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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

JORNALISMO E LITERATURA- POR VERA BRANT

SEABRA, José Augusto. Fernando Pessoa e o texto jornalístico. O Estado de São Paulo, 27/06/1987. caderno Cultura, p. 1-2.

Análise de uma faceta pouco conhecida da multifacetada obra de Fernando Pessoa: sua experiência jornalística. Antes mesmo de participar da fundação da revista Orpheu, em 1915, iniciando o “Movimento Modernista” em Portugal, colaborava com a revista Águia, em 1912. Neste período escreveu, também, para O Jornal e participou ativamente das revistas Portugal Futurista (1917), Atena (1924), Revista de Comércio e Contabilidade (1926) e Presença (1927). Vale lembrar que esta experiência como jornalista se dá num momento de efervescência cultural. Foi com o heterônimo Álvaro de Campos, que o poeta investiu o seu entusiasmo jornalístico:

“Notícias desmentidas nos jornais,

Artigos políticos insinceramente sinceros,

Notícias passez-à-la-caisse, grandes crimes –

Duas colunas deles passando para a segunda página!

O cheiro fresco a tinta da tipografia!

Os cartazes postos há ouço, molhados!

Vients-de-paraître amarelos com tinta branca!

Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,

Como eu vos amos de todas as maneiras,

Com os olhos e com os ouvidos e com o olfato

E com o tato (o que palpar-vos representa para mim!)

E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!

Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!”

Noutra oportunidade, o mesmo Álvaro de Campos evoca os poderes do jornalismo citando o jornal inglês The Times:

“Sentou-se bêbado à mesa e escreveu um fundo

Do times, claro inclassificável, lido,

Supondo (coitado!) que ia ter influência no mundo...

Santo Deus!... e talvez a tenha tido”.

Nestes dois textos o poeta faz “ao mesmo tempo o elogio e a crítica do jornalismo, traçando-lhe as ambições e os limites. As relações entre o jornalismo e a literatura são tratadas num texto em que, dialogicamente, conversa com um jornalista. Assim delineia a tese – de que é pressuposta a antítese – segundo a qual o jornalismo tem a ‘força mental da literatura’, pois literatura é. Com esta reserva (mental ainda): ‘como, porém, o seu fim não é senão ser literatura naquele dia, ou em poucos dias, ou, quando muito, numa breve época ou curta geração, vive perfeitamente conforme os seus fins’”.Fonte pesquisada:Materia transcrita do site Tirodeletra.com

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