fundamentado no propósito de modificá-los, os chamados para fora, as Escrituras dizem que Jesus voltará, para buscar aqueles que pertencerão a este reino que a igreja sempre de acordo com a evangelização e os princípios de superioridade da nova era em Cristo. Três tradições do período de Paulo são apresentadas: o matrimônio de um com muitos, ou a poligamia, a sujeição ou escravidão, e a submissão da mulher na sociedade e na Igreja. Para cada um desses problemas, Paulo consegue habituar-se, porque são tradições sociais da era em que vivia. Paulo faz isto baseado no princípio de não colocar “pedras de tropeço” na Igreja a fim do evangelho ser pregado sem exceção e ao mesmo tempo mais pessoas através da evangelização em massa sejam salvas. Ao mesmo momento, sua orientação acenderá uma brecha nos meios filosóficos e ideológicos que amparam estes costumes. Por conclusão, os princípios elevados da teologia paulina na evangelização levam ao acordo de que a transformação da cultura da sociedade cria uma nova atitude da Igreja no sentido de vivenciar seus princípios elevados. Com a transformação cultural, abre-se a probabilidade da mulher ter sua ordenação ao ministério feminino e ser pastora. Permanecem de pé as aberturas paulinas de que não devemos botar “pedras de tropeço culturais” e que as pessoas cheguem a Cristo e que nele “não há homem, nem mulher”.

Palavras-chaves: Ordenação Ministério pastoral. Textos e princípios paulinos.




1    INTRODUÇÃO
 O argumento bíblico para evangelização e a importância dos textos paulinos na ordenação de mulheres ao ministério pastoral feminino é indefinidamente uma atitude muito criticada no movimento evangélico brasileiro. Na Assembleia da Convenção Batista Brasileiro, por exemplo, permanece uma intransigente discussão hoje a respeito do argumento. Em 2012, em sua assembleia anual, a Ordem dos Pastores Batistas do Brasil decidiu que pastoras poderiam filiar-se à Ordem, e, em cada Secção Estadual os pastores filiados eram quem decidiriam sobre a aceitação ou não de ordenação de mulheres pastoras, onde muitas foram ordenadas “pastora” e nas suas regionais são chamadas de missionárias (CINTRA, 2015). As mesmas contendas acontecem nas igrejas históricas, pentecostais e neopentecostais. A diferença entre tradicionais (os que não aceitam pastoras) e igualdades (os que aceitam) está muito exaltada, tanto na área bíblica como no ético-social. Teólogos têm se despontado sobre o assunto e, como é de costume, divididos (neste TCC, Culver, Foh, Lopes e Grudem são contrários; Liefeld e Mickelsen são favoráveis).
Para os que crêem na criação divina e a verdade da Bíblia, a derradeira palavra precisa vir dela. A análise das Sagradas Escrituras, nos escritos que aborda neste argumento, e a consequente teologia decorrida precisam levar os cristãos a uma posição sobre a probabilidade ou não deste tipo de ministério pastoral. Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) objeto da presunção de que toda a Bíblia é inspiração de Deus, que as Escrituras precisam explanar a Escritura, continuamente com o uso da causa e que o apóstolo Paulo é o escritor das treze cartas que levam seu nome no Novo Testamento.
 Na Sagrada Escritura, o apóstolo Paulo é o autor bíblico que mais aparece sobre o argumento. Pelo volume de sua grafia e pelo fundo teológico que confirmem de sua pena, Paulo é o escritor bíblico mais mencionado, tanto ao benefício da Bíblia na evangelização pastoral é que mais menciona a mulher não ao ministério feminino. Por esta razão, este TCC expõe como finalidade estudar o adágio paulino aproximar-se do assunto. Num primeiro momento, se cogitará as explanações e análises de extraordinários textos paulinos a propósito de o assunto e, num segundo momento, uma proposta de teologia paulina na abordagem da possibilidade da evangelização como ministério pastoral feminino.

2 A IMPORTÂNCIA DOS TEXTOS PAULINOS NA ORDENAÇÃO DE MULHERES AO MINISTÉRIO PASTORAL

Tudo leva crer que Paulo é o formulador teológico do Novo Testamento. Numa aparição habitual, ele escreveu treze cartas. Por meio destes escritos, é provável perceber muito do pensamento cristão, pois descobrimos neles o alicerce da fé. No entanto, Paulo a escreveu igreja e não tratados de teologia. 
Ele puramente escreveu Eclésia – (igreja) e as pessoas aplicaram como instituição religiosa hierarquizada, tão facilmente para aproximar-se de dificuldades que eles estavam abarbando. Ele levanta sua teologia a partir de dificuldades, estágios e dá respostas a estes problemas em seu período e sua época, mas ainda ordena, além do ensinamento, princípios teológicos que ajudarão para toda ocasião e época.
Em afinidade ao assunto “Bíblia e a ordenação de mulheres ao ministério pastoral feminino”, o apóstolo Paulo estabelece princípios gerais e universais que aplanam homem e mulher na nova camada de salvação criada por Jesus e vivenciada na igreja; nesta nova autorização, os dons são dados pelo Espírito Santo a todos os crentes, livre do gênero. Em originados assuntos, ele teve que afeiçoarem-se estes princípios às classes culturais de sua época. Três destes argumentos são: a monogamia/poligamia, a escravidão e a liderança pastoral feminina na igreja. Nesta definição, Paulo de tal maneira reafirmou a prática cultural de sua época quanto deu margem para uma transformação de postura em benefício de alteração de cultura, rumo aos princípios gerais e universais expostos em outros textos.
Existem três textos proeminentes sobre a matéria que convém analisar: Gálatas 3.26-29, I Coríntios 11-14 e I Timóteo 2.8-15. Diferentes textos paulinos serão citados, porém estes três formam o alicerce para chegar-se uma definição do assunto.




2.1 GÁLATAS 3.26-29
                  

        
 Paulo escreveu carta aos gálatas com a finalidade de instruir que a salvação é somente pela fé em Jesus Cristo. Oradores judaizantes ficavam doutrinando que, além da fé em Jesus, era indispensável também a submissão da lei de Moisés. A alegação de Paulo do seu evangelho é enérgica. No capítulo 3, ele expõe que a promessa foi dada a Abraão, pois ele creu em Deus (v. 6) e os que são da fé em Jesus, esses são filhos de Abraão (v. 7). Isto só tornou-se admissível porque Cristo nos resgatou da maldição da lei ao morrer no madeiro, segundo determinação da lei (v. 13,14). Pela fé, os gentios recebem a Cristo e a promessa do Espírito. Quem deu a lei foi Deus para servir como um aio, protetor, até que a advento de Jesus pudesse levar os homens a acreditar nele. Neste contexto, ele desenvolve o texto de 3.26-29.
 Nos v 26,27, ele diz: “pois todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Porque todos quantos fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo” (Versão Revisada, Imprensa Bíblica Brasileira, em todo o trabalho). Através da fé, todos são filhos de Deus. A palavra “todos” não deixa dúvida de que qualquer pessoa, livre de qualquer condição humana, pode ser salva e deleitar-se deste privilégio. O batismo o simboliza o sinal da nova situação e sugere que juntos se vestiram de Cristo, ou seja, são novas criaturas afeiçoar-se segundo seu Senhor. A fé em Cristo produziu um novo modo de ser e viver, embora permaneçam habitando na velha era. A doutrina da salvação pela fé não ficava reservada ao campo doutrinário, metafísico, mas acontecia a fazer parte da vida prática, do dia a dia, pois “se alguém está em Cristo, nova criatura é” (2 Coríntios 5.17)
  No v 28, há a declaração de Paulo dizendo que: “não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”. Paulo põe alguns pares divididos por raça, meio social e natureza. O primeiro par indica a isolamento racial que existiu em toda a história do povo de Israel de se considerar o “povo eleito” e, desta forma, distinguir de todos os outros povos. Na fé em Cristo, não há mais raça (nacionalidade) escolhida. O principal par é formado pelas normas da sociedade: escravos e livres. Esta separação social nada constitui na fé. Para o seu tempo, esta era um conceito revolucionário já que a prática da escravidão estava arraigada em todo o mundo antigo. “O terceiro par deriva da natureza: “macho” e fêmeo”, palavras que se assinalam por definir a sexualidade de cada indivíduo humano. Homens e mulheres ocupam o mesmo patamar na presença de Cristo. Não há mudança humana e exterioriza na existência destas pessoas: o homem continua sendo homem, novamente a mulher, o escravo continua sendo escravo. Tudo permanece sendo absolutamente igual na sociedade. Isto faz objeto da teologia paradoxal de Paulo do “já” e do “ainda não” em analogia à salvação operada por Cristo que se nascia numa era atual e na era futura simultaneamente. Porém, no que envolve a fé em Cristo, e isto envolve a Igreja, estas distinções humanas se rompem e estas pessoas são completamente niveladas em Cristo. Todas elas tornam-se um em Cristo. Ou seja, não somente são niveladas como igualmente são unidas a ponto de serem um só povo na pessoa de Cristo. A unidade da humanidade é conseguida e vivenciada em Cristo.
   Ainda em relação ao v. 28, Lopes (2015, p. 5-7) não vê neste texto a eliminação da submissão feminina e de coincidência de funções no ministério pastoral. O assunto tem quatro oposições ao emprego deste texto para o ministério pastoral feminino. A primeira oposição diz importância ao objetivo do texto que é tratar da maneira perante de Deus porque cremos em Cristo e não dos cargos que homens e mulheres cumprem na Igreja. A segunda é que Paulo aprofunda a submissão feminina, não na queda, mas na competente criação. A terceira oposição diz respeito à palavra “um” no texto que constitui unidade de todos em Cristo e não identidade de funções. A quarta oposição é que Cristo não aboliu, na presente era, os efeitos do pecado e as punições quando pecaram. A primeira e a terceira oposições são textuais. De fato, o texto fala da nossa posição em Cristo que a gente foi recebedora mediante nossa fé nele. O assunto é se esta nova posição não traz insinuações de caráter prático para a afinidade homem-mulher. Se, em Cristo, não existe homem nem mulher, significará que, em Cristo, a mulher permanece submissa ao homem? Será que, em Cristo, o escravo segue subordinado ao livre? Ou o grego ao judeu? Paulo está difundindo uma abertura nova decorrente da atitude que os crentes têm em Cristo, a qual signifique esta nova posição aboliu com as diferenças e os igualou. A aplicação disto nas diversas sociedades se dará segundo as culturas de cada uma delas, mas o princípio está oferecido e afetará a questão do ministério pastoral feminino nas culturas onde isto couber. Não podem o viver numa condição de eras passadas quando a instituição terrena da igreja romana que ordena Padre e não a mulher no seu sacerdócio será que queremos representar em alguns ministérios o mesmo feito eklesio de não formação pastoral feminino. Em relação à unidade, segue-se o mesmo pensamento, pois não pode existir unidade com sujeição entre as pessoas envolvidas. A segunda e a quarta oposições não são textuais. O conceito de que a submissão da mulher ao homem principiou no Éden ou na queda é muito controvertida na teologia e não existe pensamento único acerca desta questão entre os teólogos que creem na concepção das Escrituras. Se, de fato, Cristo não revogou, na atual era, os resultados do pecado, também é certo que ele iniciou uma nova era cujas intenções podem, dentro das possibilidades culturais, ser havidos nesta era presente. Se a cultura aceita à Igreja vivenciar na prática o “nem homem nem mulher em Cristo” nesta era, por que não se conviveria?
  No v. 29, se as pessoas são de Cristo, imediatamente é a semente prometida por Deus a Abraão e sucessores de todas as bênçãos deste juramento. Não existe distinção nestas regalias entre uns e outros, entre homens e mulheres.
   O escrito de Gálatas 3.26-29, por ser doutrinário e apresentar princípios referentes à salvação em Jesus Cristo é um escrito que deve conduzir outros escritos que recomendem aparentes contradições com este ou provem fatos locais e culturais, pois:

