Tendo suas raízes em Friedrich
Schleiermacher (1764-1834), o teólogo e filósofo alemão, considerado
cristocêntrico e visionário pelos racionalistas e radical pelos ortodoxos, a
teologia do evangelho social sofreu também a influência de outro teólogo alemão,
Albrecht Ritchl (1822-1889), que ressaltou o conteúdo ético-social da
Teologia.Como uma das expressões mais características da teologia liberal
norte-americana, o evangelho social teve como o seu maior intérprete o pastor
batista Walter Rauschembusch (1861-1918), professor no seminário batista de
Rochester, de 1897 até o seu falecimento.
Na América do Sul, esse movimento pode
também ser identificado como a “teologia da libertação”, cujas linhas
ideológicas chegam mesmo ao extremo de propor uma aliança estratégica entre
cristãos revolucionários e marxistas não dogmáticos, no propósito comum de
estabelecerem a “justiça social”, até mesmo por meio de uma revolução.
Embora tenha suas origens em meados do
século passado, a teologia do evangelho social, também conhecida como O
Evangelho do Caminho de Jericó, alcançou maior sucesso nos anos seguintes à
Primeira Guerra Mundial, pelo fato de se atribuir às injustiças sociais as
causas da grande conflagração internacional que ceifou milhões de vidas.
O movimento teve o seu lado positivo,
pois procurou levar a Igreja a empenhar-se em atividades mais amplas em favor
dos menos favorecidos da sorte, e criticou os governos corruptos e os sistemas
ideológicos injustos.
Foi uma resposta nova da ética cristã
em uma nova situação histórica, pois, particularmente nos Estados Unidos, era
grande o número de problemas decorrentes do rápido crescimento industrial.
A consciência cristã, assim desafiada,
converteu-se numa “consciência social”.
Rauschembusch, filho de um
missionário luterano junto aos alemães, quando pastoreava a segunda igreja
batista alemã de Nova York, em 1886, impressionou-se com as deprimentes
condições sociais ali existentes.
Fundou o influente movimento
Fraternidade do Reino, que lançou, em 1889, a revista mensal Pelo Direito,
visando a classe trabalhadora e defendendo um programa social cristão. Seu
livro Cristianismo e a Crise Social, editado em 1907, obteve grande sucesso,
pois foram feitas 17 edições com um total de 50 mil exemplares vendidos.
Identificando o reino de Deus como um
reino neste mundo, o evangelho social assumiu a liderança do neoprotestantismo
entre as duas grandes guerras mundiais, ocupando assim o terreno perdido pelo
liberalismo, cujo otimismo sofreu fragorosa derrota com a guerra de 1914-1918.
Nessa corrente teológica, o propósito
original do cristianismo seria transformar a sociedade no reino de Deus,
baseando-se em João 10.10: “O ladrão não vem senão a roubar, a matar e a
destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.” Isto seria
conseguido através de uma reconstituição das relações humanas.
Assim, o reino de Deus fundado
por Jesus seria teleológico, ou seja, considera-se o mundo como um sistema de
relações entre meios e fins.
A igreja existiria para realizar o
reino, lutando contra o mal e constituindo se em meio de salvação para a
sociedade.
Nessa teologia, o pecado original não
existe. Todos nós participaríamos na culpa da comunidade, sendo a exploração
dos pobres, as favelas, as péssimas condições de trabalho, o trabalho das
crianças, etc., os maiores pecados.
A força motriz para a eliminação do
pecado da comunidade seria o amor pela humanidade. A igreja redime a sociedade
pela educação, pela moralidade.
A salvação tornaria-se, portanto, pelas
obras. O Evangelho Social rejeita o Deus transcendente e prega um Deus
imanente, que se esforça em nossos esforços.
Jesus, nessa teologia, seria um
grande mestre, exemplo inigualável de moral, mas sempre homem e meramente
homem.
Ele é o primus inter pares.Sendo uma
teologia de acomodação e de ajuste às conquistas nos campos da ciência, da
evolução da economia e da política, tem como alvo a transformação das
instituições sociais pelo evangelho, como:família, igreja, escolas, governo,
etc., concluindo que o cristianismo existe para reformar a sociedade.
No Brasil, que passa agora por uma fase
de transformação como a ocorrida nos Estados Unidos um século atrás, o
evangelho social está presente numa tendência de querer comprometer a igreja
com os movimentos sociais rurais ou urbanos, como o Movimento Sem-Terra, os
sindicatos, etc. Eis, a seguir, alguns dos pontos mais salientes dessa corrente
teológica:
a) Ensina que a Igreja deve assumir um
compromisso com os pobres, e que tal compromisso não é uma tarefa a vir depois
de uma revolução, mas que se impõe já, como uma condição de nossa fé na obra de
Jesus.
b) Afirma sua fé nos pobres e nas
possibilidades de eles se organizarem e obterem a libertação da escravidão em
que vivem;
c) Entende que a Igreja tem por missão
denunciar a riqueza geradora de injustiças e protestar contra ela.
Exame crítico:
Uma análise da teologia do evangelho
social, do ponto de vista do ensino bíblico mostra o seguinte:
a) Abandonou o Deus pessoal
b) a doutrina do pecado original
c) todo sentido sobrenatural da vida
cristã.
O problema principal é o pecado
individual e não a desigualdade dos bens deste mundo. Jesus não condenou os ricos
como ricos e nem defendeu os pobres como pobres. . .
As palavras de Jesus: “O meu
reino não é deste mundo” (Jo 18.36) não significam tão-somente que havia uma
distância imensa entre as condições sociais de Jesus e as de Pilatos...
O texto de Mateus 6.33 certamente
não trata de um reino deste mundo;
As duas guerras mundiais provaram
definitivamente que o homem é um pecador nato e sem quaisquer condições de, por
si mesmo, amar o seu próximo,e manter a paz entre si; O amor dirigido a apenas
uma classe torna-se abstrato e não alcança o indivíduo. O comunismo, como regime voltado para
os interesses de uma classe — os proletários —,certamente alimenta o ódio aos
burgueses.
O amor ensinado e exemplificado por
Jesus não pode-se comparar com o de classes, conforme Mateus 5.44;
Nenhuma reforma social é possível sem
que os indivíduos, cada um de per si, experimentem o arrependimento e recebam
de Deus o perdão e o poder para viverem uma nova vida em que “as coisas velhas
já passaram” (2 Co 5.17).
O pecado seria da “sociedade” e não do
indivíduo, razão pela qual no evangelho social não existe arrependimento
pessoal; A redenção seria pela educação e não pela morte vicária de Cristo.
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