 Esta é uma passagem crucial que tende a citar como a que governa a interpretação de todos os demais textos relevantes, ou ao contrário, a ser minimizada quanto às suas implicações. [...] Gálatas 3:28 deve ser visto como um contraste com o status inferior geralmente dado às mulheres nos dias de Paulo. É uma afirmação dramática que não deve ser desprezada, nem diluída com o objetivo de manter uma posição restritiva. Gálatas 3.28 aplicam-se a relacionamentos sociais dentro da igreja, e não meramente ao âmbito espiritual da soteriologia. Ao mesmo tempo, não significa que todas as distinções estão eliminadas. Nem uma declaração positiva como Gálatas 3.28, nem uma restritiva, como I Timóteo 2.12, devem ser consideradas à parte da revelação bíblica total sobre o assunto (LIEFELD, 1996, p. 166,168).

Mickelsen (1996, p. 250), acompanhando nesta própria linha de pensamento, escreve que

erudito do Novo Testamento, F. F. Bruce declarou em seu comentário de Gálatas 3.28: “Paulo estabelece aqui o princípio básico: se as restrições sobre esta questão se encontrarem noutras passagens das cartas paulinas 

2.2 I CORÍNTIOS 11-14
                  
Os capítulos 11-14 de I Coríntios abordam de questões referentes ao culto cristão. Visto que existiam problemas em relação a uns aspectos, Paulo escreve no significado de guiar a igreja. Em 11.2-16, ele trata da ação do costume do véu para as mulheres usarem no culto público. Em 11.17-34, da celebração da Santa Ceia do Senhor. No capítulo 12, Paulo fala dos dons espirituais. I Coríntios 13 é um extenso capítulo sobre o amor. Em 14.1-25, ele debate sobre o dom de línguas e profecias durante o culto. E, por fim, em 14.26-40 sobre a ordem e decoro no culto cristão. Existem dois textos que falam mais sobre a atitude da mulher na igreja: 11.2-16 e 14.26-40.
O contexto cultural que obriga entender este texto é o seguinte: as mulheres não tomavam parte nos cultos das sinagogas, ao porque elas tinham ampla atividade nos cultos pagãos, mas sempre associadas a ritos de prostituição cultual. No culto cristão, a mulher fazia parte ativa, tanto quanto o homem porque as congregações eram mistas. Em público, a mulher carecia usar um véu, em consideração a seu marido e à cultura da época. Existe um cuidado social de Paulo para com a figura da mulher, mas

o trecho relativo a 1 Co 11,2-11 levanta algumas situações complexas concernentes à situação de Paulo envolvendo a disputa por autoridade. O velamento das mulheres, contudo, não foi somente uma questão de falta de decoro ou oriunda dos fatos de alguns membros da comunidade de Coríntios se sentirem constrangida pela atuação das mulheres, mas o próprio ato de profetizar era visto como uma experiência direta com o divino, o que concedia autoridade a quem o fizesse (SILVA, 2013, p. 16).
 O texto de 11.2-16, Paulo dar início falando que os louva bem como eles nutrem as tradições conforme ele as deu. Combina recomendar que, naquele período, eles não exibiam ainda o Novo Testamento, que permanecia em desenvolvimento. O ensino das tradições compreendia os costumes éticos e sociais incididas do próprio Evangelho. No v. 3, ele diz: “quero, porém, que saibais que Cristo é a cabeça de todo homem, o homem a cabeça da mulher e Deus a cabeça de Cristo”. A palavra “kephale,” cabeça é interpretada em dois sentidos: a de “autoridade, liderança” ou como “fonte”. Liefeld (1996, p. 161), aborda destes dois sentidos possíveis diz que
os tradicionalistas tendem a presumir que cabeça sempre quer dizer “governo” ou “autoridade”, e interpretam Efésios 5.22-23, a respeito de esposas e maridos e 1 Coríntios 11.2-16, a respeito da cobertura da cabeça. Outros eruditos têm demonstrado que cabeça é termo empregado para significar “fonte”. Embora os eruditos estejam tratando das mesmas evidências, a diferença na seleção e avaliação delas levam-nos a soluções fortemente conflitantes. Um estudo que selecionou certo número de usos da palavra “cabeça”, em sentido figurado, num total de 2.000 ocorrências, de início pareceu apoiar os significados de “governo” e “chefia”, mas a metodologia usada tem sido fortemente criticada. [...] No contexto mais amplo de Efésios kephalf significa tanto “governo” (1.22) como “fonte” (1.15-16).

Ainda que o significado de “cabeça” seja a de domínio deve-se notar que ela é funcional, pois Deus sendo o cabeça de Cristo não indica superioridade ontológica. Ainda sobre o significado do termo “cabeça”, Mickelsen (1996, p. 235) afirma que

o dicionário mais abrangente da língua grega daquele período de que dispomos hoje, em inglês, é o compilado por Liddell, Scott, Jones e McKenzie, cobre a língua grega clássica e o coiné (Koiné), de 1.000 a.C. até cerca de 600 d.C. – portanto, um período de quase mil e seiscentos anos, incluindo a Septuaginta (tradução grega do Antigo Testamento). O dicionário relaciona cerca de vinte e cinco possíveis significados figurados para kephale (“cabeça”) os quais eram usados na literatura grega antiga. Entre estes significados estão: “topo”, “beirada”, “ápice”, “origem”, “fonte”, “boca”, “ponto inicial”, “coroa”, “término”, “consumação”, “soma” e “total”. Essa lista não inclui nosso emprego comum em inglês com o sentido de “que tem autoridade sobre”, “líder”, “diretor”, “graduação superior” e outros sentidos semelhantes. (grifo do autor).

Nos v. 4-6, Paulo aconselha que todo homem que orar ou profetizar, que o faça com a cabeça descoberta, caso adverso envergonharia a si próprio. Este é uma maneira cultural da época. Acerca das mulheres, Paulo diz que toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra a si própria, pois
os dias de Paulo, mulher sem véu, com cabelos soltos ou curtos, era considerada infame. O uso do véu perpassava várias culturas, entre elas a judaica e a greco-romana, que dominavam o ambiente à época. Por isto, as honradas deviam ter o cabelo longo, preso e bem penteado. O cabelo solto era visto como um estímulo erótico, por isso, usá-lo solto em público era um ultraje ao pudor, pois era considerada uma parte privada do corpo, que só o esposo podia olhar [...] é provável que as mulheres-profetas achassem que podiam desempenhar seu papel na liturgia com a cabeça descoberta, pois a casa, lugar onde também se celebrava o culto cristão, não era um lugar público (FOULKES apud MATOS, 2004, p. 91-92).


Analisar que as mulheres faziam uso o livre-arbítrio de orar e profetizar no culto cristão (v. 5), todavia que deveriam fazê-los segundo os costumes sociais de sua época. No v. 7, Paulo diz: “pois o homem, na verdade, não deve cobrir a cabeça, pois é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem”. É um comprometimento do ser humano não baralhar os papéis culturais de homem/mulher. Não necessita ter nem conflito nem mudança. Paulo ver neste modo de cultura de cobrir ou não a cabeça uma forma boa e verdadeira de expressar um fato bíblico da criação: Deus criou o homem e deste fez a mulher. É esta verdade que ele enfatiza-nos v. 8-10. Paulo acha adequada a atitude cultural na qual a mulher evidencia “submissão” tanto a seu marido como aos homens em geral ao aceitar o princípio de divisão masculino/feminino incluso na sociedade patriarcal na qual viviam. No entanto, esta “submissão” não evita que a mulher ore e profetize no culto público, que são sinais de autoridade.
 Nos v. 2-10, Paulo está discorrendo da necessidade de se seguir as tradições culturais para que não exista vergonha no culto cristão. Entretanto, nos v. 11 e 12, ele dá uma virada no texto: “todavia, no Senhor, nem a mulher é livre do homem, nem o homem livre da mulher, pois assim como a mulher veio do homem, assim também o homem nasce da mulher, mas tudo vem de Deus”. Paulo estava comentando da cultura, mas agora ele começa proferindo: “todavia, no Senhor”, o que indica que ele fala da nova ordem criada em Cristo liberta das amarras culturais de cada povo. Nesta nova ordem, homens e mulheres são iguais: um não vive sem o outro; homem e mulher se concluem e por isso devem viver juntos em unidade. Na criação, a mulher é gerada de uma costela e tirada para fora do homem, mas no nascimento, é o homem que é tirado para fora da mulher. Isto restaura o equilíbrio e a unidade. Então ele diz: “mas tudo vem de Deus”. Tanto o homem como a mulher foram criados com sexualidades diferentes por Deus e este convívio de interdependência e igualdade é o desejo e a proposta dele para a Igreja.

 Nos v. 13-16, Paulo contorna ao dia-a-dia e diz que há tradições na sociedade dos coríntios acerca do que é decoroso e honesto na inclusão homem/mulher e que a igreja cristã precisa se submeter a fim de não molestar a sua boa presença na comunidade. A abertura que Paulo segue está bem especificada em I Coríntios 10.32-33: “não vos torneis causa de tropeço nem a judeus, nem a gregos, nem a igreja de Deus; assim como também eu em tudo procuro agradar a todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que sejam salvos”
 Tem algumas conclusões acerca do texto do “véu das mulheres” (I Coríntios 11.2-16). A primeira é que há uma forma de envolvimento homem/mulher definida pela sociedade em que toda igreja cristã se encontra. Esta forma de envolvimento define os papéis culturais de masculino e feminino dentro da sociedade. O alvo da sociedade e, convergentemente, de Paulo, é que estes papéis não sejam misturados, mas permaneçam distintos. Onde estes papéis são deliberadamente confrontados não pode ter oração, profecia ou mesmo culto público que comunique a mensagem do evangelho para a sociedade. Daí a ordem paulina de cobertura da cabeça com o véu para a mulher no culto e da não cobertura para o homem. A segunda conclusão é que, paradoxalmente, no Senhor, sem os costumes específicos das sociedades, o relacionamento homem/mulher é de igualdade e complementariedade. As mulheres podem orar e profetizar do mesmo feitio que os homens e têm parte ativa nos cultos tanto quanto os homens. Eles são iguais na criação e na redenção. Esta é a nova sociedade que está sendo formada por Deus.
 No capítulo 12, Paulo fala dos dons espirituais. Dentre os vários exemplos que o apóstolo dá, é destacado o v. 11: “mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas distribuindo particularmente a cada um como quer”. Ou seja, na repartição dos dons, o Espírito é quem decide que dom dará a cada um. A determinação é dele e não humana. Não tem, no texto, qualquer menção de que ele restrinja dons pelo ao sexo da pessoa. Apóstolo Paulo refere o dom de profecia (v. 10) e já tinha dito que mulheres profetizavam (11.5). No v. 25, ele diz que a separação dos dons é “para que não tenha separação no corpo, mas que os membros tenham igual cuidado uns dos outros”. A igreja era composta de homens e mulheres. O que ele quer falar é com “igual cuidado uns dos outros”? Não imaginava ele em uma igreja de iguais ao invés de uma igreja hierarquizada aonde a mulher chegasse sempre ocupa um lugar subalterno? O v. 27 diz: “ora, vós sois o corpo de Cristo, e individualmente seus membros”. Na Bíblia o Evangelho e a visão paulina, a igualdade entre homens e mulheres na igreja é superior a qualquer hierarquização apresentada pelos costumes sociais.
 No capítulo 13No capítulo 14.1-25, 
como em todas as igrejas dos santos, as mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, perguntem em casa a seus próprios maridos; porque é indecoroso para a mulher o falar na igreja.

Existem três ordens dadas nos versículos, todas apontadas às mulheres: “silenciai”, “subordinem-se” (voz reflexiva) e “perguntai”. Numa primeira leitura, Paulo ordena que, nos cultos públicos, a mulher permaneça em silêncio e não fale nada. O aprendizado delas, quando tivesse dúvidas, seria em casa perguntando a seus maridos. Como interpretar este texto, se nos textos anteriores de I Coríntios 11-14, ele deu direito de liberdade às mulheres de orar e profetizar em público e de participar ativamente no culto? Segundo Mickelsen (1996; 242-243).

há pelo menos duas possibilidades. É possível que Paulo esteja dizendo às esposas que parem de interromper o culto ao fazer perguntas a seus maridos, querendo saber o significado de tudo. Antes, deveriam perguntar-lhes em casa. Talvez Paulo estivesse fazendo menção a ensinos falsos dos judaizantes, que desejavam que as mulheres ficassem em silêncio na igreja, como tinham de ficar na sinagoga. [...] Usualmente, quando Paulo fala “da lei”, refere-se ao Antigo Testamento. Todavia, não existe uma passagem no Antigo Testamento que digam que as mulheres devem estar subordinadas ou que não podem falar em público. Então a que lei se refere esta passagem? Pode se referir a uma das numerosas leis locais, que proibia às mulheres falar em reuniões públicas. Ou pode referir-se à interpretação rabínica do Antigo Testamento. Se esta passagem for uma citação dos judaizantes, é provável que se refira a uma interpretação rabínica. Há outras possibilidades, ainda, mas ninguém pode dogmatizar com autoridade, sobre o sentido exato desses versículos, porque não conhecemos a situação sociocultural exata. Paulo o sabia, os coríntios o sabiam. Nós não o sabemos. [...] Visto que esses dois versículos parecem contradizer o que Paulo dissera anteriormente nesta carta, bem como o próprio costume de Paulo, concernente a Priscila e suas outras “colaboradoras” (“meus cooperadores em Cristo Jesus”), não ousamos usá-los com o objetivo de anular tudo o mais que Paulo escreveu e praticou.

Outra estudiosa, Foh (1996, p. 101-102) assim se exprime sobre este texto
o verbo usado junto com “silêncio” nesta passagem tem a conotação de ausência de fala. Então seria absoluto o silêncio exigido das mulheres? Se isso for verdade, as mulheres não poderiam cantar participar de jograis, de leituras responsivas, orar em voz alta, nem mesmo pronunciar a oração dominical. Se assim for, tudo quanto foi dito antes, que envolve falar em línguas, profetizar e compartilhar verbalmente na igreja, não diz respeito à mulher e deveria ter um carimbo: “só para homens”. A expressão “vós todos” de 14.5 deveria excluir as mulheres. [...] Além disso, Paulo emprega o termo “conservem-se as mulheres caladas” em 1 Coríntios 14, mas não sugere um silêncio absoluto, pois o contexto define que tipo de silêncio o apóstolo tem em vista. “Mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus” (1 Co 14.28), e, “se, porém, vier revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o primeiro” (1 Co 14:30). Em nenhum dos casos, presume-se que o silêncio deva ser absoluto; a pessoa que tiver o dom de falar em línguas pode certamente participar de cânticos, de orações e assim por diante, ainda que esse crente não possa falar em línguas sem que haja intérprete. [...] O apelo de Paulo à lei em geral é sentido como um golpe tremendo para manter as mulheres sob controle. Mas há outra maneira de ver a questão. A lei pode ser vista como um limite. A mulher não precisa submeter-se naquilo que a lei não exige; a mulher só deve submeter-se segundo as exigências da lei. O Antigo Testamento permitia que a mulher profetizasse; portanto, 1 Co 14.34 não proíbe às mulheres o dom de profetizar. O que a lei exige é a submissão, e não o silêncio. O mandamento no v. 34 pode ser traduzido assim: “mas devem submeter-se”. “Esteja subordinada” ou “fique sujeita” são formas passivas que ressoam uma nota de servilismo. Mas o verbo grego é reflexivo. Trata-se de um ato que a própria pessoa executa por si mesma, ou de si mesma. A mulher, sendo ontologicamente igual ao homem, de vontade própria submete-se em reconhecimento de sua posição de mulher. O v. 35 também define o sentido de silêncio, ou de deixar de falar, que Paulo tem em mente. Falar seria entendido então como fazer perguntas. O diálogo, com perguntas e respostas, era a forma comum de estudo acadêmico do primeiro século. Não se permitia à mulher que levantasse perguntas em diálogo, porque esta era uma forma de ensino.
                  
 Visto acima, estudiosos discordam sobre a explicação do texto, mas também não confirmam que o silêncio da mulher é absoluto, como parece ser a explanação e interpretação do texto à primeira vista. Culver, que advoga a ideia conservadora de que a mulher deve permanecer em silêncio na igreja, interpreta este texto assim: “parece que a ideia é no que concerne ao ato de ensino público na igreja, as mulheres deveriam estar em silêncio” (1996, p. 38) (grifo do autor). Outra observação é que o “silêncio” da mulher sempre é acompanhado de explicações possíveis sobre o que acontecia na época em que o texto foi escrito, quer seja intérprete conservador, quer seja igualitário.
 Outro problema na interpretação destes textos é se o culto e sua liturgia no primeiro século eram exatamente iguais aos cultos atuais com uma liderança e liturgias formais. Ridderbos (2014, p. 534), um teólogo perito em Paulo, afirma acerca dos cultos públicos
agora, no que ser refere a estas reuniões da Igreja, de forma alguma é o caso que em Paulo tenhamos recebido informações detalhadas ou prescrições. Nas epístolas que foram preservadas e chegaram até nós, ele fala dessas reuniões incidentalmente, na maioria das vezes, com relação a certos abusos e pressupondo muitas coisas que, com frequência, não ficam claras para nós e sobre as quais gostaríamos de saber mais. Assim, desde o início, é difícil, tomando por base as epístolas paulinas, determinar se e até que ponto estas reuniões estavam sob a orientação específica de pessoas designadas para este propósito. Esta questão está, obviamente, ligada de maneira muito próxima àquela da presença de pessoas com cargos na Igreja de um modo geral. Tomando-se como ponto de partida uma passagem como 1 Coríntios 11.17ss, há muito pouco que deixe evidente uma ordem fixa; antes parece haver uma escassez de liderança. O mesmo aplica-se a 1 Coríntios 14, onde Paulo vê-se obrigado a colocar claramente para a Igreja que Deus não é, afinal de contas, Deus de confusão (v. 33). Por outro lado, tudo isso certamente não é prova de que nas reuniões da igreja não havia, geralmente, uma liderança [...] Com tudo isso, podemos considerar que muito mais coisas foram pressupostas do que aquilo que é expressado com todas as letras. No entanto, fica evidente pela maneira como, também a esse respeito, Paulo dirige-se continuamente à Igreja e não a uns poucos que ocupam posições de liderança ou cargos, o quanto os encontros da Igreja não são uma reunião hierárquicos, ou oferecidos por umas poucas pessoas “santas”, mas têm um caráter plenamente congregacional.

Nas contendas atuais sobre os textos paulinos, há uma tendência de conduzir a hierarquia e liturgia dos cultos atuais para interpretar os cultos do I século. Aqueles eram cultos bastante informais, realizados nas casas de pessoas da comunidade como acontecem ainda hoje, e contando com a participação ativa de muitos como se infere de I Coríntios 14.26. Os cultos tinham a presença e participação ativa de mulheres (I Co 11.5).




2.3 I TIMÓTEO 2.8-15
                  
 Outro texto que houve controvérsia sobre o assunto é I Timóteo 2.8-15. A primeira carta de Paulo a Timóteo deixa claro como objetivo orientar o jovem pastor na sua empreitada de aparelhar a igreja. Essa é uma das razões que preocupa muito a Paulo era em relação aos falsos ensinos que estimulavam em Éfeso nesta época: “como te roguei, quando partia para a Macedônia, que ficasse em Éfeso, para advertires a alguns, que não ensinem outra doutrina” (1.3). Éfeso era uma cidade com suas características voltada ao templo à deusa Diana (Ártemis) e onde Paulo conheceu e viveu grande perigo de vida quando pregou o evangelho (Atos 19.23-41). A adoração desta deusa envolvia a prostituição cultual
  É provável que neste ambiente de heresias e promiscuidade que temos de perceber o que diz o texto de I Timóteo 2.8-15. No v. 8, Paulo evidencia sua vontade de que os homens em todo lugar levantem mãos santas, sem ira e sem contenda. O que diferencia o homem cristão não é a dominação, mas o pleno viver de uma santidade prática que busca Deus e seu anseio e não disputas humanas carregadas de ira. “A ansiedade de Paulo para com os homens e as mulheres não se focaliza nas aparências externas, mas na qualidade do coração que causa os sinais externos” (FOH, 1996, p. 96).
 Os versos 9-15, o apóstolo confessa às mulheres. No v. 9, ele começa com a expressão “do mesmo modo”. Isto denota que o objetivo do ensino que foi oferecido ao homem, agora é oferecido à mulher: uma existência de santidade prática. Nos v. 9 e 10, ele faz um contraste entre o exterior e o interior da mulher
quero, do mesmo modo, que as mulheres se ataviem com traje decoroso, com modéstia e sobriedade, não com tranças ou com ouro, ou pérolas ou vestidos custosos, mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras.

Os cabelos trançados, ouro, pérolas e roupas caras faziam parte tanto das mulheres da alta sociedade como também das prostitutas, inclusive as cultuais. Mickelsen (1996, p. 246) fala deste contexto
a maior parte das mulheres gregas casadas usava uma catastola, um roupão que descia até os pés, preso por um cinto. Um traje muito modesto. A respeito de quem Paulo estava escrevendo? Aqui devemos levar em consideração o contexto histórico e cultural, bem como o contexto literário. Em Éfeso, com seu templo enorme erguido à deusa Artemis, havia centenas de sacerdotisas sagradas que provavelmente também serviam como prostitutas cultuais. Também havia centenas de hetaerae, mulheres gregas mais educadas, acompanhantes regulares e com frequência parceira sexuais extramaritais de homens gregos das classes superiores. É possível que algumas dessas mulheres se tenham convertido e estivessem usando suas roupas caras, indecorosas na igreja. Visto que as hetaerae com frequência eram professoras respeitáveis de homens na Grécia (muitas delas são mencionadas na literatura grega), com toda probabilidade estavam tornando-se professoras depois de ingressar na igreja. Aparentemente, a falta de castidade e modéstia era um problema real entre algumas mulheres da igreja de Éfeso, pois Paulo menciona duas vezes nesta seção (I Tm 2.9,15) ser necessária a castidade (no grego, sophrosyne).

A solicitação de Paulo é as mulheres cristãs sejam contrarias delas. Em primeiro lugar, não apreciando tanto valor ao que é externo embora faça declarações que as suas roupas tenham que ser bem arrumadas e caracterizadas pelo decoro social e autocontrole. Este procedimento com relação ao vestuário é conveniente para mulheres piedosas (tementes a Deus). Mas, acima de tudo, o que deve ter a característica como socialmente é a prática do tipo de boas obras. A preocupação delas deve ser fazer o bem às pessoas.
 O contexto demonstra que poderia incidir que as mulheres admitissem a direção e o ensino da igreja cristã. Paulo se está preocupado com o preceito de sua época, que é patriarcal, Paulo prossegue sua orientação no v. 11: “a mulher aprenda em silêncio com toda a submissão”. Aqui há um aspecto positivo e um problema de tradução. O aspecto positivo é que a mulher cristã pode “aprender”. O que era negado em outras religiões da época, onde as mulheres eram usadas como objetos ou completamente desconhecidas, no cristianismo dar valor a mulher como pessoa que pode aprender e crescer intelectualmente. Aprender não é só para os homens, é para todos. O problema de tradução encontra-se na palavra explanada como “silêncio”. No texto grego, “esukia” pode denotar “silêncio”, mas o melhor sentido é “tranquilidade, calma”: “a palavra expressa a tranquilidade em geral” (RIENECKER; ROGERS, 1985, p. 460). A mulher deveria aprender, não em silêncio, mas com tranquilidade, ou seja, com toda a submissão. Não cabia a ela, pelo seu comportamento, usar a igreja para fazer a mudança de sua sociedade patriarcal. Até porque Paulo sabia que este comportamento traria enorme prejuízo para a igreja na sua tarefa de evangelizar o mundo de então.
Prosseguindo em sua orientação, Paulo vai fazer duas advertências às mulheres no v. 12: “pois não permito que a mulher ensine, nem tenha domínio sobre o homem, mas que esteja em silêncio”. A primeira exceção é que ele não permitia que a mulher ensinasse. A segunda exceção é que a mulher não poderia dominar homem. O verbo habitual da língua grega para exercer autoridade é “exousiazo”. Aqui Paulo não usa esta palavra, mas usa o verbo “authenteo”. Este verbo é usado somente aqui em todo o Novo Testamento. É traduzido como “exercer autoridade, dominar, ser um autocrata, ser dominador” (RIENECKER; ROGERS, 1985, p. 460). “Essencialmente, authentein significa ‘atirar-se’ e em geral tem um sentido negativo [...] outro conceito primitivo era ‘originar’ algo ou ‘ser responsável’ por alguma coisa” (MICKELSEN, 1996, P. 247). Por que Paulo usa uma palavra tão diferente ao invés de usar a palavra corriqueira para o exercício da autoridade? O restante da frase, ao invés de “mas que esteja em silêncio” poderia ser “mas ser (viver) em tranquilidade”, pois se trata da mesma palavra “esukia” do versículo anterior. As duas restrições: não ensinar e não comandar homens são típicas de sua sociedade.
  Para dar fundamento escriturística para estas duas exceções atribuídas à mulher, o apóstolo refere o exemplo de Adão e Eva. Os v. 13-14 dizem assim: “porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo engada, caiu em transgressão”. As razões para a mulher não ensinar e nem dominar sobre homens vem de dois exemplos históricos: 1º) Adão foi formado primeiro e depois Eva, que veio dele; 2º) Adão não foi enganado, mas Eva foi e bem enganada, tornando-se transgressora das ordens de Deus. Com estes exemplos são bastam para esclarecer que, em sua cultura, a mulher se submetia ao homem.
 Paulo poderia ter concluído sua alegação no v. 14 e seu objetivo teria sido abrangido. No entanto, ele escreve o v. 15 com um sentido visivelmente misterioso: “salvar-se-á, todavia, dando à luz filhos, se permanecer com sobriedade na fé, no amor e na santificação”. Obviamente, esta salvação do v. 15 não é um ensino geral porque se assim fosse, mulheres que não gerassem filhos não poderiam ser salvas e, além disso, a salvação seria pelas obras. A salvação do v. 15 está descrita deste modo para se redarguir aos v. 13 e 14. Em I Coríntios 11.2-10, quando também falou da submissão social da mulher ao homem, Paulo “compensou” esta situação da mulher registrando os v. 11 e 12, onde narrava que “no Senhor, nem a mulher é independente do homem, nem o homem independente da mulher; pois assim como a mulher veio do homem, assim também o homem” “nasce da mulher, mas tudo vem de Deus “. Outro exemplo do apóstolo perpetrando esta “compensação” estar em I Coríntios 7.1-6, como ele fala das afinidades sexuais no matrimônio. No v. 1, ele recomenda “bom seria que o homem não tocasse em mulher”, olhando do ponto de vista do homem. Porque se aguardava que ele falasse da dominação masculina mesmo nas relações sexuais, ele descreve o v. 4: “a mulher não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim o marido; e também da mesma sorte, o marido não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim a mulher”. Paulo faz o mesmo tipo de “equilíbrio” aqui. O v. 15 é um contraponto aos v. 13-14. Os motivos de a mulher ser dependente na sociedade e, por conseguinte, na igreja, apresentam como primeiro argumento que Eva foi formada de Adão (v. 13). O contraponto significa que a mulher origina filhos, em meio a os quais homens. Eles vêm delas. O segundo argumento é que Eva foi enganada; a resposta no v. 15 é que o engano se rescinde quando a mulher, na salvação de Jesus Cristo, conservar-se na fé, no amor e na santificação (todas estas são qualidades necessárias na salvação) e isto com sobriedade (grego: sofrosyne) que “significa basicamente o autodomínio nos anseios físicos é aquele autocontrole interior habitual, com seu domínio constante sobre todas as paixões e desejos” (RIENECKER; ROGERS, 1985, p. 460). Uma mulher que vive a salvação com fé, amor e santificação, controlando seus desejos e paixões é o exato contrário de uma Eva enganada. O ensino aqui é que a nova vida em Cristo, a salvação do v. 15, concede à mulher um lugar reabilitado que havia perdido na queda e pela qual sofre a consequência de subordinar-se na sociedade. A salvação de Jesus devolve-lhe a mesma igualdade com o homem e, neste âmbito (a Igreja), não existe mais a superioridade masculina e nem a subordinação da mulher, pois “em Cristo Jesus, não há homem nem mulher”.
                  

  3   UMA SUGESTÃO TEOLÓGICA PAULINA PARA ORDENAÇÃO DE MULHERES AO MINISTÉRIO PASTORAL

3.1 A TEOLOGIA PAULINA DAS DUAS ERAS

 A teologia paulina analisa o acontecimento “Cristo”, sobretudo sua morte e ressurreição, como o centro da ação de Deus na história (I Coríntios 15.3,4; 2.2; Romanos 6.4-10; Gálatas 2.20; 4.4-6). Assim como rabino judeu, Paulo percebia que a período atual era controlada pela maldade, mas que surgiria uma época futura que ofereceria início com o Dia do Senhor e na qual Deus instalaria o seu Reino em definitivo na Terra, vencendo toda a maldade. “Saulo, o judeu, participava da esperança judia da vinda do Messias, de uma forma ou de outra, para aniquilar seus inimigos, redimir Israel e colocar o Reino de Deus” (LADD, 1985, p. 343). Quando Paulo converte-se a Jesus no caminho de Damasco (Atos 9.1-19) o seu pensamento acerca das eras atuais e vindouras mudaram, em especial, porque ele passa a crer em Jesus como o Messias. Logo, a era messiânica já havia iniciado. Segundo Ladd (1985, p. 343-352), para Paulo, a atual era/século (grego: aion) era assinalada pelo domínio do pecado e estava em rebelião contra Deus, sendo dominado pelo seu deus, Satanás (II Coríntios 4.4). Com a vinda de Jesus, o Messias, seu Reino já estava na Terra e foi trazido ao seu povo, mesmo que o mundo não o pudesse perceber (Colossenses 1.13). O reinado de Jesus não começaria na parousia (vinda) e se ampliaria ao telos (fim), mas principiou na sua ressurreição e iria até o telos. Desta forma, a partir de Jesus Cristo, a era (aion) futura entrou na história humana. Embora a era vindoura ainda continue por vir, sua eficácia e suas bênçãos envolveram a atual era das trevas. Os que creem em Jesus passam a conviver em duas eras respectivamente. Necessitam existir neste mundo, dentro de suas culturas com suas responsabilidades e, ao mesmo momento, é a comunidade do Senhor que goza da nova existência em Cristo: “pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (II Coríntios 5.17). Uma nova vida está aberta aos homens: a existência “em Cristo”.
Ele agora sabia que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, que inaugurou uma nova era, que requeria de Paulo uma nova atitude diante dos homens. Ele não os via mais como judeus e gregos, escravos e livres. Tais distinções, embora reais, não mais interessavam. Todos eles são homens amados por Deus, por quem Cristo morreu a quem ele tem que levar as boas novas da novidade da vida em Cristo (1985, p. 351).

Qual então é centro da teologia paulina?

A teologia de Paulo é a exposição dos novos fatos redentores; a característica comum, em todas as suas ideias teológicas é o seu relacionamento com o ato histórico de Deus da salvação em Cristo. O significado de Cristo é a inauguração de uma nova era de salvação. Na morte e ressurreição de Cristo, as promessas da salvação messiânica do Velho   É nesta nova era, ou o Reino de Deus, que Jesus originou a Igreja como a comunidade do Reino. A Igreja está inserida nas comunidades da velha era e com elas teremos de conviver. Mas a Igreja, em si, é uma comunidade totalmente irregular porque ela é escatológica. Ela diz respeito ao futuro; na verdade, é a comunidade dos remidos que morarão no céu: “mas a nossa pátria está nos céus, onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Filipenses 3.20). É neste conflito que a Igreja vive: ela tornou-se a comunidade da nova era que Cristo começou, mas, ao próprio tempo, ela tem que conviver na velha era com suas culturas, tradições e condutas decorridas tanto da imagem de Deus que ele colocou na humanidade (Atos 17.25-29) quanto da queda (Romanos 1.28-32).
   Muita igreja e ministério também existem certos preconceituosos a respeito da teologia por parte de muitas pessoas nas igrejas, principalmente entre o povo que é evangélico, de que "estudar demais torna as pessoas críticas ou céticas" existem muitos casos de colegas que abandonaram o estudo por não conseguirem aceitar as diferentes visões nas quais excluem as mulheres como pastoras somente ao homem é permitido este direito. Paulo ver o caminho para o pastorado não no singular, mas como plural, mas pode variar conforme a vertente de alguma igreja.
Testamento se cumpriram, mas dentro da era antiga. O novo veio dentro do alicerce do antigo; mas o novo também está destinado a transformar o antigo. Portanto, a mensagem de Paulo é tanto de uma escatologia realizada como futurística (1985, p. 352).
                  

3.2 A EXISTÊNCIA DA IGREJA NAS DUAS ERAS

 A Igreja, esta comunidade que vive uma tensão confusa, terá duas empreitadas em sua peregrinação nesta terra. A primeira é viver o início da nova era que Cristo veio com as importâncias da ética do Reino de Deus. Um dos princípios é que o fundamental benefício da ética e predominante que Jesus ensinou e que Paulo salienta é o amor (I Coríntios 13; Romanos 12.9-10; 13.10; Gálatas 5.6; Efésios 5.2; Filipenses 2.2; Colossenses 3.14; I Tessalonicenses 3.12; I Timóteo 1.5; Tito 2.2; Filemom 5). O amor conduz as outras virtudes, mas este amor é fielmente considerado, como em I Coríntios 13.4-7.  Há ainda outros princípios pertencentes à nova era: Gálatas 3.28 que em Cristo, não há homem, nem há mulher; nem escravo nem livre; nem judeu, nem grego.
Diz Paulo em I Tessalonicenses 5.21-22: “mas ponde tudo à prova. Retende o que é bom; abstende-vos de toda espécie de mal” e em Filipenses 4.8: “quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo que é honesto, tudo que é justo, tudo que é puro, tudo que é amável, tudo que é de boa fama, se há alguma virtude, se há algum louvor, nisso pensai”. Estes dois textos, entre outros, servem para confirmar que Paulo entendia que há coisas boas e más nas culturas e incumbia aos cristãos usar as Escrituras e a razão para assinalar e, tanto abonar como abandonar, pois “não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente” (Romanos 12.2).
Certo problema difícil para a Igreja na realização destas duas tarefas é que o evangelho habitualmente chega após a cultura. As sociedades estão arrumadas com seus valores próprios, apartadas de Deus e de seu anseio. O evangelho cria mudanças naquelas pessoas que creem (Efésios 2.11-13; Filipenses 1.5,6; I Tessalonicenses 1.5,6), como em muitos aspectos, a noção de certo e errado, bem e mal, está ligada àquilo que são os costumes de cada sociedade. Argumentos como alimento, roupa, formas de tratamento, distinção social, papéis do homem e da mulher, relacionamento doméstico, entre outros, são parte da concepção cultural de cada povo e o enigma em preencher as duas tarefas da Igreja (conviver com os princípios bíblicos principais e separar, na cultura, o que é bem e mal) pode ser analisado em três argumentos culturais sobre os quais Paulo fala: submissão da mulher ao homem na igreja e na sociedade, a monogamia/poligamia e a escravidão. Todos estes assuntos faziam parte da vida das sociedades greco-romanas e judaicas da época do apóstolo Paulo.
Em cada época específica. O homem forma a cultura e é formado por ela. Também, muito do que seja bem ou mal para um cristão continuará atrelado ao que a sociedade lhe educou. Em contato com os princípios da nova era em Cristo, conflitos surgirão e a Igreja carece da direção inspirada dos autores da Bíblia. Nem continuamente, em toda a civilização, a Igreja conseguirá viver de modo global as aberturas básicas da fé, entretanto terá de se amoldar-se até que a circunstância deixe acostuma.
Acerca do assunto da monogamia/poligamia, Rega (2009, p. 66-70) expõe o que ele chama de “situações críticas fronteiriças” (2009, p. 66). São situações cujo comportamento da sociedade destoa da ética do evangelho e, temporariamente, se aceita aquele processo, mas adotando ações que visem uma futura transformação. Ele refere como casos assim, da época de Paulo, a poligamia e a escravidão. Acerca da poligamia, Rega afirma que os princípios bíblicos instruem as famílias a ficarem atreladas pelo amor (Colossenses 3:12-14). A palavra de Deus também protege as famílias por instruir outro princípio orientador: que o casamento deve ser inalterável (Gn 2:24). Por exemplo, os padrões normalmente preferem empregados que seguem os princípios bíblicos da honestidade e da diligencia (Provérbios 10:4, 26; Hebreus 13:18). Na Palavra de Deus, devemos ser educados a ficar contentes quando as necessidades básicas em nossas vidas são satisfatórias, Paulo nunca quis ser dependente dos outros, ele dava valor a amizade com Deus, das coisas materiais. 

Paulo, por exemplo, teve que lidar com situações complexas para a cultura da época. Ao tratar da questão do incesto (I Coríntios 5.1-5), sua resposta foi radical: expulsão do incestuoso da comunhão da igreja. Em outra ocasião, no entanto, Paulo teve de encontrar uma alternativa diferente. Foi o caso dos homens que, embora casados, tinham outra mulher. Essa situação era tolerável na cultura da época, mas esses homens estavam se convertendo e se integrando às igrejas. [...] No primeiro caso, Paulo procurou estabelecer uma liderança que servisse de modelo para as gerações futuras. A situação dos que se convertiam não podia ser imediata e radicalmente alterada – ainda que de natureza complexa à luz da compreensão matrimonial e familiar bíblica – sob pena de gerar sérias dificuldades à sobrevivência familiar. A abordagem de Paulo para esta situação está descrita nos critérios para a escolha dos presbíteros e diáconos da igreja. Paulo enfatiza que o líder deveria ser marido de uma só mulher (v. 1 Tm 3.2,12; Tt 1.6). [...] Por que Paulo teria mencionado este critério ao descrever o perfil para os líderes das igrejas? Será que a igreja abrigava entre os membros pessoas que praticavam a poligamia ou que viviam a forma disfarçada de concubinato? Embora não haja registros de situações como essas, D. A. Carson lembra que a poligamia era praticada especialmente pela aristocracia, e em algumas províncias. [...] Outra possibilidade dentro deste raciocínio é que a proposta de Paulo visava formar uma liderança que seguisse o padrão bíblico de vida, inclusive nas relações matrimoniais, ou seja, a liderança abandonaria práticas culturais que conflitassem com padrões bíblicos. Isso quer dizer que os convertidos em estado matrimonial aceito social e legalmente (poligamia ou concubinato, p. ex.) poderiam mantê-lo (1 Co 7.17-24), mas não lhes seria permitido ocupar função de liderança. Com isso podemos deduzir que Paulo possuía um ideal ético a ser perseguido: monogamia como padrão para o matrimônio. No entanto, havia uma situação real vivida (ou pelo menos hipotética): a poligamia (real ou disfarçada em concubinato), que se desejava eliminar, objetivando atingir, mais tarde, o ideal ético. Paulo levanta uma liderança modelo para ser seguida pelas gerações futuras. Ou seja, tolerou-se provisoriamente uma situação enquanto as bases para conquistar o ideal ético bíblico eram lançadas. (2009, p. 66-70) (grifos do autor).
                  
O texto de Rega admite que Paulo fosse bem ao tolerar a possibilidade da poligamia para os novos cristãos por causa à cultura deles, cogitando para que, no futuro, a monogamia fosse o ideal matrimonial de todos.
Vários autores, quando discorrem da submissão da mulher ao homem, procuram nos textos da criação (Gênesis 1 e 2) a motivo para que seja deste modo para sempre. Nestes textos, existe a ordem de Deus para a monogamia (Gn 2.24). Este continuamente foi o ideal de Deus para o matrimônio. Os homens estabeleceram sociedades onde a poligamia imperava (basta ler o livro de Gênesis). No entanto, apesar de ter dado seu ideal no Éden, Deus tolerou este “desrespeito” ao seu padrão, respeitou as culturas e, ainda por cima, usou para sua revelação homens polígamos, como foi o caso de Abraão, Jacó, Davi e Salomão, entre outros. É de se destacar que o povo eleito de Israel foi formado de um homem chamado Jacó que tinha duas esposas e duas concubinas e, com elas, formou as 12 tribos da nação através da qual Deus se revelaria ao mundo (Gênesis 35.23-26). Na época de Paulo, havia a poligamia como algo natural em algumas sociedades. Paulo trabalhou para mudar esta situação em favor da monogamia (I Coríntios 7.2; Efésios 5.22,24; I Timóteo 3.2), mas sabia que estava “lançando as bases para conquistar o ideal ético bíblico para evangelização”.
 Diferente ponto cultural que gerava conflito com o ensino da Bíblia e a evangelização era a escravidão. Ao passo que a poligamia era exceção no mundo greco-romano e judaico, a escravidão era endêmica, pois “a escravidão era universal e própria da textura da sociedade. Tem-se considerado que, no tempo de Paulo, existiam tantos escravos, quanto homem livre em Roma e a proporção de escravos para homens livres, na Itália, eram de três para um” (LADD, 1985, p. 490). Qual o princípio da Bíblia pressuposto nos textos da criação? A de que todo ser humano é livre porque cada um foi criado à imagem de Deus (Gênesis 1.27). Além disso, a ordem divina é que homem e mulher deveriam dominar a natureza e os demais seres: “enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra” (Gênesis 1.28). Em nem um lugar é dito que eles precisariam dominar outros seres humanos. As sociedades constituídas pelos homens lançaram culturas favoráveis à escravidão. Portanto, a escravidão tornou-se uma maneira cultural do mundo antigo e o era na época de Paulo.
Em I Coríntios 7.21-24, Paulo assim se manifesta com respeito ao assunto.
Foste chamado sendo escravo? Não te dê cuidado; mas se ainda podes tornar-te livre, aproveita a oportunidade. Pois aquele que foi chamado no Senhor, mesmo sendo escravo, é um liberto do Senhor; e assim também o que foi chamado sendo livre escravo é de Cristo. Por preço fostes comprados; não vos façais escravos de homens. Irmãos, cada um fique diante de Deus no estado em que foi chamado.

O chamado ao qual Paulo se refere é a conversão a Jesus Cristo. O que a pessoa era na sociedade, devia permanecer a ser. Embora de sabendo que a liberdade é um valor superior provindo do próprio Deus, Paulo nunca falou contra a escravidão e nunca estimulou os escravos cristãos a se revoltarem. Pelo contrário, lembrando o escravo fugitivo Onésimo se converteu através de sua pregação, Paulo o mandou de volta para o seu senhor (Filemom v. 12). A ordem é: se você se converteu sendo escravo, continue escravo e não se preocupe com isto (v. 21). No entanto, como a livre-arbítrio é uma forma elevado e melhor de vida, ele diz que, se o escravo tem uma chance, legal e cultural, de tornar-se livre, deve valer-se dela (v. 21). Para Paulo, um cristão virar um escravo de homens, era inadmissível, pois já tinha sido comprado por preço (v. 23): careceria continuar livre. No v. 22, Paulo faz a compensação ao escravo cristão que se mantém como tal: “pois aquele que foi chamado no Senhor, mesmo sendo escravo, é um liberto do Senhor; e assim também o que foi chamado sendo livre escravo é de Cristo”. No Senhor, o escravo não é mais escravo, é um homem livre. A sociedade ainda o prende, mas em Cristo tudo é conforme os mais altos princípios de Deus. Mesmo não rompendo, naquele momento, com a escravidão, Paulo lança uma base queria fermentar a Igreja e a sociedade em relação a este fenômeno.
Outra ocasião em que Paulo fala também detidamente sobre o assunto é em sua carta a Filemom. Paulo estava em uma prisão em Roma (v. 9,13). Paulo evangelizou e converteu um escravo fugitivo chamado Onésimo (v. 10). Paulo soube que o senhor de Onésimo era Filemom, outro discípulo que ele havia ganhado para Cristo (v. 19). Escreve uma carta a Filemom para dizer que envia Onésimo de volta, agora como um escravo útil (v. 11). São valiosas as palavras que Paulo usa acerca da forma como Filemom deve receber seu escravo Onésimo
porque bem pode ser que ele se tenha separado de ti por algum tempo, para que o recobrasses para sempre, não já como escravo, antes, mais do que escravo, como irmão amado, particularmente de mim, e quanto mais de ti, tanto na carne como também no Senhor (v. 15,16).

É sensato que Paulo não quis falar contra a escravidão, mas o que Paulo estava cometendo quando manda dizer a um senhor de escravos como deveria tratar um escravo fugitivo “não já como escravo, antes, mais do que escravo, como irmão amado” senão destruir toda a base ideológica cultural da escravidão? No entanto, ao apelar neste sentido a Filemom, o argumento de Paulo é que Onésimo é agora um “irmão amado”, ou esteja todos eles estão “em Cristo”. “A salvação de Jesus trouxe um nivelamento de todas as pessoas como irmãos (a nova era de Cristo), embora eles continuassem a ser senhor e escravo na sociedade (a velha era), pois”
a fé cristã é para ser vivida dentro dos contextos das estruturas sociais existentes, pois elas pertencem à forma deste mundo, que passará (I Cor. 7.31) [...] Não há nenhuma palavra para libertar o escravo. No entanto, dentro do relacionamento da Igreja, tais distinções sociais foram ultrapassadas (I Cor. 12.13; Gál. 3.28), embora não pudessem ser evitadas na sociedade (LADD, 1985, p. 491).

  Para quem lê literalmente o Novo Testamento, Paulo é do benefício da escravidão isso é ele é a favor quer que os escravos permaneçam nesta classe: “foste chamado sendo escravo? Não te dê cuidado” (I Coríntios 7.21); “porque bem pode ser que ele se tenha separado de ti por algum tempo, para que o recobrasses para sempre” (Filemom 15); “vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo” (Efésios 6.5); “vós, servos, obedecei em tudo a vossos senhores segundo a carne” (Colossenses 3.23). Orienta que é um risco de se ler literalmente as Escrituras sem penetrar nos conceitos que ela propaga. Aquele que compreende que Jesus Cristo veio para consagrar o seu Reino (que é uma nova era aonde vive a justiça, o amor, a paz, a misericórdia, a solidariedade, o respeito, a liberdade), e que este se aplica às culturas humanas, entenderá que determinados mandamentos bíblicos estão acoplados a suas épocas e sociedades e carecem ser interpretados de acordo com os princípios maiores do Reino. Ridderbos assim se manifesta sobre o tratamento que Paulo dá à escravidão
por certo, fica aparente aqui que Paulo não pensava na abolição da escravatura como instituição por motivos cristãos. [...] Pode-se observar pelo simples fato de Paulo dirigir-se sucessivamente aos escravos e senhores como membros iguais da igreja e descrever o relacionamento entre eles como sendo de responsabilidade mútua, o quanto esta postura significou uma revolução. De maneira alguma ela podia ser conciliada com a posição do escravo no mundo daquela época e nem dentro do judaísmo. [...] Não se pode negar que, ao mesmo tempo, foi introduzida uma enorme tensão na escravidão como sistema social, mas ainda assim, isso deve ser visto, tanto quantos podem entender, mais como uma consequência do que como um objetivo deliberado das admoestações de Paulo (RIDDERBOS, 2014, p. 348).

A tese da sujeição da mulher nos escritos de Paulo adota a mesma linha do que foi dito acerca da poligamia e da escravidão. Ele acompanha a ideia principal de que os cristãos (a Igreja) vivem em duas eras ao próprio tempo: a nova era inaugurada por Cristo, o seu Reino, e a antiga era dominada pelos resultados da queda no Éden. Em Romanos 5.12-21, ele denomina esta posição entre os que estão “em Cristo” e os que estão “em Adão”. Adão aqui não é apresentado bem como o homem da criação no Éden, mas aquele de quem o pecado entrou no mundo e ocorreu esta condição a todos os homens (v. 12). Estar em Adão é ser pecador e estar debaixo dos efeitos da queda. Estar em Cristo é ser constituído justo por ele (v. 19) e reinar em vida por meio dele (v. 17).
Em primeiro lugar, Paulo coloca o princípio de igualdade das mulheres em semelhança aos homens, decorrente da nova era da salvação. Textos como Gálatas 3.28 e I Coríntios 13, são típicos neste sentido. Da própria forma como Jesus constituiu uma hierarquia de valores botando o amor e o respeito ao próximo em primeiro lugar (Mateus 22.35-40; 7.12), Paulo exibir os valores do Reino de Deus com grande importância para a vivência da Igreja. Ela já vive na salvação de Deus e julga a cultura de acordo com estes padrões. Por conta de também viver na presente era, a Igreja tanto se adaptará à sociedade onde se encontra como também promoverá mudanças dentro dela.
 O rompimento de todas as diferenças sociais em Cristo tem uma intensidade de impacto nesta mesma sociedade. Como já foi dito, os papéis sociais de Gálatas 3.28 permanecem os mesmos, mas sucedeu uma modificação interna, tantas vezes nas pessoas que participam desta fé, quanto no grupo que elas passam a agregar dentro da sociedade, que é a Igreja cristã. A fé em Jesus vai dizer que judeus e gentios são iguais neste Reino que pertence ao Senhor. Vai falar que, em Cristo, todos são livres, mesmo que temporalmente, alguns continuem escravos. Vai falar que, ainda continuem com a sexualidade que a natureza lhes deu, são hoje iguais e não há mais superioridade de uns em relação a outras. Com o aumento da Igreja cristã e sua influência, chegou o momento em que as próprias sociedades humanas se apegariam aos princípios advindos desta doutrina e declararia uma afirmação universal dos direitos humanos, aboliriam a escravatura, instituíram o voto universal e a democracia, aplainariam a mulher ao homem com todos os direitos inerentes, e muito mais. Não é à toa que todas estas conquistas se deram em países de tradição cristã. O princípio de Paulo diz importância à Igreja, mas sem dúvida seria um progresso também para as sociedades por ela com a sua influência. Esta visão de Paulo mudaria as sociedades. A ampla tragédia para o cristianismo é que sua Igreja, na prática, receberia as implicações destes princípios de Paulo depois da sociedade, como foi o caso da escravidão e agora, da igualdade de homens e mulheres.
Em segundo lugar, Paulo respeita as culturas onde os cristãos estão inseridos. A cultura da época paulina é patriarcal. O marido/pai tinha todo o poder dentro da família, pois “as relações familiares eram de dominação pelo chefe da casa e de sujeição por parte da esposa, dos filhos e escravos e isso constituía a célula fundamental da construção do Estado, uma estrutura que se refletia nas classes e no status social” (MATOS, 2004, p. 79). Quando fala em I Coríntios 14 e em I Timóteo 2, acerca das reuniões da igreja, qual não seria a acanhamento, dentro de uma sociedade deste tipo, que as mulheres não trariam para a igreja e seus maridos se começassem a exercer autoridade sobre os homens e tomassem a liderança em todas as reuniões. A igreja seria depressa mal vista por toda a sociedade e isto poderia provocar em perseguição contra ela por parte da sociedade e do Estado. A abertura que Paulo tem em mente é o não dificuldade, por conta de desrespeitos à cultura do lugar, da salvação de todos conforme I Coríntios 10.32-33,
não vos torneis causa de tropeço nem a judeus, nem a gregos, nem a igreja de Deus; assim como também eu em tudo procuro agradar a todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que sejam salvos.

Ao dizer não tornar causa de tropeço diz não afrontar os costumes que a sociedade da época pratica. Como o hábito da submissão da mulher era generalizado em todo o Império Romano, essa era uma regra que precisaria ser seguida. Por esta razão, Paulo não aceitava que a mulher ensinasse na igreja ou exercesse autoridade sobre os homens e dizia que ficassem caladas na igreja. Por este pretexto ainda, ele diz que os bispos precisam ser maridos de uma só mulher e “que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com todo o respeito” (I Timóteo 3.2,4). Na compreensão paulina, a Igreja ainda está nesta velha era, e participa da situação humana decorrente da queda.
 No entanto, todas as ocasiões que Paulo subordina a mulher ao homem por questão cultural, ele equilibra instruindo os princípios da nova era em Cristo. No texto de I Coríntios 11, acerca do véu das mulheres, ele coloca os v. 11,12. Ele principia o v. 11 dizendo: “no Senhor”, a sugerir que antes ficava articulando da questão cultural local, mas atualmente fala da nova era. Sua argumentação é que homens e mulheres não são autônomos e os dois vêm de Deus. Em I Coríntios 14.34,35, as mulheres devem ficar caladas na igreja não podendo ensinar, mas podem profetizar e orar (11.5; 14.29-31). Em I Timóteo 2.9-15, onde a mulher não pode ensinar e nem exercer autoridade sobre homem, ele insere o v. 15 que diz respeito à “salvação” da mulher, ou seja, acerca da nova era em Cristo e que a faz ser protagonista no Reino de Deus. Até mesmo no texto acerca da família (Efésios 5.22-33), onde Paulo advoga abertamente o comando masculino, há compensações às mulheres. Se elas devem submissão aos maridos (v. 22), eles devem amá-las como Cristo amou a Igreja, ou seja, a ponto de se auto sacrificar em favor dela. Os maridos devem ter igual cuidado por elas como os seus próprios corpos (v. 28,29) por qual motivo? “Porque somos membros do seu corpo” (v. 30). Paulo apresenta estas compensações em relação à mulher e diz que a inclusão marido/mulher deve ser diferente daquele que é o costume habitual praticado pela sua sociedade somente porque fazemos parte do Corpo de Cristo, a Igreja. Significa no âmbito da nova era do Senhor que as condutas culturais vão sendo mudados.
  Outra advertência é que Paulo, sempre que não houvesse “pedra de tropeço”, caçava, na prática da vida, combinar homens e mulheres. Em Romanos 16.1, bem como saúda muitos irmãos que estão em Roma, ele fala de várias mulheres que trabalharam tanto quanto os homens no Reino de Deus e algumas em posição de liderança. Temos Febe (v. 1,2) que é diaconisa (grego: diáconos) e patrona, líder (grego: prostatis, v. 2),

Febe é também a única em Romanos 16 a quem a palavra prostatis é empregada. Prostatis é a forma feminina de um substantivo que significa “líder, pessoa que preside que fica à frente, patrono”. Este substantivo provém da raiz verbal proistemi, que significa “governar e cuidar” como vemos em quatro passagens (I Timóteo 3.4,5,12; 5.17) (MICKELSEN, 1996, p. 231-232).

Achamos o casal Priscila e Áquila (v. 3) que ele qualifica de “meus cooperadores” (importante é o acontecimento de Paulo citar a mulher antes do marido, incomum a época). Maria (v. 6) “muito trabalhou por vós”. No v. 12: “saudai a Trifena e a Trifosa, que trabalham no Senhor. Saudai a amada Pérside, que muito trabalhou no Senhor”. No v. 7, ele diz: “saudai a Andrônico e a Júnias, meus parentes e meus companheiros de prisão, os quais são bem prestigiados entre os apóstolos, e que estavam em Cristo antes de mim”. Andrônico e Júnias são chamados de “apóstolos”. Há uma grande discussão se “Júnia” é um nome feminino ou masculino (ver para nome feminino: MICKELSEN, 1996, p. 232-233; SILVA, 2013, p. 139; autores que aparecem incerteza: BRUCE, 1979, p. 219; LOPES, 2015, p. 4). Segundo Silva, “vale ressaltar que 9 mulheres são mencionadas ao lado de 17 homens na lista de saudação de Romanos 16.1-16 volume numérica espantoso para o contexto das relações patriarcais” (2013, p. 139). Richardson (apud MICKELSEN, 1996, p. 233) afirma: “o que esta relação evidencia é que num simples ambiente (Rm 16), numa lista coesa de saudações, as mulheres ganham mais honrarias do que os homens, a despeito do número destes ser superior e a elas se conferem papéis mais importantes!”. Em Filipenses 4.2,3, Paulo cita Evódia e Síntique e diz que “trabalharam comigo no evangelho”. Em I Timóteo 3.8-13 ao falar acerca dos diáconos, Paulo diz no v. 11: “da mesma sorte as mulheres sejam sérias, não maldizentes, temperantes e fiéis em tudo”. As mulheres eram diaconisas na Igreja Primitiva, posição de destaque e liderança, mesmo num mundo patriarcal.


3.3 A ESPERANÇA DA ORDENAÇÃO DA MULHER COMO PASTORA FEMININA

 Assim como se trata designadamente que a mulher possa assumir o pastoreio da igreja nos períodos atuais, a que conclusões encontrarem nos escritos de Paulo? Será provável afastar-se princípios que, aproveitados ao tempo e à cultura atual, acolham o exercício do ministério pastoral feminino? Teólogos discordam acerca desta possibilidade no ensino de Paulo.
Lopes, comentando os textos de Coríntios e Timóteo, manifesta-se contrário, argumentando que,
O princípio por detrás desta ordem (mulheres usarem o véu), conforme vimos acima, é o de apresentarem no culto em plena submissão à liderança masculina cristã. O uso do véu é a forma contextualizada pelo qual esse princípio se expressava. Hoje em dia, nas culturas ocidentais, o uso do véu não é uma expressão apropriada deste princípio. O princípio permanente que está subjacente em 1 Coríntios 11.2-16, 14.34-35 e 1 Tm 2.11,12 é o de que se mantenham as distinções e os papéis intrínsecos ao homem e à mulher na igreja e na família. Assim, a mulher não deve inverter os papéis, e ocupar posição de autoridade sobre os homens, quer seja para governá-los ou para ensiná-los. (2015, p. 20-21) (grifos do autor).

Grudem também se manifesta contrário a essa possibilidade
esses (ensino e exercício de autoridade) eram as funções dos presbíteros da igreja e especialmente dos que conhecemos como pastor na igreja atual. São especificamente estas funções singulares de um presbítero que Paulo proíbe que as mulheres exerçam na igreja (1999, p. 787).
Foi também se prepara contrariamente: “com respeito aos cargos da igreja, as mulheres não podem ser presbíteras (nem pastoras-mestras, nem evangelistas, nem ministras, como às vezes são designadas), porque esses cargos envolvem o ensino e o governo” (1996, p. 122).
 Por outro lado, Mickelsen mostra-se favorável, pois
homens e mulheres cristãos não devem enredar-se e prender-se sob um jugo escravizador. Homens e mulheres devem pregar. Mulheres e homens devem fazer discípulos. Devem ministrar com os dons do Espírito. Cristo libertou homens e mulheres para que sirvam, amem, fortaleçam e apoiem as pessoas e delas cuidem. [...] O ensino de Gênesis, a vida e os ensinos de Jesus, o escopo e dos escritos e da prática de Paulo – tudo isso aponta para a completa dignidade das mulheres que têm sido chamadas e dotadas de talentos pelo próprio Deus, a fim de que sirvam à igreja e ao mundo (1996, p. 250) (grifo do autor).

Liefeld aponta para princípios, tirados dos textos de Paulo, que deixam, hoje em dia, acolher a liderança da mulher na igreja
Paulo tinha um princípio básico que requeria a subordinação temporária dos demais princípios. Em Gálatas, Paulo estabeleceu o princípio de que o crente está “morto” para a lei. A salvação não é obtida mediante fazerem-se as obras da lei do Antigo Testamento. Paulo permanece em sua autoridade de apóstolo. Como vimos, ele também instituiu um princípio relativo ao homem e à mulher em Cristo. Mas em I Coríntios, Paulo diz que ele, o apóstolo da liberdade da lei, está disposto a tornar-se “como sob a lei” a fim de ganhar os que estão sob a lei. O fato de assumir esta notável posição como que para remover as barreiras do evangelho, sem mudar sua posição sobre a salvação, à parte das obras da lei, deveria alertar-nos para a realidade de que ele também pode acomodar as normas sociais dos judeus e outras, concernentes às atividades públicas das mulheres, sem mudar sua posição, que é a da igualdade entre homens e mulheres. Se algumas pessoas do período de Paulo pensavam ser vergonhoso que a mulher falasse em público, ou aparecesse em público sem um véu facial, ou usasse o cabelo solto caindo sobre os ombros, quais são as implicações do fato de que, em nossos dias, e em nossa sociedade, é vergonhoso restringir as mulheres, tirando-lhes a igualdade com os homens, e a total oportunidade de expressão?  (1996, p. 172-173).

Ladd, discutindo a aplicação da ética social de Paulo, conclui
a situação cultural e a estrutura da Igreja são bem diferentes do cristianismo do primeiro século, e o crente moderno não pode aplicar os ensinamentos da Escritura num relacionamento de igual para igual, mas deve buscar a verdade básica que subjaz às formulações particulares em o Novo Testamento (1985, p. 489).
                  
Tempos passaram-se e as culturas e sociedades se se alteraram. O Ocidente sofreu grandes alterações nestes 21 séculos que o separam do Novo Testamento. Nas três questões éticas discutidas, o Ocidente firmou a monogamia, eliminou a escravidão e deu todos direitos às mulheres ao ponto de quaisquer delas virarem chefes de Estado. Com estes progressos sociais foram conquistados justamente pela tradição cristã de suas sociedades. Estes progressos não aconteceram nos países de tradição hinduísta, budista, muçulmana, e de outras religiões. Se quaisquer países destas tradições adotaram estes avanços foi por conta da influência do Ocidente. É neste novo contexto que se deve entender os ensinos de Paulo e de toda a Bíblia acerca do ministério pastoral feminino.
Precisamos entender que nos dias de Paulo o fato de uma mulher falar em público e ensinar na igreja constituía um problema moral que trazia vergonha à igreja e ao Senhor, impedindo as pessoas de virem a Cristo. Mas isto não constitui um problema na maior parte das sociedades de hoje, pelo menos no mundo ocidental. Na verdade, a situação sofreu uma reversão: proibir uma mulher de ter a mesma dignidade e oportunidade na Igreja de que ela desfruta na sociedade constitui uma pedra de tropeço para muitas pessoas. Portanto, ao tentar honestamente fazer a mesma aplicação (o silêncio das mulheres) em vez de seguir o mesmo princípio (evitar a vergonha e a desonra sobre o marido), cometemos hoje o mesmo erro que Paulo procurou evitar, isto é, ofender as sensibilidades morais das pessoas e impedi-las de aceitar o Evangelho (LIEFELD, 1996, p. 170-171).

As restrições bíblicas que barrava a mulher de ser pastora no período do Novo Testamento aboliram com a alteração das tradições das sociedades. As exceções das cartas paulinas eram prendidas a mulher não cursar escolas como eram de tradição aos homens, que somente a eles eram permitidos, ou seja, a mulher não tinha informação igual ao homem, na cultura e na sociedade daquela época. 
 Ainda sendo flexível aos costumes culturais Paulo não quisesse ser pedras de tropeços Paulo, aos costumes culturais de sua época para não “por tropeço” à pregação do evangelho, compreendia que, em Cristo, o novo tempo de Deus havia começado a nova era e então perdera a velha era de Adão. Seus ensinos e sua prática de vida igualaram homens e mulheres no Reino de Deus. Atualmente, quando as práticas culturais foram mudadas e as mulheres assumiram seus direitos igualitários mulheres e homens, caíram por terra às exceções paulinas para o ministério pastoral feminino, mas permanecerão, para sempre, os princípios do Reino de Deus, a nova era de Cristo, pelo qual ele sempre lutou: “não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”. Então nesta nova era de Cristo, apesar de aqui e agora tenha invadido a presente era má, não chegou à consumar-se. Próximo de sua morte, ao escrever sua segunda carta ao pastor Timóteo, ele, portanto se expressa sobre esta consumação e sobre a vivência aqui e agora: “e o Senhor me livrará de toda má obra, e me levará salvo para o seu reino celestial; a quem seja glória para todo o sempre. Amém. Saúda a Priscila e a Áquila e à casa de Onesíforo” (II Timóteo 4.18-19) 

  4  CONSIDERAÇÕES FINAIS:

A inquirição nos escritos e teologia do apóstolo Paulo aborda da probabilidade de ordenação de mulheres ao ministério pastoral feminino abalizou aberturas para desvendar seu pensamento.
Existem três textos relevantes nos escritos paulinos: Gálatas 3.26-29, I Coríntios 11-14 e I Timóteo 2.8-15. No primeiro texto (Gl. 3.26-29), Paulo apregoa um princípio bíblico muito importante que supera a área da soteriologia: “em Cristo Jesus, não há homem nem mulher”. Este é um princípio que, pelo seu valor, conduzirá as demais orientações. Nos outros textos (I Co 11-14 e I Tm 2.8-15), ele abrevia a atuação das mulheres na igreja, em particular na área da direção pastoral. Assim ele o faz com base no que diz respeito à cultura da época que viveu porque era fortemente patriarcal. Mas, mesmo assim nestes textos, ele equilibra a situação subordinada da mulher, faz lembrar acerca dos princípios e posição dos que estão “em Cristo”.
A teologia paulina faz referência de duas eras: a atual que procede da queda de Adão e onde junto estão e a nova era que foi inaugurada por Cristo com sua morte e ressurreição. Esta nova era, que nós chamamos Reino de Deus, escatologicamente invadiu a história e formou um povo: a Igreja, comunidade daqueles que creem em Jesus Cristo. Acontece que a Igreja vive em duas eras ao mesmo tempo e deve concordar estas vivências. Existir na nova era de Cristo significa obter os princípios desta nova vida, que é a de Deus. Viver na era antiga significa discernir, dentro de cada sociedade e cultura, o que é bom e o que é mal. Este discernimento induz a Igreja a ficar conformada com os costumes locais e temporais, mas com o firme desejo de modificá-los sempre de acordo com os princípios superiores da nova era em Cristo. Três costumes da época de Paulo são apresentados: a poligamia, a escravidão e a subordinação da mulher na sociedade e na Igreja. Para cada um desses problemas, Paulo pode conviver, pois são costumes sociais da presente era. Ele faz isto com o firme propósito de não colocar “pedras de tropeço” na Igreja a fim de que o evangelho possa ser pregado sem restrição e mais pessoas sejam salvas. Mas, ao mesmo tempo, sua orientação provocará uma erosão das bases filosóficas e ideológicas que sustentam estes costumes.
Por princípios superiores da teologia paulina levam ao entendimento de que a mudança da cultura da sociedade leva a uma nova postura da Igreja. Se, no primeiro século, era vergonhoso para a mulher falar em público e liderar homens, tal vergonha não existe mais. Pelo contrário, hoje é vergonhoso proibir a mulher de fazer tais coisas. Continuam de pé os princípios paulinos de que não devemos colocar “pedras de tropeço culturais” para que as pessoas venham a Cristo e que nele “não há homem, nem mulher”.
Encontramos mais uma objeção frequente a esta interpretação do Apóstolo Paulo sobre mulheres no ministério é em relação às mulheres que ocupavam posições de liderança na Bíblia, principalmente Miriã, Débora e Hulda no Antigo Testamento. Esta objeção falha em perceber alguns fatores relevantes. Primeira Débora foi à única juíza entre 13 juízes homens. Hulda foi à única profetisa mulher entre dúzias de profetas homens mencionados na Bíblia. Miriã era irmã do profeta de Deus, com a liderança e era por ser irmã de Moisés e Arão. As duas mulheres mais importantes do tempo dos reis foram Atalia e Jezabel – e foram péssimos modelos de boa liderança feminina.
 Seria com embasamento nesta personalidade que vieram a introduzir no Novo Testamento? Mais ainda, porém, a autoridade das mulheres no Antigo Testamento não é relevante para a questão, nenhuma mulher constituiu sacerdotisa em Israel, ainda que as filhas de Jetro e Débora e outras eram pastoras de ovelhas isso não significa que ovelha fosse o povo de Deus, então o sacerdote era o cuidador do povo de Deus e não de animais que não tinham almas nem espirito, Gn 29.9 fala de Rute como pastora de ovelha. O livro de 1 Timóteo e as Epístolas Pastorais apresentam um novo paradigma para a igreja o corpo de Cristo e esse paradigma envolve a forma relevante de autoridade para a igreja, não para a nação de Israel ou de qualquer outra entidade do Antigo Testamento. 
Este TCC trabalhou a visão paulina sobre o argumento ministério pastoral feminino investigar se Paulo deixou alguma abertura ao ministério pastoral feminino. O prolongamento dos estudos deste assunto é de grande relevância e pode adotar dois caminhos: o primeiro é estudar como este assunto é tratado pelos outros escritores da Bíblia, olhando, sobretudo o pensamento e a obra de Jesus. Um segundo caminho é embrenhar-se a pesquisa para saber se, no pensamento paulino e bíblico, há diferença na subordinação da mulher ao marido na família e a subordinação feminina na Igreja e na sociedade nos dias atuais.



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